MONSENHOR FLEURY E A ANTIGA MATRIZ: DUAS LEMBRANÇAS DE AFRÂNIO CAIXETA DE MELO

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Monsenhor Fleury era muito dedicado ao serviço do povo e do altar. Ele tinha grande zelo e gosto pelos objetos sagrados. Um dia, ele, reparando a parede acima do altar da antiga Igrejinha, que ficava nos fundos do antigo Largo da Matriz (hoje Praça Dom Eduardo), disse: “Acho que ali ficaria bem um desenho de Jesus Cristo, com a Hóstia na mão”.

Perguntando aos mais velhos sobre quem poderia fazer tal trabalho, foi-lhe indicado o pintor Alceu Amorim, moço filho de Patos de Minas que havia feito curso de desenho e pintura.

Eles o apresentaram ao Monsenhor Fleury. Conversando com o desenhista, foi logo ao assunto: “Quero um desenho de Jesus distribuindo a Hóstia aos apóstolos”. Deveria ter quatro metros de comprimento, por dois metros de largura, com muitos detalhes, bonito e expressivo.

Perguntou se ficava muito caro. Alceu disse que não iria cobrar o seu trabalho. Só que o material custaria muito. O padre disse: “Pode fazer”. O pintor queria dar uma demonstração artística. Ele fez uma pintura bem feita para agradar o padre e a comunidade patense e visitantes.

Ele começou a trabalhar com muita atenção e quando decorreram 6 meses, com a ajuda de Deus, o quadro ficou pronto. Todos que olhavam a estampa ficavam admirados. Então Mons. Fleury pediu ao senhor Alceu para colocar a estampa nas tábuas, ao centro do altar. Era um desenho muito bonito.

Foi feito num linho branco importado e com longa durabilidade. Todos que entravam na Igreja, inclinavam as cabeças em sinal de respeito e humildade a Deus, através da estampa de Jesus e seus Apóstolos.

Monsenhor Fleury Curado agradeceu ao senhor Alceu Amorim e se tornaram amigos. E o Monsenhor disse ainda: “Peço a Deus que continue sendo esse grande artista. Estarei sempre rezando por você, jovem Alceu Amorim”.

Anos depois, Mons., observou que as paredes da Igreja estavam sujas. Como ele já conhecia o pintor, José Prátis, perguntou a ele se podia fazer uma limpeza nas paredes, na parte interna. José disse que podia. E logo começou a trabalhar perto do altar.

Começou de maneira lenta, dando as primeiras broxadas cantando, com o tom de voz alta: “Os Anjos, todos os Anjos”. Fleury logo disse, que a Igreja era pobre e que ele deveria trabalhar com mais rapidez. José continuou a passar a broxa mais depressa, cantando letra de música de carnaval, fazendo espirrar tinta para todos os lados.

Monsenhor o mandou ir embora. No dia seguinte, ele mandou um portador chamá-lo até sua presença e lhe deu uns trocados. Ele foi encontrar com os amigos dizendo que não trabalhou e, mesmo assim, Fleury ainda lhe deu dinheiro. José, admirado e sorrindo perto dos amigos, disse que o padre era caridoso.

Hoje resta a tristeza e o pesar. Não existe mais a primeira Capelinha construída com todo o carinho pelos nossos avós. Isto é muito lamentável. Não ficou a lembrança para o povo de Patos¹.

* 1: Leia “Histórico da Primeira Matriz”.

* Fonte: Texto “Monsenhor Fleury, Senhor Alceu Amorim e José Prátis”, de Afrânio Caixeta de Melo, publicado em seu livro “Poesias, Memórias e Causos”, editado em 1997.

* Foto: Antiga Matriz, publicada em 19/08/2013 com o título “Antiga Igreja Matriz em 1916”.

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