VLÁSSIOS JOANNIS NAKIS: ENTREVISTA À REVISTA CAIÇARAS

Postado por e arquivado em PESSOAS.

Nascido na Grécia, local onde surgiram os Jogos Olímpicos, Vlássios Joannis Nakis, atleta, excelente pai de família, marido exemplar, avô, e apaixonado pelo Caiçaras, este grego que está sempre com um sorriso na face, é o nosso entrevistado na edição de outubro. Vale a pena conferir a matéria.

A Grécia é um país localizado ao sul da Europa, fazendo fronteira ao norte com Albânia, Macedônia e Bulgária e com a Turquia ao Norte. O país é banhado a leste pelo Mar Egeu, ao sul pelo Mar de Creta e a oeste pelo Mar Jônico. Todos esses mares pertencentes ao Mar Mediterrâneo. Conhecida como o berço da civilização ocidental, a Grécia possui 11,4 milhões de habitantes.

Os gregos também desenvolveram uma rica mitologia. Até os dias de hoje, a mitologia grega é referência para estudos e livros.

É com um filho desta terra, que escolheu o Brasil para construir sua vida profissional, criar sua família e trabalhar muito, que a Revista Caiçaras entrevista nesta edição.

Talvez em razão de ter sido na Grécia Antiga, na cidade de Olímpia o local onde surgiram os Jogos Olímpicos em homenagem aos deuses, é que Vlássios Joannes Nakis, 76 anos, apaixonado pela vida e por esportes tenha escolhido o Caiçaras Country Clube como a sua segunda casa.

Quem é o grego Vlássios Joannis Nakis?

Nasci em outubro de 1942, portanto tenho hoje 76 anos. Sou filho de Joannes Atanássios Nakis e de Futula Joannis Nakis. Sou casado com Lourdes e tenho dois filhos: Joannis e a Alexandra e ainda dois netos: a Rafaela e o Bernardo, ambos filhos do Joannis.

Como foi a sua infância na Grécia?

Eu nasci na cidade de Neméa que fica na região de Corinto. Eu não¹ nasci na época da Segunda Guerra Mundial, então eu não tive infância nenhuma. Eu tinha de oito para nove anos e meu pai já me pôs a trabalhar e também a estudar.

E o senhor se lembra de alguma coisa da Segunda Guerra Mundial, apesar da pouca idade na época?

Não, eu não me lembro. O que eu recordo foi no pós-guerra porque aconteceu na Grécia outra guerra, que foi uma guerra civil entre partidos políticos gregos. Irmão matava irmão. Foi terrível isso?

E qual era a atividade profissional de seu pai e o que o senhor aprendeu a fazer ainda tão menino?

Meu pai trabalhava com plantio de uvas e me levava para que pudesse ajudá-lo. Como eu era muito criança tive a oportunidade de ficar muito junto dele. Sempre depois da escola ele me buscava e íamos juntos. Era uma chácara bem pertinho da cidade.

E quando aconteceu o despertar para que o senhor então se mudasse para o Brasil?

Nas décadas de 50 e 60, a juventude grega migrou em massa para outros países. Muitos para os Estados Unidos da América, depois Canadá, Austrália e Alemanha. Eu e mais alguns colegas viemos para o Brasil, principalmente porque nós não tínhamos as qualificações exigidas por estes países. Então eu e mais seis jovens com idade entre 18 e 19 anos escolhemos o Brasil e viemos para cá.

E como foi esta escolha, foi algo pessoal ou indicação do próprio governo grego?

O governo grego em parceria com o Brasil ofereciam um certo incentivo e apoio. Eu e todos os outros interessados em vir para o Brasil tivemos que estudar português duas horas por dia, durante seis meses. Ainda trabalhei neste período como marceneiro quase que o dia inteiro.

E a chegada aqui no Brasil, como aconteceu?

Nós viemos de navio. Foram aproximadamente 25 dias em mar aberto. Essa viagem se tornou uma festa porque éramos todos muito jovens, com muita energia e muita esperança também. Tinha italianos, espanhóis e muitos portugueses. Foi uma viagem inesquecível mesmo. A parte difícil foi quando chegamos ao Brasil, porque acabava ali a animação e começava a preocupação porque tínhamos que conseguir trabalho.

Aportaram no Porto de Santos?

Sim. No Porto de Santos. Depois seguimos para São Paulo. Lá tinha uma organização do governo brasileiro que recebia os imigrantes. Hoje é o museu da imigração, inclusive quando fui a São Paulo fui lá visitar esse museu. Localizei o meu nome nos arquivos. Eu fui um imigrante legal, documentado, autorizado a morar aqui, com carteira de estrangeiro, com carteira de trabalho e emprego também.

