DEIXAREI SAUDADE – 41

Postado por e arquivado em 2017, DÉCADA DE 2010, FOTOS.

Os mais antigos se lembram de outras iguais a mim na Rua Dr. Marcolino. Hoje, sou a última delas, entre a Avenida Brasil e a Rua Marechal Floriano. Bons tempos aqueles em que quase não se ouvia barulho de carros e muito menos o urro ensurdecedor dessas motos nojentas. Aliás, no meu tempo de juventude, o que tinha era lambreta, carroça e muita, muita bicicleta. Hoje, durma-se com essa zoeira motorizada! Logo ali na esquina, funcionava a mercearia e depois a máquina de arroz do Pacífico Soares¹, braço direito do Amadeu Dias Maciel². O Pacífico foi um dos homens mais progressistas que Patos de Minas teve. Naquela outra esquina, funcionou o Bar Brasil, frequentado só por gente boa. Quer dizer, nem tanto, tinha também uns malas que eu vou te contar! Êta tempo bom, que me alegra, mas ao mesmo tempo me entristece, principalmente depois que apareceu a placa vende-se na minha parede. Mas depois ela sumiu. O que terá acontecido? A dor que me corrói é ver os prédios devorando as minhas irmãs. Olha só esse atrás de mim com aquele chapéu ridículo. É assim, o progresso é inexorável, vai chegando aos poucos e enterrando o passado. Os descendentes das famílias antigas não querem nem saber: é passar os bens nos cobres e fim de papo, a especulação imobiliária que cuide depois. E assim tenho acompanhado as transformações à minha volta. Quanto às almas que me habitam atualmente, sei que elas vão pelo mesmo caminho, com vantagens para elas e desgraça para mim. É a vida de qualquer imóvel antigo. É a sina esquisita de que o antigo, obrigatoriamente, tem que ceder lugar ao novo. Não tenho saída. Aliás, tenho: esperar o meu fim. Quando virá, não sei, mas indubitavelmente ele virá. E a única certeza que marcará a minha presença neste pedaço de chão é que, desde o primeiro tijolo assentado, passei a pertencer à História de Patos de Minas. E deixarei saudade!

* 1: Leia “Pacífico Soares: Negócios de 1922 a 1983” e “Pacífico Soares, um Progressista”.

* 2: Leia “Amadeu Dias Maciel”, “Amadeu e Sua Usina de Eletricidade” e “Palacete Amadeu Dias Maciel”.

* Texto e foto (31/12/2017): Eitel Teixeira Dannemann.

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