TIÃO LESMA, O REI DA PREGUIÇA

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No início da década de 1970, quando o empreendimento do Bairro Guanabara foi lançado como O Bairro Jardim de Patos de Minas¹, nas proximidades morava num pequeno sítio o Seu Pedrosa com a esposa Maricota e quatro filhos homens, entre eles o Sebastião, 19 anos, mais conhecido por Tião Lesma, naquela época considerado o rapaz mais preguiçoso da Cidade. O pai já estava careca e a mãe de cabelos brancos em consequência da falta de qualquer tipo de ação por parte do filho, o caçulinha, já nos seus 19 anos de idade. Aliás, o mancebo até que tinha uma ocupação, a de fabricante de pequenas gaiolas de bambu, cada uma delas ardorosamente confeccionadas em não menos que seis meses. E olha lá!

A preguiça era tanta que o jovem não se alimentava adequadamente porque penava em levar a comida à boca. Banana era a sua paixão, mas considerava complicado demais da conta descascá-la. Os outros quatro homens da casa chiavam, mas a mamãe coruja sempre dizia que o Sebastião ficou assim porque não nasceu nas mãos da Piqueta. E assim o sol vinha e ia. Certo dia, onze horas da manhã, enquanto o pai e os três irmãos labutavam na pequena lavoura que os sustentava, Tião Lesma ainda dormia. Preocupada, a mãe zelosa foi acordá-lo. Mas nada do Tião Lesma acordar: estava morto.

Após as naturais lamentações, um amigo da família se prontificou a levar na carroceria de sua D-10 o corpo do jovem, devidamente acomodado, ao Cemitério Santa Cruz. O cortejo – o veículo lentamente à frente e a família e alguns amigos seguindo à pé atrás – já estava chegando ao destino quando a ciosa mãe, sempre ao lado da carroceria, percebeu um tremor no corpo do filho. Foi um assombro e ao mesmo tempo manifestação de intensa alegria. Dona Maricota, segurando a mão de Tião Lesma, disse-lhe emocionada:

– Ó filho, você está vivo, é fraqueza, você não come por preguiça, por isso desmaiou e parecia um morto. Ó filho querido, vamos voltar agora para casa, lá chegando tem aquelas deliciosas bananas que você tanto gosta.

Com voz sussurrante, Tião Lesma perguntou:

– Mãe, as bananas estão descascadas?

– Não meu filho, não estão descascadas.

Tião Lesma arregalou os olhos e com o corpo tremendo falou com muita dificuldade:

– Ó mãe, então quero não, por favor, me levem pro cemitério.

E retesou-se para sempre.

* 1: Leia “Bairro Guanabara – 1971”.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 28/02/2013 com o título “Prefeitura em 1916”.

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