Então o senhor já chegou e começou a trabalhar imediatamente?

Por pouco tempo. A remuneração era muito baixa e fiquei pouco tempo em São Paulo. Me encontrei com um patrício meu que me convidou a desvendarmos o interior do Brasil. Fui aportar lá em Unaí, no noroeste de Minas Gerais.

Unaí, sertão, poeira, calor, como foi mais esta aventura sua?

Foi um susto tão grande que eu me virei para o meu patrício, olhando bem em seus olhos e perguntei: “É aqui que você mora? Você está regulando bem da cabeça ou não?” (risos). Não tinha água, não tinha luz, não tinha telefone, não tinha nada. Muito, mas muito difícil mesmo.

Mesmo assim o senhor persistiu e continuou em Unaí?

Ele tinha uma loja de confecções e eu comecei a trabalhar com ele porque a esposa dele era de Paracatu e estava grávida, quase ganhando neném. Me pediu para ficar até que seu filho nascesse. Eu fiquei lá até janeiro daquele ano e ia voltar para São Paulo e posteriormente voltar para a Grécia. Ele não deixou.

E ele te ajudou mesmo?

Abri minha primeira loja em Unaí e fiquei por lá mais três anos. Eu era um forasteiro, mas a maioria da população também era de forasteiros. Eu consegui fazer muitas amizades. As pessoas de Unaí me abraçaram como se eu fosse mesmo um deles.

Passado tantos anos o senhor ainda tem lembranças destas pessoas?

Fiz grandes amizades. Por exemplo, o Jorge Arthur Pena Fernandes, do cartório, o saudoso Sebastião Versiani. Este me ajudou demais. Foi um dos grandes amigos que fiz na vida. O Juca que foi vice-prefeito, que ainda mora lá. Enfim, eu ainda tenho contato com muitas pessoas de Unaí. Lembranças boas, fiz muitos amigos.

E a Lourdes, sua esposa, também a conheceu em Unaí?

O pai dela morava lá. Eu a conheci lá mesmo. Ela foi passear em Unaí e esteve na minha loja. Como eu tinha muitos patrícios em Patos, comecei a vir aqui com maior frequência para visitá-la e acabei me mudando para cá. Casei aqui, tivemos nossos filhos aqui e isto já tem 54 bons anos.

Nós queremos que o senhor nos conte como foi a chegada em Patos.

Antes de vender a minha loja em Unaí, primeiro eu comprei aqui outra loja, aqui pertinho, na praça da antiga rodoviária. Esta loja era do Michel, outro patrício meu. Assim que entrosei aqui vendi a loja de Unaí.

Aqui em Patos construiu muitas amizades. Quem são estes amigos seus?

São muitos né. O próprio Jorge Arthur é amigo meu até hoje, o Belchior do Café Expresso, o Assad da Casa São Jorge é amigão meu. Fui fundador do Lions Giovanini onde fiz inúmeros amigos. A gente corre o risco de não se lembrar de alguns no momento, mas fiz grandes e valiosas amizades em Patos de Minas.

E algum caso engraçado em Patos, se lembra de algum?

Vou contar o que aconteceu com o fotógrafo Chilon. O Chilon tinha algumas casas de aluguel lá na Rua Dr. Marcolino. Ele morava na casa de frente e alugava as do fundo. Um de seus inquilinos era o Sr. Armando, pai do Kalil, hoje comerciante na Rua Major Jerônimo. O Armando gostava de ouvir músicas do Egito, que nesta época estava em guerra e ele conseguia sintonizar frequências de rádios do Cairo somente a noite. E colocava o volume sempre muito alto. Isso causava aborrecimentos na Dona Olivia, esposa do Chilon, que não conseguia dormir. Certa vez o Chilon, com aquele seu jeito tranquilo, sempre cauteloso com as palavras se dirigiu ao Armando e lhe pediu para que abaixasse o som já que a patroa não conseguia dormir. Armando pegou na mão do Chilon e disse: “Combinado, Chilon. Armando baixa som, mas primeiro Chilon baixa aluguel”.

Vlássios, qual foi a maior emoção de sua vida? Qual o momento mais inesquecível?

Não tenho dúvidas. As maiores emoções de minha vida foram os nascimentos de meus dois filhos. Inesquecíveis para mim Momentos que marcaram demais.

