PODER PÚBLICO PATENSE SE SENTE NO PARAÍSO, O

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TEXTO: EITEL TEIXEIRA DANNEMANN (2018)

Houve um tempo, já remoto, em que Patos de Minas possuía cidadãos articulados que lutavam, brigavam, se arvoravam contra a ineficácia do poder público. Cada um tinha sua religião, sua maneira de encarar a vida e seus ideais políticos brigando com unhas e dentes e atacando-se mutualmente, mas, acima disso tudo, se destacavam as suas convicções de que o poder público deve sempre, sem um segundo de descanso, ser cobrado. Com eles na cola do poder público, Patos de Minas avançou, mesmo com a realidade de que os articuladores muitas vezes saíram perdendo juntamente com o povo. O que importa é que sempre tinha alguém cobrando a eficiência estrutural do poder público através do jornalismo.

Foi um tempo memorável, em que brilharam alguns nomes como Antônio Libânio da Rocha, Délio Borges da Fonseca, Dirceu Deocleciano Pacheco, Fernando Kitizinger Dannemann, José Maria Vaz Borges, Murilo Correia da Costa, Omar Alves Tibúrcio, Oswaldo Amorim, Rafael Gomes de Almeida e Tomaz Atílio Olivieri, entre outros que me falha a memória. Eram outros tempos, em que, com esse pessoal, o poder público pensava mil vezes antes de decidir qualquer ação porque, sabia conscientemente, que iria ser publicamente criticado de alguma maneira.

Desde o primeiro jornal lançado em 1905, O Trabalho, sempre houve cobrança às obrigações do poder público. Veio depois O Commercio com Alfredo Borges, que sempre foi ferino em suas opiniões, juntamente com o Dr. Euphrasio José Rodrigues, colaborador em ambos. Surgiu o Jornal de Patos, da família Borges, com intuito de combater os Maciel. E teve o Cidade de Patos, com intuito dos Maciel de combater os Borges. E assim seguiu o nosso jornalismo no transcorrer dos tempos a, sempre, cobrar do poder público a sua responsabilidade. Muitos ainda se lembram do Jornal dos Municípios, tão combatente com suas posições políticas através de José Maria Vaz Borges. Em 1956, um texto de Fernando Kitzinger Dannemann publicado em seu jornal Tribuna de Patos provocou a ira dos “coronéis” da Cidade¹. Até a Folha Diocesana não pestanejou em criticar o poder vigente com determinadas opiniões do Padre Almir Neves de Medeiros. Bons tempos aqueles em que o poder público era constantemente cutucado com vara curta! nos artigos jornalísticos².

Hoje são outros quinhentos. Há muitos e muitos anos governar Patos de Minas se resume a tapar buracos nas ruas e roçar praças de mato alto no tempo das chuvas. Não se detectou evolução na saúde, na educação, na segurança, na mobilidade urbana; muito pelo contrário, na falta da “saúde pública” a “saúde particular” se transformou numa máquina de gerar dinheiro, e a cada ano os hospitais particulares se agigantam cobrando horrores de dinheiro para manter a saúde do cidadão; na educação, os alunos se tornaram “intocáveis” e até batem nos professores; na segurança, o melhor a fazer é ficar trancado em casa; e na mobilidade urbana, como os nossos Códigos são totalmente desrespeitados, a Cidade se transformou numa arena onde a maioria dos cidadãos se considera no direito de fazer o que quiser, pois sabe que jamais serão punidos, graças à anuência do executivo. E como o legislativo só se reúne regularmente 4 horas por semana, com algumas sessões extraordinárias, somos obrigados a ouvir no final da gestão que “muitas matérias ficaram sem discussão por falta de tempo hábil”. É para rir ou chorar? A grande verdade é que os vereadores deveriam ter a mesma sistemática de trabalho do prefeito. Resumindo: o custo-benefício dessa turma é muito baixo.

Os cutucadores de vara curta sumiram! Dos de outrora, muitos já se foram para o além, e o restante se aposentou, não tendo mais nenhum entusiasmo para cobrar. Não houve reposição de peças. Não há mais ninguém a cobrar, não há mais jornal, pois o único semanário existente na atualidade se presta a noticiar as atividades das faculdades, das igrejas, da sociedade e solenemente do poder público. Para piorar o quadro, o povo patense, com exceção de um aqui e outro acolá, não reclama, estando mais preocupado com o que acontece em Brasília. Afinal, criticar um político lá de Brasília é fácil demais da conta. Já aqui, bem, a gente nunca sabe o dia de amanhã, né! Infelizmente, o povo patense se esquece que não é Brasília que vai solucionar as nossas necessidades. O povo patense tem que cobrar, diariamente, as obrigações do prefeito e dos 17 vereadores. São eles, e não Brasília, que têm às mãos o destino de Patos de Minas. Com o povão calado, com os formadores de opinião calados e não havendo mais jornalismo crítico, o poder público patense se sente no paraíso.

* 1: Leia “Terra da Fome e da Miséria”.

* 2: Leia “Histórico da Imprensa até 1970”.

* Foto: Depenandoacoruja.com.br, meramente ilustrativa

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