ROBERTO AUGUSTO FERREIRA BORGES ATÉ 1980

Postado por e arquivado em PESSOAS.

Nasceu aos 29 de maio de 1924. Quinto filho de Maria Ferreira Borges e de Dr. João Borges. Cedo, aos 13 anos incompletos, deixou sua Terra Natal. Decidiu-se pela vocação de Irmão Marista e seguiu para Mendes, RJ. Ai ficou de 1937 a 1943 quando se transferiu para Curitiba. Desta data a 1946 completou os estudos do Escolasticado (Seminário Maior) juntamente com os três anos do Curso Colegial. Os anos de 1946 e 1947 marcam seu início no magistério na capital paulista. Vestibular em 1948, na Faculdade Federal de Ciências e Letras de Curitiba. Curso: História Natural. Nesse mesmo ano termina seus estudos referentes à carreira marista.

O Marista alia sua vida de oração à vida ativa. Mormente no apostolado junto à juventude. Assim é que o Irmão Roberto militou no magistério em São Paulo. Curitiba, Varginha, Ribeirão Preto, Mendes e Rio de Janeiro. Não se limitou a ministrar as disciplinas específicas de seu curso universitário, – Biologia, Zoologia, Mineralogia e Botânica -, mas lecionou Matemática, Francês, Português, Latim, História e Geografia. Teve um carinho especial para com as aulas e atividades de Formação Cristã. Praticamente sua carreira de magistério se encerrou em 1964, quando foi nomeado Diretor do conceituado Colégio Marista São José do Rio de Janeiro. Neste cargo permaneceu durante 9 anos. Em 1974 seguiu para Paris onde ficou 2 anos. De volta foi à Varginha onde ultimou a passagem do tradicional Colégio Marista Coração de Jesus para o Governo Estadual. Em 1977 vem a Belo Horizonte, ano em que se vê à frente do Escolasticado Marista, para em 1978 assumir a direção do Colégio Marista Dom Silvério, onde se encontra até hoje.

Estudos

Curso Primário: Grupo Escolar Marcolino de Barros, em Patos de Minas. Primeiro Grau: Mendes, RJ. Segundo Grau: Curitiba. Faculdade: Curitiba. Cursos de Especialização: Porto Alegre (1960-1962): Dinâmica de Grupo, Arte da Entrevista, Didática Aplicada, Psicologia, Orientação Educacional, Sociologia. Em 1962 segue para a França, em Saul-Paul-Trois-Châteaux, perto de Lyon. Durante 6 meses segue ai cursos de atualização religiosa. Em 1965, sob a orientação de Arnaldo Niskier, faz no Rio de Janeiro o Curso de Administração Escolar. Em julho de 1973 está o Irmão Roberto em Quioto, Equador. Especializa-se em Planejamento de Província Religiosa e de Escolas. De 1974 a 1976 frequenta a Universidade Católica de Paris onde, mais e mais, junto aos grandes luminares do pensamento europeu, mergulha no que há de mais atual em termos de doutrina e de vida cristãs. Exaustiva a enumeração de quantos outros cursos seguiu sobre Educação, Reforma de Ensino e outros. Vinte e oito são os certificados mais diversos que possui de Extensão Universitária.

Costuma o Irmão dizer que até há pouco de duas medalhas ele sempre se orgulhou e jamais delas se separou: a do Escapulário e a Medalha Milagrosa. Mas, a partir de 31 de dezembro de 1974 carrega uma terceira: a Medalha Anchieta, conferida pelo Governo do Estado da Guanabara, graças aos serviços prestados à educação. Hobby: Atlético Mineiro, Música Clássica, plantas e cães.

Belo Horizonte, 5 de junho de 1980

Cinco dias estafantes, sim, porém gratificantes, os que transcorreram de 31 de maio a 4 de junho. Olimpíadas do “Dom Silvério”. E não adianta! A gente quer queira, quer não, se envolve no desenrolar das competições. Vibra, sofre, grita, roe unhas. Pudera! Em jogo, parte da vida, momentos fortes da formação de nossos alunos. Da vida de nossos jovens e da nossa que optamos pela Educação. Tempo para nada. Só Olimpíadas. Amanheci hoje desanuviado. Menos preocupações neste setor. Outras, noutro. Despertei-me com a lembrança do pedido a mim feito pelo Dr. Dirceu: uma página para “A Debulha”.

Volto da Capela. Na prece da manhã de hoje, solenidade de Corpus Christi, rezei no Hino que “Ao nascer é companheiro; na mesa faz-se comida: na Cruz é preço da morte; no Céu é prêmio da vida”. E pensei: por que Escola?… Por que Olimpíada?… Por que vida voltada inteirinha para a Educação senão com o fito de se levar a juventude para “Ele”?… De se colocar um tijolo que seja, na construção da sociedade de amanhã, mais humana, mais fraterna, menos cruel, mais cristã?… Pensei e me decidi. Do que vivo vou escrever. Para os jovens de minha Terra. Aos adultos é facultada a leitura. Não há censura.

