DEIXAREI SAUDADE − 74

Postado por e arquivado em 2019, DÉCADA DE 2010, FOTOS.

Basta de fanfarronices, de falta de respeito com minhas paredes, minhas longevas e sofridas estruturas que serviram a muitos, que ofertaram oportunidades a muitas almas ganharem um dinheirinho muito do razoável. Daqui de dentro das minhas entranhas saíram milhares de sacas de arroz, que abasteceram o mercado patense, a região e até foram para fora do Estado. Eu era o centro de atenção de muitos negócios, reinava no meio de pouquíssimas e humildes construções, afamada pelo entra e sai de pessoas, de inúmeros caminhões à minha porta. Ouvi muito bate papo sobre o preço do cereal, ora os negociadores se lamentando, ora os ensacadores se jubilando pela lucratividade. Muito dinheiro correu aqui dentro de mim naquele tempo da minha importância. Sim, minha importância, eu tive muita importância. E agora, de que valeu toda aquela importância, de que valeu toda aquela movimentação, o som característico das máquinas que funcionavam o dia todo? Tudo isso se foi. E o que sou hoje? Nada mais que um depósito de tudo e de nada, até cozinha para as festas da Igreja Nossa Senhora da Abadia¹. Muito se fala sobre mim, sobre o meu destino, tétrico destino rumo à cidade dos entulhos. Já pressinto a primeira martelada, o início do desmanche em direção ao firmamento, ao panteão da glória de pertencer à História de Patos de Minas. Quando ainda não sei, mas um dia, inexoravelmente, vou partir para o além. E deixarei saudade!

* 1: O imóvel está localizado à Rua Padre Antônio de Oliveira esquina com sua colega Joaquim Basílio, lateralmente à Escola Estadual Monsenhor Fleury e a poucos metros da Igreja Nossa Senhora da Abadia, ao lado esquerdo da foto, no Bairro São Francisco.

* Texto e foto (06/01/2019): Eitel Teixeira Dannemann.

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