JERÔNIMO DIAS MACIEL: NOSSO PRIMEIRO PREFEITO

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O Major Jerônimo Dias Maciel foi o 1.º Prefeito de Patos de Minas. Para falar um pouco a respeito desse ilustre cidadão e homem público, o jornal Folha Patense entrevistou sua neta, Maria Elisiária de Souza Bonfim Maciel, e a matéria foi publicada na edição de 19 de maio de 2001, quando a cidade estava prestes a completar 109 anos de idade:

Fale-nos um pouco a respeito das raízes do Major Jerônimo Dias Maciel.

Meu avô, o Major Jerônimo Dias Maciel, nasceu em Bom Despacho do Picão, em 03 de fevereiro de 1831, sendo filho do Capitão Antônio Dias Maciel e Maria da Rosa da Silva Capanema, de famílias tradicionais de Pitangui. Desde cedo mostrou-se uma criança muito inteligente e ainda muito jovem, falava fluentemente o Latim e o Francês, com conhecimentos também de Filosofia. Ficou órfão de pai logo na infância, mas encontrou carinho, amizade e proteção junto ao seu irmão mais velho, o Coronel Antônio Dias Maciel [mesmo nome do pai]. Ambos estabeleceram desde então uma aliança imbatível naquela época. Meu bisavô, o Coronel Antônio Dias Maciel era chefe do Movimento Liberal. Por questões de divergências políticas, o Coronel Antônio Dias Maciel (o Barão de Araguari) migrou-se para Patos em companhia de seu irmão Jerônimo Dias Maciel, de sua esposa (a Baronesa Flaviana) e dois filhos pequenos (Etelvina Maciel e Olegário Dias Maciel, sendo que o menino Olegário com apenas dois anos de idade). Com eles veio uma grande comitiva, com a mesma honradez de seus ancestrais, bandeirantes dos séculos 16 e 17.

Chegando em Patos, o que aconteceu?

Ao chegarem em Patos, o Coronel Antônio Dias Maciel e seu irmão, o Major Jerônimo Dias Maciel, foram se entrosando logo com essa laboriosa e honrada gente patense, se projetando pelas suas iniciativas e pela sua competência. Reacendeu neles a chama da política e o Major Jerônimo acabou se elegendo vereador como representante de Patos na Câmara Municipal de Patrocínio, sendo que nunca faltou a uma única sessão, percorrendo a distância entre Patos e Patrocínio no lombo de cavalo, acompanhado por escravos de sua confiança e grande comitiva de ajudantes. Por sua vasta cultura, seriedade e compromisso com sua terra e seu povo, sobressaiu-se muito na Câmara de Patrocínio, sempre defendendo nossos interesses. Major Jerônimo, segundo relatam documentos históricos, foi um vereador que se projetou naquela oportunidade, devido aos seus conhecimentos do Direito e à sua facilidade de interpretar e aplicar as leis.

Os irmãos Maciel encontraram resistência das famílias que aqui já estavam estabelecidas?

Resistência propriamente dita, não, mas os primeiros pleitos eleitorais foram marcados por disputas entre famílias que aqui residiam, entre as quais, a família Santana, liderada pelo Capitão Joaquim José de Santana e a família Maciel. Os Maciéis venceram, mas após a disputa, essas famílias acabaram tendo uma relação de compadrio, foram correligionários fiéis e muito amigos.

Qual foi o papel do Major Jerônimo Dias Maciel na emancipação política de Patos de Minas?

Ele teve um papel importantíssimo. Na condição de vereador representante desta terra junto à Câmara Municipal de Patrocínio, ele muito lutou, com inteligência, com bravura, com tenacidade em defesa da emancipação política de Patos, o que acabou conseguindo, com a criação do município de Patos, através da Lei n.º 1291, de 30 de outubro de 1866¹.

Criado o município de Patos, o que aconteceu?

