PESSIMISMO EM 1911

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TEXTO: JORNAL O COMMERCIO (1911)

O Municipio de Patos é um dos mais vastos do Estado de Minas; contêm uma população de 40 mil habitantes, approximadamente, repartida entre os cinco districtos de que compõe; sua renda, arrecadada pela Camara, pode ser calculada em cerca de trinta contos; seu eleitorado é, actualmente, superior a dois mil cidadãos, todos, ou quasi todos, prestigiando os governos municipal, estadoal e federal; sua Séde, que é esta Cidade, contêm, talvez, mais de dois mil habitantes.

Porque motivo, pois, nada conseguimos em prol desta Cidade, Sede, e dos districtos?

Serà por motivos de ordem politica local?

Não o acreditamos nem suppomos, porque a Camara Municipal, filiada ao partido republicano Mineiro, é unanime e não encontra embaraços em suas resoluções.

Será porque o Municipio tenha se rebellado contra o governo do Estado, insurgindo-se contra as candidaturas estadoaes, recommendadas pela comissão executiva do partido republicano Mineiro?

Não, porque o Municipio de Patos, de tempos a esta parte tem, prestigiando o governo estadoal, dado provas de sua disciplina partidária.

Serà porque tenha se rebellado contra as candidaturas federaes?

Não, porque desde, muito, nenhuma destas candidaturas tem sido combatida nem repellida.

Porque então, perguntamos nòs, não cogitam os poderes municipal, estadoal e federal dos melhoramentos de que necessitam a nossa Cidade e nosso Municipio?

Na Cidade é como está á vista de todos, − buracos por toda a parte, o que significa um perigo para os transeuntes, principalmente à noite, pois só temos iluminação lunar; os cães, a qualquer momento, dia ou noite, a nos aggredirem, sem respeito á integridade de todos nòs; os cabritos e os carneiros não deixam telhas sobre os muros e estão a invadir, sem a menor cerimonia, os quintaes; água nós não temos; só a conseguimos nas cisternas ou então, no tempo da secca, canalisada nos barris ou pipotes, conduzida por bois, cabritos ou carneiros.

Até aqui tratamos de serviços, cuja execução compète á Camara Municipal.

Não pode esta realisal-os? Que sim é a nossa resposta.

Porque não o faz?

Será porque os Municipes não pagam impostos?

Não, porque contra isto protestam os balancetes da Camara.

A Cadêa acha-se em estado deploravel, ameaçando ruina, tanto que a Camara d’ali retirou toda sua mobilia e mudou o local de suas reuniões; ali sò ha limpeza no tempo das chuvas, feita pelas enxurradas; a casa de instrucção publica é simplesmente uma vergonha, está deteriorada e não possue mobilia alguma; a ponte sobre o Rio Paranahyba, a 3 kilometros desta Cidade, está prestes a ruir, causando desgraças. São proprios estadoaes, segundo dizem.

Porque razão o Estado não cuida destes melhoramentos, evitando os inconvenientes apontados?

Estrada de ferro… temol-a promettida ha cerca de trinta annos, mas, parece, só a veremos por um oculo. Telegrapho? Idem. Na ultima sessão do Congresso Nacional foram lembradas e approvadas medidas de interesse para diversas zonas do triangulo Mineiro, na 6.ª circunscripção eleição, mas o nosso querido Municipio ficou em absoluto e inqualificavel esquecimento.

Porque?!!!

Sempre e sempre no olvido. Ao longe, Patos é a terra dos bandidos, dos malfeitores, dos sicarios, e nenhuma voz se levanta em sua defesa; aqui, ali e acolá nenhum interesse pelo desenvolvimento, pelo seu progresso.

Porque?

Patos, 19−3−911.

NULLIUS¹.

* 1: Pseudônimo de Alfredo Borges, editor e proprietário do jornal O Commercio.

* Fonte: Texto publicado com o título “Porque?” na edição de 19 de março de 1911 do jornal O Commercio, do arquivo da Hemeroteca Digital do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, via Altamir Fernandes.

* Foto: Primeiro parágrafo do texto original.

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