VIOLÊNCIA E CÃES DE RUA EM 1908

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De acordo com o Gênesis, Deus criou o homem e a mulher à sua imagem e semelhança. Foram postos num paraíso onde pudessem viver das benesses da Natureza, com uma proibição que os cristãos conhecem muito bem. Infelizmente, as criaturas perfeitas não deram ouvidos e lá se foi o casal expulso do Éden. E não demorou muito, um irmão matou o outro por inveja, o primeiro ato de violência. De lá para cá, os atos de violência das criaturas perfeitas, se ajuntados num livro, este teria bilhões, trilhões de páginas sem fim, tantas foram e tantas atrocidades ainda virão produzidas pelas criaturas perfeitas. Numa dessas páginas, com certeza está esta nota publicada na edição de 17 de maio de 1908 do nosso primeiro jornal, O Trabalho:

O policiamento da cidade sempre foi deficiente; porém, nunca chegou ao ponto de agora. Quasi todas as noites, ouvem-se tiros disparados a êsmo em qualquer ponto da cidade – a bel-prazer de vagabundos aquecidos pelo alcool promovendo desordens de toda especie. Estes individuos deveriam ser chamados a correção pela auctoridade a bem da tranquilidade publica, e esta, por sua vez deveria executar, sem perda de tempo, a apprehensão de armas dos perturbadores, bom meio ha tempo abandonado, para maior garantia da paz e da ordem. A bôa sociedade, estamos certos, será a primeira em auxiliar á auctoridade, dando por si o exemplo do desarmamento para que a auctoridade cohibindo os desordeiros de seus elementos perturbadores, fique isenta dos perigos de que sempre é ameaçada especialmente á noite. Com o insignificantissimo numero do destacamento policial, é este o único meio de diminuir e, se houver energia, de acabar com este estado anômalissimo na cidade.

Sobre os cães, os entendidos historicamente no assunto afirmam que mil anos antes da chegada do falso descobridor do Brasil, Pedro Álvares Cabral, os índios já conviviam com eles, nas mesmas condições de afinidades mútuas como é hoje. Só não há informações oficiais da quantidade de cães sem dono perambulando pelas matas. Com a apropriação indébita dos portugueses, e os índios sem nenhum posto policial para registrar o roubo, as povoações lusas foram se desenvolvendo, os donos da terra sendo dizimados e uma cambada enorme de cães se tornando forasteiros, viventes ao bel-prazer que aprouver. A foto é uma representação dupla da eterna violência das criaturas perfeitas e da triste realidade daqueles tempos: morte aos cães perambulantes, a canxoada, como bem caracteriza esta nota publicada na edição de 17 de maio de 1908 do jornal O Trabalho:

Agua molle em pedra dura tanto dá até que fura… e é por isso que voltamos a clamar contra a enormissima quantidade de cães vadios que infestam as ruas da cidade. Sr. Fiscal, mais um pouco de bôa vontade, escecute a lei que manda extinguir a canxoada, e terá prestado relevantissimo serviço aos habitantes desta cidade. Appellamos para a bôa vontade do Sr. Presidente da Camara¹ e esperamos…

* 1: Olegário Dias Maciel. Na época, o Presidente da Câmara Municipal era o correspondente Prefeito de hoje.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Fonte do jornal O Trabalho: Arquivo de Altamir Fernandes.

* Foto: Ogritodobicho.com.

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