EUFORIA DO TRIGO – 1

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TEXTO: ZAMA MACIEL (1941)

Na manhã fria e azul de terça-feira, o Diretor-Presidente da Moinhos Minas Gerais fechou-me dentro de um automóvel para que eu “servisse de cicerone” a um grupo de visitantes em excursão que se faria pela auto-estrada de Chumbo.

Os companheiros de viagem eram acionistas da Cia. do Trigo que vinham verificar “in loco” as possibilidades da empresa. Homens de negócios, práticos, a mim me seria difícil entreter conversação que pudesse agradá-los. São êles, em geral, demasiadamente estúpidos. Aprendem a amoedar, vivem para as transações comerciais, delas fazem o objetivo da vida, e assim se tornam insensíveis às manifestações do belo.

Os seus sonhos convergem para as caixas dos bancos ou para as toneladas de mercadorias. Nada arquitetam de grandioso e duradouro. Apreciam viver só dentro de seu meio. Palestra que os agrade, requer preparação psicológica adequada, e conhecimentos de assuntos financeiros. Não é êste o meu caso, pois de finanças nada entendo e muito menos de negócios de cereais. Mas nem sempre o juizo apressado é verdadeiro. Fui feliz com os meus companheiros, pois que nada tinham do tipo clássico do capitalista ou do vendedor de feijão. Pude verificá-lo logo o automóvel começou a galgar os espigões.

A Mata de um lado e o Juá de outro. Todas as invernadas floridas, limpas, com pontos brancos no gado que se movia lentamente, arrebatou-lhes de tal maneira que se esqueceram dos contratempos, e chegaram mesmo à fase lírica do devaneio. A conversa se enveredou para um plano elevado de realizações humanitárias, de sonhos para uma Pátria maior com uma raça sadía e rica. As mutações da paisagem embevecedora, fizeram deles entusiastas da terra. Patos ganhava amigos. Nada prende tanto o homem como a beleza, e a alma se eleva em amizade enternecedora. Naquele automóvel iam homens afeitos ao trabalho, quasi que se disse versos. A certa hora, comparou-se o movimento do capim em flôr, às ondas do oceano. Estas, verdes, com coroas de espumas, se quebram na areia branca da praia. Aquelas, rosas, com cabeleiras castanhas, morrem no cais verde da mata.

“O professor Azzi disse-me, em Belo Horizonte, ao voltar de Patos, que as condições aqui eram favoráveis à cultura do trigo”, informava um dos passageiros do auto, capitalista na capital mineira, nascido na Itália e há anos radicado no Brasil. Um outro, com mais energia, ponderava: “Porque os paulistas querem e fazem ?!! Precisamos imitá-los. Se todos os entendidos afirmam que aqui produz o trigo, e como o Brasil necessita dele, nós o faremos produzir. Um insucesso inicial não é motivo para desânimo”.

Pude, de minha parte, informar que Otávio Maciel colhera, êste ano, trigo em abundância e esperava ganhar dinheiro com a sua colheita. Moacir Viana, o idealista do trigo, selecionara uma variedade resistente às doenças, e perfeitamente aclimatada. Restava jogar a semente à terra.

A Cia. do Trigo, em fase de reorganização, quer, afirmam os seus maiores acionistas, têr êste trabalho, e espera que o pequeno lavrador lhe acompanhe as pégadas.

O nosso fazendeiro deve dar mão forte a estes homens. Veem êles até nós ajudar-nos s construir a nossa grandeza. Que o sonho de Moacir Viana se concretize quando os trigais cobrirem os vales…

* Fonte: Texto publicado com o título “Os Trigais Ainda Cobrirão os Vales” na edição de 1.º de junho de 1941 do jornal Folha de Patos, do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho.

* Foto: Do arquivo do MuP, via Geovane Fernandes Caixeta, publicada em 22/07/2016 com o título “Moinho de Trigo em 1940”.

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