A história registra que a instalação do novo município aconteceu em 29 de fevereiro de 1868, quase dois anos depois de sua criação², pois Patrocínio lutou para não perder um Distrito tão rico como Patos³. No dia da instalação, tomaram posse os primeiros vereadores4. Ao lado deles, outros baluartes também lutaram e muito pela emancipação política de Patos5. Foi aí que meu avô, o Major Jerônimo Dias Maciel, por ter sido o vereador mais votado, assumiu a Presidência da Câmara Municipal de Patos, acumulando a cargo de Agente Executivo tornando-se assim, o 1.º Prefeito de nossa cidade.

A partir de então, o Major Jerônimo deu prosseguimento à sua carreira política?

Sim. Entre 1868 e 1873, meu avô exerceu com segurança, seriedade e criatividade a Presidência da Câmara e as funções de Agente Executivo. Voltou entre 1885 e 1891. Várias Posturas Municipais redigidas por ele, com competência e visão administrativa, acabaram inclusive sendo aproveitadas na Administração de Ouro Preto, então Capital de Minas. De novo foi eleito Presidente da Câmara em 1896, foi reelegendo-se sucessivamente, conservando-se no cargo até sua morte, em 03 de agosto de 1906.

Além de Agente Executivo, que equivalia ao cargo de Prefeito, Presidente da Câmara, o Major Jerônimo exerceu outras atividades?

Sim. Meu avô, segundo registros da própria história, era um homem de vasta cultura para sua época. Ele desempenhou funções de Juiz de Paz, Inspetor Municipal de Ensino, Delegado de Polícia, Coletor de Rendas Gerais e Municipais, sendo que em 1895 dirigiu e arrecadou inclusive as rendas de Carmo do Paranaíba e Paracatu. O Major Jerônimo Dias Maciel foi Juiz Municipal no Regime Monárquico e no Republicano. Abriu Botica (Farmácia), além de ser fazendeiro e criador de gado de procedência portuguesa e holandesa. Era um homem dinâmico e atuante.

De onde veio o título de Major?

Meu avô era da Guarda Nacional, possuindo a Carta Patente de Major Ajudante de Ordens e Secretário Geral do Comando Superior da Guarda Nacional. Carta Patente esta selada com o Selo do Império, dada no Palácio do Rio de Janeiro em 09 de junho de 1881, assinada pelo próprio Imperador D. Pedro II.

O Major Jerônimo casou-se em Patos com quem?

Casou-se com sua sobrinha Etelvina Maciel (Dona Inhá) que era filha de seu irmão mais velho, o Coronel Antônio Dias Maciel, o Barão de Araguari. Isso era comum naquela época, principalmente entre famílias tradicionais. Dona Inhá, minha avó, era irmã do Presidente Olegário Dias Maciel, que governou Minas Gerais e foi um grande Governante, realizando obras importantíssimas em todo o Estado, inclusive aqui em Patos, como Hospital Regional, Escola Marcolino de Barros, o Fórum e a Escola Normal. Do casamento entre meu avô Major Jerônimo com minha avó Etelvina Maciel (Dona Inhá) nasceram 13 filhos, entre os quais, o meu pai Ataualpa Dias Maciel (trigêmeo, com meus tios Ataliba e Ataulfo), os três últimos filhos do casal. Meu pai, Ataualpa Maciel, prestou também relevantes serviços políticos e administrativos a Patos de Minas. Entre seus filhos, netos e bisnetos, sobrinhos, primos, quase todos tiveram projeção nacional e até internacional. Desta árvore genealógica surgiram destaques nas ciências, nas artes, na política, banqueiros, literatos, magistrados, diplomatas, todos eles divulgando positivamente Patos de Minas. Em rápidas pinceladas citaria entre eles, meu primo, Georges Álvares Maciel, que foi embaixador em vários países, chegando a representar o Brasil na ONU, presidindo a histórica sessão que condenou o Apartheid na África do Sul, sendo bastante elogiado pela imprensa mundial pela sua conduta séria, competente, equilibrada e firme naquela oportunidade; Jerônimo Dias Maciel Neto, que foi Presidente da Casa da Moeda; Antônio Dias Maciel, que foi cientista de destaque na Europa; Ademar Ferreira da Silva Maciel, que aposentou-se no cargo honroso de Ministro do Superior Tribunal de Justiça. Entre os mais novos descendentes do Major Jerônimo Dias Maciel, citaria por exemplo a Professora Doutora Maria Esther Maciel, que é professora da Universidade Federal de Minas Gerais, escritora, poetisa, com Pós-Doutorado em Londres em Literatura e Cinema. Minha filha, a Doutora Nadya Maciel Bontempo, médica pela UFMG, que em dezembro último tornou-se Mestra em Medicina pela mesma Universidade; Doutora Kátia Maciel, psicóloga conceituada em Belo Horizonte, e o meu filho Ataualpa Maciel Sampaio, também psicólogo e psicoterapeuta, que hoje presta serviços na rede pública municipal de saúde em Patos de Minas. Ainda cabe citar entre outros talentos originados da árvore genealógica do Major Jerônimo, o seu trineto, Doutor Gláucio Maciel Gonçalves, Mestre em Direito, com tese de doutorando em andamento, ocupando hoje o cargo de Juiz federal, sendo um dos mais jovens ocupantes dessa importante função jurídica no país. Como se vê, uma árvore genealógica rica e que alcança vários setores da vida brasileira.

