DEIXAREI SAUDADE − 86

Postado por e arquivado em 2019, DÉCADA DE 2010, FOTOS.

Coitada dessa minha colega aí de frente¹. Há muito tempo sinto no íntimo de meus tijolos o seu total abandono. Certa vez, se não me engano foi num dia de abril de 2016, teve um sujeito que a fotografou sabe-se lá por qual motivo². Isso me encucou, mexeu com cada telha de minha cobertura. Confesso que até senti uma pontinha de ciúme. Afinal, por que o sujeito perdeu tempo em retratar um imóvel abandonado e não a mim, que estou enxutérrima, linda e vendendo saúde? Ele, o tal sujeito, ficou um tempão olhando aquelas paredes maltratadas, aquelas janelas fechadas como um ataúde e, nem uma única vez, dirigiu seu olhar a mim. Depois que ele se retirou sem ao menos um suspiro para os meus lados, passei a ter mais pena ainda desse trambolho que só está esperando o seu dia do juízo final que nem muitas aqui ao meu entorno que passaram por isso e hoje cederam seus lugares ao progresso. O tempo passou e olha só, que surpresa, o tal sujeito da câmera deu o ar de sua graça e, arrependido, veio agora me fotografar. Mas por que esse olhar triste e pesaroso, por que foi embora balançando negativamente a cabeça? Será que é uma premonição a meu respeito assim como a respeito da colega ai ao lado? Será que ele fez questão de me fotografar para eu ficar eternizada na História de Patos de Minas? Não acredito nisso, mas, se assim for, se algum dia me derrubarem para construir um edifício, deixarei saudade!

* 1: O imóvel localiza-se na esquina da Avenida Paranaíba com a Rua Rio Grande do Sul, no Bairro Brasil.

* 2: Leia “Deixarei Saudade − 3”.

* Texto e foto (13/06/2019): Eitel Teixeira Dannemann.

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