VALDIVINO TELES (NHÔ TELES)

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Valdivino Teles nasceu no dia 2 de janeiro de 1940, no mesmo ano de fundação da Rádio Clube¹, na localidade de Fazenda da Onça, município de Patos de Minas. Entrou e saiu da Emissora em quatro oportunidades. Sua primeira vez ao microfone da “Líder” foi em 1953, como aprendiz de sonoplastia, nos programas do Padre Tomaz Oliviéri. A rádio Clube funcionava nos fundos do Bar Tabu, na Rua Major Gote, defronte a Cine Tupã.

Aprendeu a função de operador, deixou de ser aprendiz e foi efetivado, ficando até 1955. Estava de volta três anos depois, convidado por Patrício Filho. Apresentou inúmeros programas, de todos os gêneros, porém o seu forte eram os programas sertanejos. O “Festa na roça” era um deles. O programa tinha uma boa audiência, com música de primeira qualidade e o recado para a cidade e a zona rural. Os avisos eram incontáveis. Era uma fonte de renda importante. Na ausência da internet ou do telefone celular, e mesmo da telefonia fixa na zona rural, o meio de comunicação era o Rádio, a Rádio Clube de Patos. Fazia-se fila na portaria da Rádio Clube, principalmente entre 6h e 7h da manhã. Eram pessoas ditando os seus avisos para serem lidos na programação.

Valdivino Teles apresentou ainda o tradicional “Roda de violeiros”, programa de auditório, abrindo as portas para novos valores musicais e para os nomes consagrados da época. Foram muitas duplas e trios sertanejos que surgiram no auditório da Clube.

Certa vez, em 1959, quando realizou o “Show dos papagaios”, numa promoção da Casa Natal, entre 8h e 9h da manhã, foi lançada uma promoção: O dono do papagaio (ou cravo) que falasse “Rádio Clube” ou “Casa Natal” ganharia o equivalente a 500 reais (hoje). E foi preciso interditar o trânsito porque foi um grande acontecimento na época.

Teles se mostrava um verdadeiro artista em suas apresentações. Ele se multiplicava em dois, três e até quatro personagens. Eram os tipos criados por ele:

O Valdivino: pessoa do dia a dia, um artista popular com o seu jeito simples e a alegria de um contador de piadas.
O Teles da Silva: locutor do auditório, dos programas musicais de estúdio.
O Nhô Teles: personagem das apresentações nos sertanejos, um falar caipira repudiado pelos professores de português, porém com um tom característico do linguajar rural daquela época. Era o “larilarái”, termo criado por ele. É como se fosse o “patati-patatá” do Patrício ou o “lex trex, tchéuris pakas”, do Gegê. Às vezes as pessoas se referiam a ele na rua como o “Larilarái”.
Finalmente, o Teles da Silva: cantor, formando duplas e trios que fizeram sucesso, com os Jaçanãs na música “Alô, Patrício”, uma criação do Valdivino.

Um dia, o Nhô Teles resolveu deixar Patos de Minas por uns tempos e foi trabalhar na Rádio Inconfidência de Belo Horizonte. Ele contou com uma ajuda substancial de Fausto Santana, que trabalhava na emissora da capital e que havia sido locutor da Clube de Patos. A Rádio Inconfidência, naquela época, ao lado da Rádio Guarani, eram as grandes emissoras de Minas Gerais e com suas ondas médias e curtas, alcançavam a capital, o interior mineiro e grande parte do Brasil. O sonho de todos os locutores, que queriam seguir carreira, era o de trabalhar na Guarani ou na Inconfidência, o “Gigante do ar”.

A permanência de Teles da Silva em Belo Horizonte foi muito curta, durante apenas cinco meses. Resolvera tentar a vida em São Paulo, o maior centro radiofônico deste país. E lá estava ele na Rádio Panamericana, hoje Jovem Pan. Valdivino conta que em São Paulo recebeu o maior elogio de sua carreira, na época como narrador esportivo, do comentarista da Rádio Bandeirantes, Mauro Pinheiro.

Depois disso, Teles da Silva retornou a Patos de Minas para trabalhar na Rádio Princesa, que era de propriedade de Rui de Paula Medeiros e atuava na área esportiva. Fazia comentários contundentes e falava a língua do torcedor, tendo conseguido boa audiência.

Atuou ainda em emissoras de Santa Catarina, principalmente em Chapecó e no Paraná, na famosa Rádio Clube Paranaense, a “B-2”. Conta-se que, trabalhando na Rádio Clube Paranaense, numa partida de futebol em Curitiba, Teles criticou veementemente a torcida do Toledo, da cidade do mesmo nome. Aquilo teve uma repercussão fenomenal. No jogo de volta, em Toledo, foi um deus nos acuda. A diretoria do clube local não permitiu que ele entrasse no estádio para transmitir a partida. O jeito foi realizar a transmissão do lado de fora, subindo em um poste. Segundo o Valdivino, o difícil não foi transmitir a partida, mas passar os textos comerciais que estavam na pastinha. Se é caso ou causo, o Valdivino nos confirmou que tudo isso aconteceu de fato. Está escrito, por ele mesmo.

O Valdivino Teles sofreu um AVC e perdeu a voz, o seu instrumento de trabalho por muitos anos. No início, ele encontrava dificuldade até para se locomover. Hoje, caminha com dificuldades, não tem problema algum de memória, está lúcido, porém sem voz, que o projetou para o Rádio brasileiro. De vez em quando ele aparece na Rádio e para se comunicar se utiliza da escrita. A sua esperança é realizar uma cirurgia em São Paulo, por sinal delicadíssima, mas que pode devolver a ele o grande presente de Deus, a voz. Bola pra frente, você vai conseguir. Estamos rezando a Deus para que tudo dê certo!

O Teles também participou de várias campanhas políticas como animador de palanque, sendo sua primeira atuação na campanha do saudoso Binga, em 1959, para a Prefeitura de Patos de Minas.

NOTA 1: Adamar Gomes informou que, infelizmente, o Valdivino Teles não fez a cirurgia, e que o ajuda mensalmente na aquisição de remédios.

NOTA 2: Em 18 de maio de 2015, o jornal eletrônico Patos Já informou: O Sindicato dos Produtores Rurais e a Fundação Casa da Cultura do Milho fizeram homenagens aos baluartes da musica caipira de Patos de Minas. Ao todo foram 40 homenageados. Alguns nomes bastante conhecidos como Tião Vigário, Zé tropeiro e Vilar, a família de seu Chiquito já falecido representado pelos filhos entre outros nomes. O cantor e radialista Nhô Teles, mesmo debilitado e sem voz, compareceu a homenagem. Na década de 1960 e 70 ele cantava com o grupo Os Jaçanãs e trabalhou em diversas rádios.

* 1: Na realidade, a Rádio Clube de Patos foi fundada em 1941. Leia “Inauguração da Rádio Clube de Patos – Revisão da Data” e “Baile de Inauguração da Rádio Clube de Patos”.

* Fonte e foto: Rádio Clube – Setenta Anos e Suas Histórias (2010), de Adamar Gomes.

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