VAI-E-VEM

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picole-e-o-vai-e-vemO Vai-e-Vem faz parte da história de Patos de Minas, há muito tempo, e bota tempo nisso. Revisando a literatura, percebe-se uma singela sintonia entre o Vai-e-Vem e a presença de um cinema. Tudo começou com o primeiro deles, o Cine Magalhães¹, inaugurado em 10 de maio de 1913. Funcionava na Avenida Municipal (hoje Av. Getúlio Vargas) esquina com Rua Olegário Maciel, exatamente onde hoje se localiza o prédio da Rádio Clube (construído em 1948 por Amadeu Dias Maciel para o seu Cine Olinta). Era pelas redondezas que moçoilas e moçoilos trocavam furtivos olhares.

Em 1920 foi inaugurado o Cine Glória², praticamente no meio do quarteirão da Rua General Osório entre a Avenida Getúlio Vargas e a Rua Major Gote (que já foi Desembargador Frederico e Benedito Valadares), no imóvel onde era o Móveis Carvalho. O maior conforto e técnica do maquinário do novo cinema chamaram a atenção do povo e, aos poucos, o Vai-e-Vem se transferiu para aquele “pedaço” de rua. A movimentação na porta do Cine Glória se manteve até o início de 1940. Então, outro cinema chegou.

Considerado um dos melhores cinemas do interior de Minas Gerais, comparado aos da capital, o Cine Tupã³ logo caiu no gosto da população. A consequência foi a inevitável mudança de endereço do Vai-e-Vem, passando a se concentrar na Rua Major Gote entre General Osório e José de Santana.

Exatos 20 anos após, chega o Cine Garza com mais técnica de projeção e conforto. E no ano seguinte, o Cine Riviera, mais moderno ainda. O Cine Tupã não resistiu e morreu, mas o Vai-e-Vem já havia se institucionalizado naquela “meiúca” da cidade, firmando as bases principalmente no quarteirão da Major Gote entre General Osório e Olegário Maciel. A inauguração do Cine Olinta em 1948 não foi suficiente para desviá-lo de sua rota tradicional.

A edição de 25 de dezembro de 1968 do Jornal dos Municípios nos brinda com singelas palavras a respeito do Vai-e-Vem:

Não obstante ser o coração do comércio patense, a rua Major Gote tem o seu lado lírico-sentimental pois é nela que se realiza o “Vai-Vem”.

Quando a noite cai em Patos de Minas, grande massa de pessoas aflui àquela via pública, vinda de todos os pontos da cidade, sobretudo moças e rapazes. Os rapazes andam menos e a maioria prefere ficar parada ao longo do trecho compreendido entre as ruas Olegário Maciel e General Osório, apreciando as jovens em flor.

Sem dúvida o “Vai-Vem” é o maior e mais eficiente promotor de casamentos de Patos de Minas. Basta fazer uma pequena investigação para verificar que a maior parte dos matrimônios na cidade teve ali a sua origem.

No “Vai-Vem” é onde os patenses se mostram mais loquazes, falando sobre os mais variados assuntos. É ali que se vai contar ou ouvir as últimas notícias ou anedotas. O “Vai-Vem” é uma espécie de sala de visitas da cidade, pois é o ponto preferido para quase todos os encontros; é nele onde se vai avistar com os conhecidos e bater um “papo” com os amigos ou encontrar-se com a “pequena”.

O “Vai-Vem” funciona todas as noites. Mas os seus grandes dias são mesmo sábado e domingo. Aí a rua, apesar de mais parecer uma avenida, fica estreita para caber tanta gente. É ainda no “Vai-Vem” onde os forasteiros se sentem mais à vontade, pois em meio a essa multidão comunicativa, cordial e bem humorada, ficam também contagiados pelo ambiente.

O Vai-e-Vem se estendeu até a metade da década de 1970, mas já não era como antes. Novas tendências, novos comportamentos, novas preocupações, enfim, Patos de Minas já não possuía o mesmo romantismo de antes. Assim, sem romantismo, foi-se o Vai-e-Vem, ficando apenas as lembranças daqueles bons tempos.

* 1: Leia “Cine Magalhães” e “Endereço Misterioso do Cine Magalhães 1 e 2”.

* 2: Leia “Cine Glória”.

* 3: Leia “Cine Tupã”.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Fonte: Arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do UNIPAM.

* Foto: Vai-e-Vem dos tempos retratados pelo Jornal dos Municípios, do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho.

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