PESSIMISMO EM 1907

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TEXTO: JORNAL O TRABALHO (1907)

Deixariamos de cumprir um dos nossos mais sagrados deveres, emquanto pensamos da publicação de contos e ninharias, cousas que deleitam, é verdade, mas que pouco dizem respeito aos interesses do nosso Municipio, cousas que agradam até o publico mais sensato, mas que não passam de futilidades, si deixassemos de correr os olhos no correr das cousas da terra.

O que mais pesa é o triste pensamento que me envolve quando vejo as cousas tão negras. Si escrevo me criticam, si faço a minha critica logo dizem que não devo fallar da nossa santa terra. Vê-de, caros leitores, em que embrulhada me vejo? Mas nesses rabiscos não pretendo fazer dessas criticas caprichosas e sem fundamento, viso tão somente os interesses do povo e ao mesmo tempo auxiliar a nossa edilidade, aos nossos bem intencionados Camaristas nessa tarefa que tanto lhes acabrunha.

Quanto é triste governar! Só quem governa é quem sabe.

Em todo caso, como fiscal ad hoc, irei fazendo de vez em quando as minhas queixas.

E’ verdade que todos os Municipios Mineiros é o nosso o que menos imposto recebe do povo, é o mais generoso!

Muito bem − vamos trabalhar nas novas leis, no melhoramento das nossas ruas, no concerto das pontes e estradas, no encanamento d’agua, nem mesmo que nos custe augmento de novos e devidos impostos.

Pobres de nós, quando viajamos da sede do municipio para qualquer dos arraeaes visinhos! Quantas difficuldades, quantos perigos nesses corregos. Que fazem os senhores fiscaes que não dão aviso aos senhores camaristas? Reconheço que são elles os unicos culpados.

E as nossas ruas? Que perigo! Porcos as varas, vacas em bandão, cavallos e buros em penca, egoas as manadas, que horror! buracos, lama, um mattagal nas ruas e nas praças, cercas de madeira nas casas do centro da cidade… que de implicancias, quantos desarranjos!!

Os jogadores, os noctivagos e que pena… até mesmo as senhoritas veem-se obrigados − elles e ellas − a percorrer as ruas, a praça principal com sapatos de cachorro com a unica vantagem da escuridão da noite que nos proteje, pois nem siquer uma vela, mesmo de sebo, é gasto na illuminação, sic…

* Fonte: Texto publicado com o título “Implicancias” na edição de 20 de janeiro de 1907 do jornal O Trabalho, do arquivo da Hemeroteca Digital do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, via Altamir Fernandes.

* Foto: Primeiro parágrafo do texto original.

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