FOI POR AMOR

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Confortados em uma confortável residência no Bairro Alto dos Caiçaras, o solitário casal comemorava sessenta anos de casados. Bodas de Diamante, lembrou a mulher, uma das mais desejadas de Patos de Minas em sua juventude. Abraçadinhos no sofá da sala esperando a chegada dos filhos, parentada e amigos, um emaranhado de lembranças fluíam por todos os poros. Foram voltando ao passado, os primeiros anos de vida em conjunto, o namoro e o prazeroso dia em que se conheceram num Baile da Primavera na Sociedade Recreativa Patense. De repente, o marido faz uma pergunta inesperada:

– Nesse nosso longo tempo juntos você alguma vez me traiu?

Entre assustada e surpresa, a mulher se levantou pronta para responder à altura aquela indignante pergunta, mas o homem falou antes:

– Calma mulher, estamos já velhos e cansados para brigas, e você sabe perfeitamente que eu era frequentador assíduo da zona boêmia da Rua Padre Caldeira em seus áureos tempos e você aceitava candidamente para manter a harmonia da família, por isso, nessas alturas do campeonato, não vai me contrariar nadica de nada se você também algum dia me traiu.

Ouvindo aquelas singelas palavras, ela voltou a sentar ao lado do esposo, pensou e resolveu confessar:

– Meu querido marido, por extremo amor a você eu te traí em três oportunidades.

– Você me traiu em três oportunidades e foi por amor a mim? Que trem esquisito é esse?

– Lembra quando você foi atropelado em Belo Horizonte e teve que fazer uma cirurgia urgente? Pois é, não tínhamos talão de cheque para pagar a caução e… aí eu conversei com o médico e enquanto você estava sob o efeito da anestesia eu sai com ele. Por isso a cirurgia foi realizada a tempo de salvar a sua vida.

O marido abaixou a cabeça e ficou sem saber o que falar.

– Lembra que o seu sonho era comprar aquela fazenda em Pindaíbas e o dono só vendia à vista? Pois é, saí com ele e você comprou a fazenda em 24 parcelas mensais.

O marido abaixou mais ainda a cabeça e, engasgado, continuou sem dizer nada.

– Lembra quando você invocou com política engajando-se como candidato a vereador na campanha do seu amigo Ataidão e ele te falou que para você ter alguma chance precisava de pelo menos 150 votos? Pois é, você foi eleito.

O desenrolar desse imbróglio ficou em família. Só se sabe que nunca mais houve comemoração de bodas entre eles.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 28/02/2013 com o título “Prefeitura em 1916”.

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