Agora nós queremos saber como foi que aconteceu o seu início no Caiçaras Country Clube.

Logo que eu cheguei em Patos conheci o Sr. Geraldo Teba, pai do Tebinha, proprietário na época da Transportadora Santa Marta. E nós ficamos muito amigos porque eu comprava muito em São Paulo e trazia toda a mercadoria na transportadora dele. Parece que ele foi o primeiro ou segundo presidente do Caiçaras. Ele veio na minha loja, e me disse: “Vlassio, você vai comprar uma cota do nosso clube lá em cima”. Prontamente eu respondi: Não posso, sr. Geraldo, eu não tenho dinheiro pra comprar esta cota. Ele me respondeu que eu iria comprar sim a cota e que eu pagaria do jeito que eu pudesse. Não teve como não atender o pedido dele. Comprei a cota no primeiro lote das primeiras mil cotas.

Sempre praticou esportes ou o esporte entrou tarde na sua vida?

Mesmo sendo de família pobre, lá na Grécia, eu sempre gostei muito de praticar esportes. Aqui em Patos, eu tinha uma vespa, então desde que adquiri esta cota eu sempre fui muito presente no clube. No início da década de 80 para cá aí que me apaixonei mesmo. Não furei mais. Todo dia eu vou ao clube. No início era futebol, agora é na academia, na natação e na sauna.

Tem alguma passagem especial que o senhor se lembra no clube?

E como tenho. A festa de comemoração de meu casamento aconteceu no clube. Meu grande amigo Fernando Dannemann, que foi meu primeiro contador aqui em Patos, era diretor no clube e me deu de presente. Sou muito grato a ele por isso.

E quais as lembranças do clube em relação aquele período inicial, os primeiros anos do Caiçaras?

Só tinha uma piscina na parte de baixo e uma redonda bem menor para as crianças. Eu gostava de corridas. Eu corria na rua e ia para o clube fazer alguns exercícios, e nadava bastante. Bem depois, o Nelson Queiroz começou com uma academia, que ficava onde é a sala de reuniões e a secretaria. Éramos umas oito pessoas e só tinha um aparelho. O clube foi só crescendo, melhorando ano a ano.

E quem eram esses abnegados frequentadores?

Posso citar aqui o Inésio Lima, o Zizi, o Sr. Alderico, o Arthur do Café Cristal, o Sr. Lafayete, o nosso grande incentivador, Dr. Josa, enfim uma turma que vinha todos os dias, independente de ser frio, ter chuva ou calor. Vínhamos de janeiro a janeiro. Já teve vez de chegarmos aqui as cinco horas da manhã e pularmos o portão porque os funcionários se atrasavam.

O que representa o Caiçaras na sua vida?

O Caiçaras representa para mim no mínimo a saúde que eu tenho e a força para o meu trabalho. O dia que eu não vou ao Caiçaras eu não me sinto bem. Fica faltando alguma coisa.

E sobre a evolução que o clube teve nestes anos. Como o senhor enxerga isso?

Eu fui diretor duas vezes. É muito grande a evolução que tem acontecido. Dou nota 10 para as últimas diretorias também. Cada um fez o seu melhor no seu tempo, mas hoje o clube está nota 10. Não falta nada na minha avaliação.

No seu entendimento a gestão do Lamouier presidente, tem atendido as expectativas dos associados?

Tenho certeza que sim. Não falta quase nada no clube ao meu ver, mas antes de eu ir para o andar de cima, gostaria que fizessem mais uma grande piscina. Aí seria um clube completo.

Qual a mensagem você deixa para nós?

Quero deixar uma mensgame final cobrando mais a presença dos associados no clube. Uma grande estrutura, tudo bonito, organizado, com uma academia que vai ser a melhor da cidade. Então os associados devem participar mais, usufruir de tanta coisa boa que o clube oferece e também reclamar menos Meu filho frequenta quase todos os dias. Minha esposa vai, meu netinho já frequenta, daqui a pouco o outro neto também estará lá. Tenho muito orgulho de fazer parte deste clube. Aliás, acho que todo associado tembém tem. Muito obrigado!

* 1: Com certeza esse “não” é um erro de edição, porque a Segunda Guerra Mundial transcorreu entre 1939 a 1945, e ele nasceu em 1942, em pleno período das batalhas. O certo seria: Eu nasci na época da Segunda Guerra Mundial, o que justifica o “então eu não tive infância nenhuma”.

* Fonte e Foto: Entrevista publicada na edição de outubro/2018 da revista Caiçaras.

Compartilhe