PRECISAMOS URGENTEMENTE DE UMA BIBLIOTECA PÚBLICA

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TEXTO: OSWALDO AMORIM (1956)

O último artigo, entre nós publicado, sôbre a necessidade de dotar a cidade de uma Biblioteca pública, foi da lavra do esforçado diretor dêste hebdomadário, o moço José Maria Vaz Borges, o popular Zé Maria (que marcava gols espetaculares quando atuava como “insider” na URT). Antes dêle muitos o fizeram também, inclusive êste vosso criado (não os gols, mas publicações naquele sentido, é claro…).

Bem, mas se muito foram os que escreveram, batendo-se pela criação de uma Biblioteca Pública em Patos de Minas, imagine-se agora, quanto foram os que falaram e falam pela cidade afora, nas ruas, nos clubes, nos lares, nas escolas, em toda a parte enfim, sôbre a imensa falta que essa biblioteca nos faz! Sim, porque, afinal, não é todo mundo que se dispôe a vir – de público – clamar por alguma coisa, ainda a que se creia mais justa e necessária. Há o mêdo de desagradar os donos da política. Há a falta de traquejo para escrever. Há a falta de espaço nos periódicos. E, sobretudo, senhora, há a preguiça.

Mas falando em conversas, tentemos surpreender alguns diálogos em diferentes pontos, desta, outrora, lírica e bucólica freguesia. Para isso, cheiraremos uma pitada do famoso “pó de pirlimpimpim” que nos possibilitará sair por aí, devidamente invisível, atravessando até corpos sólidos sem lhes causar dano (nem a nós, tampouco) e voando mais depressa que avião a jato.

No “vai-vem” o Dinizinho conversa com o Bira e o Vicente. Garôtas? Cinema? Casamento? (isto até podia ser…). Não: Biblioteca Pública.

Rolando sobre o asfalto, naquele furgão vermelhinho, o Artur e o Tioca trocam idéias. Café? Soja? Moinhos? Não: Biblioteca Pública.

Na Avenida Getúlio Vargas, o Virmondes e a Ordalina batem animadíssimo papo (em francês, naturalmente). Montmartre? Quartier Latin? Pigalle? Não: Biblioteca Pública.

No Hospital Regional, o Dr. Ximenes e Dr. Benedito Alves palestram com real entusiasmo. Medicina? Mamoré? URT x Mamoré? Não: Biblioteca Pública.

Sobrevoando a cidade num Paulistinha, o Zé Burgos e Sinval Boaventura proseiam. Panorama? Paraquedismo? Aeroclube? Não: Biblioteca Pública.

Na Escola Normal, o diretor Geraldo Botelho dá dois dedos de prosa com um grupo de professores e professoras. Energia termo-nuclear? Atomobrás? Marte? (o planeta da moda, como diz o Jair Silva). Não: Biblioteca Pública.

Deslizando numa canoa ali no Paranaíba, o Dr. Delfim, o Randolfo Borges e o Egberto (“Tio”), mantêm amável tertúlia. Engendram uma fabulosa história sôbre um peixe dêsse tamanho, que não conseguiram – juntos – arrancar do rio? (“Vocês não vão acreditar, mas… etc… etc…”). Não: Falam sôbre as enormes vantagens de uma Biblioteca Pública na Cidade.

Na calada da noite, a dez mil metros de altura, no bojo de um disco-voador, Marce Hanno – o David Nasser do espaço – toma notas (para uma cadeia interplanetária de jornais e revistas): “Nêsse momento estou parado sôbre uma cidade do interior de um país chamado Brasil (Êta país gozado! Vocês de Marte, Júpiter e Saturno precisavam conhecer seus dirigentes… Iam morrer de rir…). Seu nome é Patos de Minas. Com minhas lentes de enxergar no escuro, posso ver que a cidade é bela, plana e bem traçada; e – pela quantidade de construções em andamento – deduzo que está em franco progresso. Observo também que o município é muito próspero, pois nêle existem lavouras em abundância e bovinos e equinos (é assim mesmo que os terráqueos chamam êsses animais?) à farta, dentre muitas outras coisas. Mas noto uma falha, grande, imensa falha: na cidade faltam escolas, não há Cursos Clássico e Científico, não há um Teatro Municipal e, pasmem!, não há nem mesmo uma BIBLIOTECA PÚBLICA!

Mas voltamos novamente à terra e abordemos o assunto de frente. Como dissemos de outra vez, na Biblioteca Pública, além de incentivar grandemente a leitura, o amor aos livros, o gôsto pelo estudo, em Patos de Minas – cooperando decisivamente para difundir a cultura em nosso meio – viria facilitar bastante o estudo mais detido e prolixo de tôdas as matérias que se lecionam em nossas escolas. Médicos, advogados, engenheiros, dentistas, agrônomos, professôres, profissionais de diferentes ramos, curiosos e estudiosos de tôda espécie, teriam obras de consulta a que poderiam recorrer quando e quanto quisessem. Livros didáticos e de literatura ficariam à disposição de todos. Quem desejasse estudar ou simplesmente, se deleitar com a leitura de um bom livro, não teria mais que se dar ao trabalho de ir à Biblioteca Pública. Tudo o que nos faz concluir que uma Biblioteca Pública constituir-se-ia num valioso patrimônio cultural para a cidade.

De resto, trata-se algo de tão reconhecida e proclamada importância, que sua ausência, absolutamente, não se justifica. Que os poderes competentes, pois, tomem – sem mais tardanças – a iniciativa de criá-la, para o bem de nosso povo e maior progresso de Patos de Minas¹.

* 1: Leia “Anunciada a Biblioteca Pública”, “Inaugurada a Sede Própria da Biblioteca João XXIII”.

* Fonte: Texto publicado com o título “Biblioteca Pública” na edição de 02 de outubro de 1956 do Jornal dos Municípios, do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho, via Marialda Coury.

* Foto: Do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho, publicada em 04/12/2013 com o título “Panorâmica no Final da Década de 1950 – 2”.

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