SOFRIDO CARGO DE PREFEITO: INGRATIDÃO POPULAR NA DÉCADA DE 1950

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TEXTO: EDITH GOMES DE DEUS MELO (1958)

Graças a Deus o movimento político nesta cidade está praticamente terminado. E eu, presenciando essa batalha, onde o mais forte quer vencer, todas as intrigas surgidas, êsses boletins ferinos, eu me apiedo dos candidatos a qualquer pôsto, principalmente dos candidatos a Prefeito. Apiedo-me dêles e pergunto como podem desejar a direção de uma Prefeitura como a de Patos de Minas, cidade bela, sim, mas onde o povo não colabora com a administração.

Quando penso na vida tranquila do Sr. Binga¹, sentado na cadeira do alpendre de sua casa, com a piteira na bôca, olhando os que passam, eu tenho dó. Porque, se ganhar nesta eleição perderá tudo isso. E, em troca de que? Da ingratidão do povo.

Quando penso naquela vidinha bôa do Sr. Caixeta², passando sossegadamente, em seu Chevrolet 47, rumo à sua tão pitoresca chacrinha (isso, tôda manhã), eu tenho dó. Porque, se fôr eleito, tudo isso perderá. E em troca de que? Da ingratidão do povo.

Até o presente instante não quiz exteriorizar meu pensamento a respeito da Política. Hoje sua significação está por demais deturpada e, mais e mais me desilude. Mas, resolvi deixar de lado essa, digamos, indiferença, escrevendo essa crônica.

O caso é que será feliz o candidato que perder essa eleição. Assim penso e sei que, muitos desejarão apedrejar-me por tamanha franqueza. Que me importa? Digo feliz porque haja visto a administração Genésio Garcia. Homem que tudo fez para melhorar nossa terra. Que muito lutou pelo confôrto dos pobres, interessando-se pela Assistência Social. Que tudo fêz para combater o elevado índice de analfabetização em Patos de Minas. Homem que, abandonou a tranquilidade e confôrto de seu lar pela dureza, pela árdua tarefa de dirigir uma Prefeitura e enfrentar um povo. E, êsse povo, como agradeceu seus esforços? Elogiando-o não foi. Ao contrário, foram injustos não querendo reconhecer seus esforços e os frutos de sua administração, suas realizações que aí estão a ôlho nú para todos os que desejarem ver, não com os olhos do despeito, mas com os olhos da justiça, da sinceridade. Mas o povo prefere ser cego. Cego e tão ingrato que, de ninguém, nem mesmo dos correligionários do Sr. Genésio Garcia, surge a idéia de deixar seu nome em um de seus feitos. Não, ninguém quer jamais perder seu tempo imortalizando o próximo. O povo possui mais esta qualidade: egoísmo.

Ingratidão, eis aí o que lhe espera, candidato vencedor.

Seu nome? Será lembrado e invocado durante sua campanha, onde o dinheiro corre, onde sua bondade é explorada. Depois… será esquecido.

Seus amigos? Serão fiéis sómente durante o movimento pré-eleitoral porque estão sendo beneficiados. Depois… exigirão de você sacrifícios imensos, favores impossíveis. Será escravo!

E mesmo assim todos lutam por essa causa nobre, sim, se fôsse bem compreendida pelo Povo.

Deus permita que tudo seja diferente de agora por diante. Deus permita que o povo faça um pacto com o futuro Prefeito, ajudando-o na Administração e não censurando seus feitos ou exigindo em demasia.

Deus permita que o Homem reconheça que o Prefeito não age por sua livre vontade, que, uma idéia sua só será realidade mediante o consentimento da Câmara, e assim, reconhecendo não exija e nem espere milagre algum.

* 1, 2: Sebastião Alves do Nascimento, o Binga, e Antônio da Silva Caixeta se enfrentaram como candidatos a Prefeito na eleição realizada em 03 de outubro de 1958. Venceu o Binga e seu vice Vicente Pereira Guimarães. O vice de Antônio foi Pedro Pereira dos Santos.

* Fonte: Texto publicado com o título “Tudo é Ilusão” na edição de 30 de setembro de 1958 do Jornal dos Municípios, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Centropazeamor.com.br.

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