GARIMPEIRO ENGABELADO

Postado por e arquivado em CANTINHO LITERÁRIO DO EITEL.

Na época em que Patos de Minas era conhecida como a Terra do Diamante, um cidadão se destacou como negociante e maior garimpeiro da pedra na região. Um seu inimigo político de primeira monta, muitíssimo religioso, apostou com alguns amigos que, pasmem, seria convidado a almoçar na casa do ferrenho adversário. Óbvio, foi motivo de chacota, pois, jamais e em tempo algum, o garimpeiro faria tal tipo de convite, tamanha era a animosidade entre ambos. Mas a aposta foi fechada, e alto foi o cacife.

No outro dia, quando o garimpeiro e família estavam à mesa para o almoço, o outro foi entrando pela casa adentro. Um espanto para todos, tal o grau da audácia. Quando o dono da casa já estava de pé para tomar as devidas satisfações, o adversário, com um grande e aparente volume redondo no bolso esquerdo da calça, falou:

– Não sei quanto vale um diamante desse tamanho − e fez um gesto com a mão simulando o tamanho da pedra −, o prezado poderia me dizer quanto vale uma pedra desse quilate?

O negociante, imaginando o tamanho da pedra pelo volume no bolso, viu cifrões em sua frente e já imaginando um estupendo negócio, e respeitador da família à mesa de almoço, resolveu engolir provisoriamente a rivalidade, pois não podia perder tal oportunidade:

– O prezado, quem sabe, ainda não almoçou. Por favor, sente-se e vamos terminar a refeição que logo trataremos do assunto.

Terminado o almoço, foram os dois para o escritório e o diálogo foi curto e tenso:

– Deixe-me ver o diamante.

– Que diamante?

– Você teve a petulância de vir à minha casa em pleno almoço para eu avaliar essa pedra que está aí no seu bolso. Quero ver a pedra.

– Não tem pedra de diamante alguma aqui no meu bolso.

– Que brincadeira é essa, veio aqui à minha residência zombar de mim. Ora seu…

– Êpa, calma, não estou zombando do prezado. Eu não disse que tinha um diamante aqui comigo, apenas lhe perguntei quanto poderia custar um diamante do tamanho que sugeri com as mãos.

– E esse volume redondo aí no seu bolso?

– Ora, é apenas uma bolha de bilhar.

Dito isso, o ousado e ardiloso falso vendedor de diamantes deu no pé o mais rápido possível indo direto ao encontro dos amigos para receber a bolada apostada. Dizem que durante muito tempo quase aconteceu um vias de fato entre os dois, situação só serenada com o acúmulo de anos nos ombros de cada um. E dizem ainda que, por causa do imbróglio entre os patriarcas, até hoje os descendentes de cada um não se bicam.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 28/02/2013 com o título “Prefeitura em 1916”.

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