Sabe, jovem, felizes somos nós, os menos moços, e feliz é você que se desponta para a vida. Juventude!… Etapa de sonhos, de generosidade, de otimismo, de esperança. E por que não?… De ilusões, também. Hoje, em que ídolos estranhos de todos os matizes e nacionalidades são colocados em altos pedestais por parte de certa categoria de jovens, a grande maioria mostra seriedade de caráter, maturidade de espírito, acentuada capacidade de julgamento das pessoas, das coisas e dos acontecimentos. Muito adulto não gosta disso. Satisfeitos com o “status quo” preferem não ser incomodados. Sentem-se bem. Quando é a você, jovem de hoje, que num amanhã talvez próximo, será confiado o facho que recebemos de nossos pais e que não poderá deixar de extinguir. Você que saberá, por certo, acatar o que de bom a técnica moderna, as conquistas sociais lhe apresentarem, será capaz de inserir tudo isto no tesouro que as culturas passadas nos deixaram. Triste a vocação de iconoclasta! Derrubam por derrubar e não têm o que oferecer no lugar. Nada acrescentam. Demolem por demolir. Penso, sim, que o presente, que o amanhã se constroem se os edificarmos sobre os alicerces do passado.

Há 20 anos realizou-se na Lagoa do Abaeté, Estado da Bahia, o “Festival dos Hippies”. Gente sofredora de grande vazio d’alma, carente de um “leitmotiv” que lhe enchesse a vida. Lembro-me bem das ponderações de um articulista da época a propósito da referida assembléia. Mais ou menos isto: “Não tem sentido tal procedimento. Só pode rebelar-se quem viveu a situação que deseja remover. Só pode renovar que já atuou. Só pode ser do contra quem já foi a favor. Negar por negar é fácil e cômodo. O nihilismo a nada leva. Que construiu ele até hoje?”. Não há dúvida, jovem: a psicose da contestação pela constatação está fadada ao nada. É, isto sim, da juventude séria, da juventude cônscia de seu verdadeiro papel na construção de um mundo mais humano, mais cristão, que temos o direito e o dever de muito esperar.

O já falecido e talvez o maior pensador leigo dos últimos anos, Jacques Maritain, escrevia: “… quisera dirigir o seguinte à juventude: o mundo que tem fome, não apenas de pão mas da palavra de verdade que liberta, este mundo precisa de vocês. Ele lhes pede que sejam tão corajosos nas lutas da inteligência e da razão, como nas batalhas em que o homem arrisca a sua vida”. Isso foi escrito em “Pour une Philosophie de l’Éducation”.

Passaram-se duas décadas. Veio o levante dos estudantes em Paris, maio de 1968. Em nova edição da referida obra o grande pensador analisa os fatos. Não os aceita em sua totalidade. Não os rejeita em bloco. Deseja-os estudados em sua ambivalência. E nesta edição assim se refere ao papel do jovem na sociedade: “Em suma, é com a própria juventude que é preciso contar para o esforço de reconstrução. Cabe-lhe redescobrir os valores fundamentais, as bases racionais da fé na verdade, as razões de viver, sem as quais não pode passar a natureza humana”.

E então?… Perguntará quem teve coragem e paciência de me ler. Então… respondo, não se esqueça da existência do tríplice farol que constitui os três pilares de qualquer sociedade bem alicerçada: PÁTRIA, CIÊNCIA, RELIGIÃO. Tudo isto mesclado de grande dose de IDEAL DE VIDA. Única possibilidade de você não aumentar a lista, já por demais longa, dos inúteis. Maneira única de se ter ânimo para os embates que o aguardam. Só os ambiciosos, só os idealistas vencerão o jogo maravilhoso da vida. Aos covardes e preguiçosos, só lhes restas o estigma da derrota, antes mesmo de lançarem mãos das armas. A eles, o anátema de Dante na Divina Comédia: “Não falemos deles. Olha e passa”.

E aqui entra a função da Escola. Escola que se chama Grupo, Colégio, Família, Meios de Comunicação, Grupos Sociais, Bairro, Rua…

A fala de Deus é diferente da fala dos homens!… Venha cedo, rápido, já, o dia em que a Educação deixe de ser o primo pobre, mendigo das migalhas que sobram do orçamento da Nação! Pena estarmos a viver os valores às avessas!

O tema Escola, Educação, faz com que volte, com saudade e gratidão, os olhares para o “meu” Grupo Marcolino de Barros. Alda Mendonça, Mariinha Nápoli, Nadir Santana, Célia Mourão, têm grande parte no pouco que hoje sou.

Irmão Roberto Augusto Ferreira Borges

Belo Horizonte, 05/06/80

* Fonte e foto: Texto publicado na coluna Conterrâneo Ausente com o título “Irmão Roberto Augusto Ferreira Borges, Marista” e subtítulo “Diretor do Colégio Marista Dom Silvério de Belo Horizonte – Dados Biográficos” na edição n.º 4 de 30 de junho de 1980 da revista A Debulha, do arquivo de Eitel Teixeira Dannemann, doação de João Marcos Pacheco.

Compartilhe