FOLIAS DE REIS: UMA FESTA DE FAMÍLIAS

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A festa da Folia de Reis envolve diversos aspectos da cultura popular já enraizados desde os nossos antepassados. A partir da década de 1970, com o acentuado êxodo rural, diversos foliões do meio rural de nossa região se mudaram para a cidade, formando assim novas companhias de Folia de Reis.

Muitas dessas companhias de Folia de Reis conseguem manter sua devoção fazendo o giro em pequenas comunidades, fazendas ou pelos bairros das áreas urbanas. Ainda hoje, o comando das Folias de Reis segue nas mãos de leigos, que, por uma tradição familiar ou pelo envolvimento e dedicação à festa, têm a legitimidade e o respeito da gente local para manter-se à frente de sua organização. […] “expressões religiosas tradicionais que, sobrevivendo nas periferias das grandes cidades, ganharam novas formas, devido às especificidades do grande contexto urbano. Mesmo sabendo que essa população das cidades guarda muitas tradições de origem rural, sabemos também que ela já tem um estilo de vida próprio, estilo esse que certamente influi nas suas práticas religiosas” (OLIVEIRA, 1983, p. 911).

O movimento de Folia de Reis foi crescendo e hoje, no período do dia 24 de dezembro ao dia de Reis, que é dia 6 de janeiro, nas ruas da Cidade, podemos encontrar várias companhias. Nesse período em várias casas de moradores acontecem as festas, almoços, cafés e doces promovidos pelos moradores que oferecem aos foliões e visitantes. É feita também pelos foliões uma arrecadação de donativos que posteriormente são entregues ao Dispensário de São Vicente de Paula, que é responsável pelo recolhimento e pela distribuição entre os necessitados da cidade, entre estes os idosos que residem na Vila Padre Alaor.

Um tipo de saber que vive de reconstituir, o que já é conhecido de todos, que vive de recriar na memória de cada tipo de agente o repertório de crenças e ritos que fogem da prisão da leitura de todos, logo, de um tipo secular de controle erudito sobre a memória coletiva do popular. Ali é importante para o agente conhecer os segredos da cultura da classe e da comunidade e fazer sobre ela o mundo da religião local (BRANDÃO, 2007, p. 308).

Sendo filha de um folião (Alípio José de Sousa) e esposa também de um folião (Geraldo Roberto de Andrade) que, desde criança, faz parte de uma companhia de Folia de Reis da Comunidade do Sertãozinho (localidade rural onde funcionou a EPAMIG), mudando para a cidade os irmãos juntaram com amigos e conterrâneos e formaram nova companhia de folia que teve origem naquela onde o folião Geraldo e os irmãos começaram com seu pai e tios e que hoje faz o giro na cidade.

A turma antiga da Folia de Reis do Sertãozinho era composta pelo pai, Sudário Pereira Andrade e pelos tios Zeca e Toezinho e outros. Os filhos mais velhos de Sudário (José Eustáquio e João Bento) começaram a andar com os foliões e fazer parte da mesma. Os filhos mais novos pegando gosto daquela cultura e tradição também começaram a acompanhar ainda meninos e fazer parte também da folia aprendendo a cantar e a tocar os instrumentos. Esse grupo deu origem à Folia de Reis do Jardim Panorâmico (um dos bairros da cidade onde morava a família) e hoje é uma das companhias de folia da Cidade, ao qual tem como patrona a mãe Joana Luiza Andrade que sempre foi uma guardiã dessa cultura e motivadora do grupo. Tendo como componentes os filhos: José Eustáquio de Andrade (viola e canta na 1.ª voz), João Bento da Silva (sanfoneiro e canta na 4.ª voz), Antônio Bárbara de Andrade (violão, capitão ou 3.ª voz), Geraldo Roberto de Andrade (cavaquinho e canta na 5.ª voz), Iraci dos Reis Andrade (violão e canta na 2.ª voz), Valdeir dos Reis Andrade (canta na 3.ª voz), Simone Maria de Andrade (canta na 6.ª voz). O grupo de folia tem como membros ainda amigos e ou conterrâneos da família.

As festas de Reis da Folia do Jardim Panorâmico são realizadas todos os anos no mês de janeiro e tem sempre a participação dos parentes de Brasília, parentes esses que são esposa filhos e descendentes do Tio Zeca e outros conterrâneos aparentados oriundos do povoado da comunidade de Sertãozinho.

A festa é feita sempre no segundo sábado do mês pelo motivo que no dia de Reis ou na véspera do dia de reis a comunidade do Sertãozinho realiza a festa e para que os visitantes possam participar das duas festas. Os festeiros geralmente são os membros da família, filhos ou genros, noras ou netos, sobrinhos da patrona da folia e a passagem da coroa para o ano seguinte geralmente fica em família. É um momento de muita emoção, oração e união entre as pessoas participantes e colaboradores.

A tradição que atravessa gerações e demonstra uma das riquezas do folclore e da cultura de nosso país, é de caráter beneficente que visa arrecadar fundos para ajudar as pessoas que mais necessitam.

* Fonte e foto: Texto de Eugênia de Sousa Andrade publicado na edição de 26 de janeiro de 2019 do jornal Folha Patense.

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