NHÔ TIM, SINHÁ LOISITA E O CARTAZ

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No Pátio Central Shopping tem um boteco perto da livraria que incentiva, através de um cartaz, as mulheres a deixarem seus respectivos parceiros no local enquanto elas fazem compras ou sabe-se lá mais o que. Dia desses, num sábado à noite de muito movimento, lá estavam passeando o Nhô Tim e sua serelepe – no bom sentido, esperta – patroa Sinhá Loisita. Nascidos e criados em Lanhosos, os dois tinham por hábito fazer compras no supermercado do centro comercial. Era nessa oportunidade que o Nhô ficava nervoso, pois passava um tempão sentado naqueles bancos de madeira esperando a companheira encher o carrinho.

Foi numa dessas investidas que Sinhá Loisita reparou no cartaz e falou pro seu Nhô:

– Nhozinho, olha lá, está escrito para deixar você aí. Então fica aí que vou lá comprar os trem.

E o Nhô sentou e ficou. E foi ficando. E o garçom a cada 10 minutos chegava no Nhô e perguntava se ele queria beber ou comer alguma coisa. O Nhô, serenamente, respondia que não queria nada. Como tinha muito movimento, os garçons já estavam inconformados com o Nhô Tim por ocupar uma mesa à toa enquanto tinha gente querendo sentar e gastar. Foi então que o gerente resolveu acabar com aquilo:

– Senhor, não dá pra você ficar sentado aí ocupando lugar sem gerar lucro para o bar.

No exato momento chegou a Sinhá Loisita, que ouvindo as palavras nada lisonjeiras do fulano, e como seu sangue lanhosense não acatava desaforos sem o devido rebote, e de dedo apontando para o cartaz, mandou ver:

– Seu moço, você sabe ler? Se sabe, o que está escrito naquele cartaz?

O gerente olhou e ficou sem entender bulhufas. Sinhá Loisita então foi mais enfática:

– Lá está, seu moço, lá está escrito que não se paga nada para ficar sentado aqui, só se paga o consumo. Então, seu moço, o meu Nhozinho por um acaso consumiu alguma coisa, hêm? Diga, seu moço¹.

O gerente rodou nos calcanhares e foi atender uma mesa próxima. Enquanto os presentes se divertiam com a tirada da Sinhá Loisita, ela deu o braço para o Nhô Tim e saíram os dois empurrando o carrinho com as compras em direção ao estacionamento. E nunca mais passaram ao lado do boteco.

* 1: No cartaz está escrito: Deixe aqui o seu marido e passe para buscá-lo mais tarde. É grátis. Cobramos apenas o consumo.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 10/04/2017 com o título “Jardineira de Pedro Gomes Carneiro”.

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