DISTOCIA FELINA

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Um parto difícil é tecnicamente denominado distocia. Pode ser provocada por fatores maternos, fatores fetais ou contrações uterinas ineficazes. As causas maternas de extrema importância são a raça e a idade; mas também podem ser obesidade, estreitamento do canal do parto em decorrência de fratura antiga ou outra anormalidade, dilatação cervical insuficiente, distúrbios da contração uterina (primários e por exaustão), torção uterina, ruptura uterina e gestação ectópica (fora do útero). Há relatos referindo a inércia uterina como a causa mais comum em felinos. Os compostos progestacionais, que têm por finalidade evitar gestações indesejáveis atuando como métodos contraceptivos, como o Acetato de Medroxiprogesterona, podem resultar nas gatas, quando utilizados inadequadamente, em aumento de peso, aumento da glicemia, hiperplasia ou neoplasia mamária, piometra, diabete melito, supressão adrenal e parto complicado por insuficiente relaxamento da cérvix.

As causas fetais podem ser tamanho excessivo do feto (frequentemente observado em ninhadas de um ou dois filhotes), tamanho excessivo da cabeça do feto (frequentemente observado em raças braquicefálicas, que são aquelas de focinho chato), morte fetal, anormalidades morfológicas fetais, má posição fetal e pressão abdominal ineficaz decorrente de exaustão, hérnia diafragmática, dor de outra origem, etc.

O tamanho da ninhada não é um fator de risco para causar distocia em felinos. Ela ocorre em todas as fêmeas domésticas e a incidência em felinos é menor que em caninos. Em gatas, uma incidência maior de distocia é vista nas raças exóticas quando comparadas a gatos sem raça definida. Em um estudo realizado com gatas de raça pura, observou-se que a distocia ocorreu em 5,8% de 3.000 ninhadas, 0,4% das ninhadas de uma colônia de gatos mestiços e em 18,2% das ninhadas de gatos Devon Rex.

A forma da cabeça dos gatos de raça influencia a incidência de distocia. Raças dolicocefálicas (cabeça longa e estreita com a testa muito inclinada e focinho longo) e braquicefálicas (focinho achatado) têm uma maior incidência de distocia que raças mesocefálicas (meio termo entre os outros dois tipos, cabeça média com comprimento moderado e a largura sensivelmente maior que a dos dolicocéfalos, focinho de comprimento igual ao do crânio ou ligeiramente inferior).

Alguns sinais clínicos e alterações na fisiologia da gestação de gatas sugerem a distocia, como: episódios prévios de distocia no animal; trauma especialmente na região pélvica; doença concomitante ou recente; contração muscular ou tremores; mais de 20 minutos de trabalho de parto intenso ou trabalho de parto fraco sem nascimento de filhote; separação da placenta (secreção vaginal verde-escura) sem sinais de trabalho de parto; secreção vaginal anormal (purulenta, odor fétido); evidências de morte fetal; 10 minutos de trabalho de parto intenso com um filhote no canal do parto; depressão aguda (comumente associada ruptura de uterina) com fraqueza ou febre em vez de contrações; sangramento vaginal recente com duração superior a 10 minutos; déficit no número de placentas em relação ao número de filhotes nascidos e período de gestação maior que 68 a 70 dias.

O exame físico completo é essencial para diagnosticar os problemas concomitantes ou colaboradores da distocia, como, por exemplo: hipoglicemia, hipocalcemia, desidratação e febre; realizar palpação abdominal cuidadosa para confirmar a existência de fetos também é de grande importância. Exame vaginal digital detalhado e meticuloso que identifica a ocupação do canal vaginal pelo feto revela anormalidades do canal pélvico ou do fórnix vaginal materno. A partir dos exames de radiografia e ultrassonografia, torna-se possível determinar o número, o desenvolvimento, o tamanho e o posicionamento dos fetos; presença de gás ao redor do feto, o qual sugere decomposição e possível infecção; batimentos cardíacos fetais indicam viabilidade. Exames de bioquímica sérica e eletrólitos podem ser indicados em casos que haja suspeita de hipocalcemia ou se planejar cesariana (LYMAN, 2003; PRATS, 2005).

Como protocolo terapêutico é indicado ocitocina na dose de 2 a 5 UI por via intramuscular a cada 20 a 30 minutos, com intuito de estimular a contração uterina. As doses adicionais não são recomendadas. O gluconato de cálcio, quando combinado com a ocitocina, na dose de 1 a 2 ml de solução a 10%, por via intravenosa lenta, pode ser mais eficaz do que a utilização da ocitocina isoladamente. Não se recomenda o emprego de instrumentos para auxiliar a retirada dos fetos em função do tamanho pequeno do fórnix vaginal das gatas. Qualquer falha de expulsão do feto dentro de 25 a 30 minutos, inércia uterina não responsiva a ocitocina, obstrução pélvica ou vaginal, mal posicionamento fetal não passível de correção, tamanho fetal exagerado, estresse fetal e morte intrauterina indicam a necessidade de realizar a cesariana, que pode ser um procedimento salva-vidas tanto para a mãe quanto para os filhotes. Logo, é indicada em casos de riscos ou em situações que dificultem o parto normal. Gata com depressão grave é imprescindível restabelecer o equilíbrio hídrico e eletrolítico antes da indução da anestesia.

A detecção precoce e a classificação apropriada de uma possível distocia são de grande importância para prevenir futuras complicações para a mãe e seus conceptos. Das intercorrências geradas no parto, origina-se a maior porcentagem de mortes em neonatos. O prognóstico é excelente para mães e filhotes, desde que a intervenção médica ocorra rapidamente.

* Fonte: Distocia em Gata – Relato de Caso, de Francisco Pizzolato Montanha, docente do curso de Medicina Veterinária da FAMED/ACEG – Garça – SP e Carmen Silvia de Souza Corrêa, discente do curso de Medicina Veterinária da FAMED/ACEG – Garça – SP, publicado na Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária (julho/2012).

* Foto: Meusanimais.com.br.

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