Existe uma curiosidade nesta árvore genealógica do Major Jerônimo, que merece ser registrada. Apesar de ter nascido em 1831, portanto há 180 anos, o Major tem ainda um bisneto de apenas 10 anos…?

Pois, veja só. É mesmo muito curioso e singular, que o meu avô, tendo nascido em 1831 e falecido em 1906, ainda tenha um bisneto com apenas 10 anos, Otávio Souza e Rocha Dias Maciel, meu filho mais novo, fruto do meu casamento com o jornalista Antônio Laércio Rocha6.

Como você se sente, como neta do Major Jerônimo Dias Maciel, essa figura tão ilustre da história de Patos de Minas?

Sinto-me orgulhosa, até mesmo privilegiada, pois afinal, meu avô tinha um brilho próprio muito grande, era um personagem de destaque para sua época, atuou com dedicação, seriedade e firmeza em defesa de Patos e de sua gente. Por isso, seu lustro não se apagará e se perpetuará na história de Patos e região. Quanto à minha família, a Maciel, ela é de origem francesa. É uma família muito antiga também em Portugal. Como diz o brasão da família: Gonçalo Anes Maciel, foi o senhor da Freguesia de Darque, Concelho de Viana do Castelo, Alcaide-Mor da Vila Nova de Cerveira. Ajudou Dom Afonso Henriques na conquista do Reino aos Mouros. Por tanta honra e Fidalguia, além de sua lealdade ao Rei, tornou-se Par do Reino e lhe foi concedido o Brasão de Armas. No Brasil estamos desde 1532. O Major Jerônimo é um exemplo dessa tenacidade e dessa força que veio ao longo da história com a família Maciel. Então, como não me sentir orgulhosa de ser sua neta?

* 1: Leia “Lei que Eleva o Arraial à Categoria de Vila”.

* 2: Leia “Instalação da Vila: A Emancipação”.

* 3: Não foi bem assim. Leia “Patrocínio Apoia a Emancipação Patense”.

* 4: Leia “1.ª Câmara Municipal – 29/02/1868 a 23/05/1870”.

* 5: Leia “Rebelião Contra a Vila de Araxá na Década de 1830”, “A Revolta de Formiguinha” e “Antônio José dos Santos e Formiguinha: O Patriarca da Emancipação”.

* 6: Antônio Laércio Rocha faleceu em 18/06/2017.

* Fonte: Texto publicado com o título “Major Jerônimo Dias Maciel: 1.º Prefeito de Patos de Minas” e subtítulo “Neta do ilustre homem público fala sobre sua trajetória em Patos” na edição de 19 de maio de 2001 do jornal Folha Patense.

* Foto: Do livro Domínios de Pecuários e Enxadachins, de Geraldo Fonseca.

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