PATRIOTISMO

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TEXTO: JOÃO GUALBERTO DE AMORIM JUNIOR (1910)

Patriotismo! Nome grato e consolador! Ha nelle um não sei que, que nos arrebata, nos transporta e faz com que o nosso coração palpitando commovido, dilate-se, e, dissipando as nuvens que o envolvem, nos mostra, pelo nosso semblante que sorri, o amor immenso que elle consagra á sua mãe patria…

Ser patriota é um attributo dos mais honrosos e sublimes, que o homem pode adquerir sobre a terra, e é por este predicado especialmente que elle se distingue entre todos os mais; porque o patriotismo encerra em si o culto do Amor, do Heroismo e da Virtude.

E’ o culto do Amôr, sim, caros leitores, pois, patria, è um quadro magnifico e arrebatador, onde está estampado tudo o que amamos e tudo o que é grato para nòs, sendo o objecto de nossa maior estima e consideração, os nossos idolatrados paes que cuidadosamente nos guiam e nos apontam o caminho do bem, o caminho das virtudes. O amor que devemos ter para com o nosso torrão, deve ser de benevolencia, de modo que, desejemos e procuremos o bem e a felicidade delle, e não a nossa satisfação e o nosso proveito.

Deve ser ainda sincero e desinteressado, e para ter estes predicados deve fundar-se na honestidade e na virtude.

A este respeito diz Silvio Pellico, que foi por muitos annos um martyr de seu patriotismo: “Si alguem violar os altares, a santidade conjugal, a decencia, a probidade, e depois bradar: patria, patria! Não acredites nelle. E’ um hypocrita do patriotismo. E’ um pessimo cidadão”.

Amamos immensamente o solo patrio, tanto é que o temos como o mais bello e aprazivel dentre todos, e achamos, embora não sejam na realidade, que seus campos são os mais vastos e floridos, seus rios os mais caudalosos e crystallinos, sua situação a mais bella e elegante, em uma palavra, tudo que lhe pertence, è para nós uma fonte de amor e consolação. Tem-se, é verdade, grande amôr e respeito para com o nosso paiz natal, mas porque estas qualidades são em uns mais ardentes do que em outros, embora sejam ambos tratados com o mesmo carinho e a mesma dedicação? Oh! não podemos explicar esta differença, sem reccorrermos a educação moral e o caràcter de cada um, pois assim como ha homens de corações generosos, e cumpridores fieis dos deveres de um verdadeiro patriota, os ha tambem de corações duros e crueis que não sabem corresponder ás suas benignas dedicações como lhes é exigido. Contudo estes embriagados pelo aroma da doce e suave palavra – amôr patrio, são arrastados pela lei sublime da natureza que os guia facilmente, ensinando-lhes a amar, respeitar e cumprir os deveres que devem ter para com aquella que lhes serve de segunda mãe.

De mãe, porque é ella que, apòs nossos carinhosos paes, nos abraça e nos hospeda em seu seio, com tanto desvelo e dedicação, qual uma mãe, quando em plena alegria, acaricia de beijos o extremecido filhindo.

De mãe, porque é ella que, depois das bênçãos paternas, nos chama para incutir em nossos espiritos os deveres de um cidadão, e nos instruir nas mais elevadas sciencias.

De mãe, emfim, temos necessidade de dizer, e se assim não fosse, não derramariamos, somente por ouvir os sons melodiosos do hymno nacional e ver em nossa frente o tremular do pendão auri-verde, o nosso sangue por ella.

O patriotismo é o culto do heroísmo, visto que, o verdadeiro amôr da patria não pode ser effectivo sem grandes sacrificios, que custam até a propria vida; assim digo, pois, para sermos patriotas, desde a nossa juventude, quando ainda gozamos dos sagrados aconchegos do lar, já somos obrigados a enfrentar com inimigos, ou antes, com certos espiritos que procuram nos destraviar da vereda do dever.

Contudo, ainda não è nada, porque, nesta edade temos os bellos exemplos de nossos paes, que nos conduzem, mostrando-nos o recto e sublime caminho das virtudes. Os annos, porem, perpassam rapidamente, avançamos os nossos vinte e um annos e chegamos sem sentirmos no meio do bulicioso convivio da sociedade. E’ ahi, caros leitores, que precisamos recorrer a vigorosos esforços, pois, somos cidadãos, temos o direito do voto, o dever de proteger e defender a nossa patria e, portanto, varias outras responsabilidades. E’ ahi que devemos sofrer para o engrandecimento da nossa patria, porque, muitas vezes, quando silenciosos debaixo da excelencia da paz, planejamos os meios para eleval-a ao mais alto grau de civilisação e adeantamento, nos è necessario fazer de nosso peito um escudo para a defeza da mesma e, si preciso fôr, derramarmos cheios de jubilo, coragem e resignação o nosso sangue por ella. E’ justo e claro està, que todo aquelle que assim fizer será, para sempre, um modelo digno de ser imitado; porem, devemos notar que podemos ser heroes patrióticos sem derramarmos o nosso sangue, cultivando o estudo, pois nelle apprendemos os nossos mais sagrados deveres, e por elle somos levados ao numero dos cidadãos cultos e illustrados de uma nação. E sobre este ponto escapou dos labios profanos de Martinho Lutero, as seguintes palavras. “A prosperidade de uma nação depende mais do numero de seus cidadãos cultos, de bôa educação, illustrados e de caracter, do que da importancia de suas rendas, perfeição de suas fortificações ou da belleza de seus monumentos”. E’ verdade, com o estudo tudo vencemos, com a sciencia tudo ganhamos.

Emfim leitores, o patriotismo é o culto da virtude, porque o amor da patria nos leva à pratica das mais acrisoladas virtudes e a realisação dos mais sublimes idèaes. Pois que, o amor patrio, não pode ser puro nem real, sem possuirmos as armas invenciveis da virtude que, segundo o dizer do Marquez de Maricá, são: “A resistencia ás tentações e a obstinencia dos praseres prohibidos”. Sim! É realmente com estes instrumentos de defeza, que os moços se conservam sempre castos, podendo assim entregar á patria, não um corpo corrupto, mas sim um corpo illeso e robusto, e uma alma purificada e aromatisada dos mais sublimes idéaes.

Terminando, pois, estas singellas linhas, convido-vos oh! patenses e compatricios meus, para trilharmos ardorosamente o caminho do bem, o caminho das virtudes e cumprirmos fielmente o que encina este triplice programma que venho de vos expôr. Assim teremos sempre em vista o bem presente, o bem do porvir e em fim o bem, a liberdade e o engrandecimento da patria, que é para um coração patriota uma das causas mais santas e a maior das felicidades.

Patos, 17 – 12 – 1910.

* Fonte: Texto publicado com o título “O Patriotismo” na edição de 23 de dezembro de 1910 do jornal O Commercio, do arquivo da Hemeroteca Digital do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, via Altamir Fernandes.

* Foto: Palavroeiro.wordpress.com.

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