TRÁGICA MORTE DO PEU, A

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À exceção dos familiares, ninguém conhecia o nome oficial do Peu, quando muito um amigo mais chegado. Mas como o Peu não tinha nem um amigo mais chegado, certo então é que só os familiares tinham a informação. Para piorar, ninguém conhecia a família do Peu, que morava sozinho numa casinha muito humilde desde o tempo em que a Lagoa Grande ainda era a Lagoa dos Japoneses. E para continuar as desinformações, ninguém sabia de onde surgiu o Peu. Sabiam todos que o homem era honesto, não tinha vícios e trabalhava capinando jardins nas casas dos endinheirados. Assim ia sobrevivendo.

Certa feita, conseguiu com alguém uma pequena carroça de mão para recolher papelão e aumentar um pouquinho a renda. Não demorou muito houve um incêndio em sua casa que quase o levou para o além. Até hoje não se sabe a causa oficial do incidente, mas a suspeita é que foi provocado por gente que não gostava do Peu. O porquê, ninguém sabia. A sorte do Peu é que o Corpo de Bombeiros era estabelecido relativamente perto, à Rua Joaquim das Chagas, e rapidamente entrou em ação. Também não se sabe por que, os bombeiros ficaram com dó do Peu e lhe presentearam com um extintor de incêndio à base de água, já prevendo outra tragédia. E ela veio, desta vez fatal.

O relógio marcava duas horas da manhã quando o Peu acordou com o fogo consumindo os papelões e a própria casa. Ele foi ligeiro ao se apossar do presente dos bombeiros e tentar apagar o fogo. Mas não teve jeito: o fogo levou sua vida. Quando o Corpo de Bombeiros debelou o incêndio, uma cena macabra sensibilizou os profissionais tão acostumados com tragédias como aquela. De cada olho presente surgiu uma pequena lágrima quando vislumbraram o corpo carbonizado do Peu. Entretanto, imediatamente as lágrimas cederam lugar ao espanto: o Peu estava como que plantando bananeira escorado em um sofá e com o braço direito esticado apontando para algo.

Durante muitos dias, entendidos no assunto estudaram os motivos que levaram o Peu a ser encontrado naquela posição. Até que, finalmente, o Marquinhos, filho da D. Maroca, com somente três meses na corporação, matou a charada. Foi quando também descobriram que o Peu não era muito bem servido de neurônios. O mistério foi desvendado por causa de uma inscrição no extintor de incêndio: Em caso de incêndio, vire de cabeça para baixo e aponte para a chama!

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 28/02/2013 com o título “Prefeitura em 1916”.

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