BEATAS VICIADAS EM CONFISSÃO

Postado por e arquivado em CANTINHO LITERÁRIO DO EITEL.

De acordo com os mais antigos, a década de 1960 foi a época em que Patos de Minas mais teve beatas, principalmente na Catedral de Santo Antônio, Igreja do Rosário e Capuchinhos. Sabemos que a beata é mulher extremamente dedicada às práticas religiosas, sendo nobres ajudantes de qualquer pároco. Uma das características principais das beatas, pelo menos naqueles idos tempos, na opinião dos mesmos mais antigos, era o ato da confissão. Qualquer situação em que se sentiam pecando, imediatamente corriam para o confessionário. Era de domingo a domingo, infalivelmente.

Foi assim que numa das igrejas o padre responsável já estava se sentindo incomodado com o extremo zelo das mulheres com seus arrependimentos. Melhor dizendo, o padre já estava muito cansado, não tinha sossego para relaxar depois das missas, e até antes. Mas tinha receio de magoá-las e por isso não tocava no assunto. Até que não aguentou mais e resolveu abrir o jogo, depois de encontrar uma fórmula mágica que seria sucesso infalível.

Num domingo – um dos que conhece o caso jura de pés juntos que foi no dia 18 de agosto de 1963 – de sol majestoso, a igreja abarrotada sem a ausência de nenhuma das inúmeras beatas, o padre avisou, solenemente:

– Antes de iniciar a pregação quero passar este pequeno recado às fervorosas seguidoras de Cristo que tanto têm me auxiliado. Não só vocês, queridas devotas, mas todos podem perceber que já não tenho mais a energia de antigamente. Por isso preparei um pequeno roteiro que vai direcionar os dias de confissão para cada uma de vocês. Antes do final da missa este pequeno roteiro será afixado no nosso mural para que não haja confusão com o dia. Portanto, prestem muita atenção.

Ditas estas palavras, o padre rezou a missa. Mas as beatas não escondiam a ansiedade em saber o que determinava o roteiro. Tanto que, quando o padre decretou o amém final, todas correram desembestadas para o mural. Nele estava a escala de confissões para cada dia: domingo, as fofoqueiras; segunda-feira, as que apreciam em demasia uma bebida; terça-feira, as que costumam pular o muro; quarta-feira, as gulosas; quinta-feira, as macumbeiras; sexta-feira, as mentirosas; e sábado, as preguiçosas.

Realmente foi uma fórmula mágica, pois a partir daquele dia em diante absolutamente nenhuma beata se aventurou frequentar o confessionário. Mas elas não abondanaram o ato confessional. Dizem os mais antigos que elas se espalharam até pelas igrejas dos distritos.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann. 

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 10/04/2017 com o título “Jardineira de Pedro Gomes Carneiro”.

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