MARIA OLÍVIA ÁLVARES DA SILVA CAMPOS ATÉ 1981

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Filha de Martinho Álvares da Silva Campos e Eliseta Marcolino Duarte, nascida em Paracatu (MG). Fez o curso primário no Grupo Escolar “Afonso Arinos” daquela cidade e o ginasial no “Liceu” de Nova Lima e no Colégio “Imaculada Conceição” de Montes Claros.

Transferiu-se depois, com a família, para Patos de Minas e cursou o normal no Colégio “Nossa Senhora das Graças”, sendo, por ocasião da formatura em 1958, a oradora da turma.

Muito atuante durante toda a vida estudantil, fez parte da diretoria de um grêmio geral responsável pelas organizações sociais estudantis do colégio. Foi a primeira aluna do colégio a lecionar nele. Primeiramente como professora de ginástica e depois, como substituta de vários professores em várias matérias, “muitas vezes, sem ter muito conhecimento delas, claro”, sendo grandemente incentivada pelo Prof. Zama Maciel, “por quem nutre grande admiração”. Sentia-se entretanto, bastante insegura, pela sua falta de experiência e pela imaturidade para o exercício do magistério. Experimentou tudo “com uma certa emoção de aventura, que de certa maneira a fascinava”.

Começou a lecionar em Jardim de Infância, aos 14 anos de idade e durante todo o curso de formação, lecionou por quase todos os grupos escolares da cidade, em substituições, já percebendo um salário “que lhe permitia ‘cavar’ sua independência financeira”.

Já aos 16 anos, custeava todas as suas despesas e juntamente com um grupo de colegas da mesma idade, sentiam-se tratadas como pessoas adultas, talvez, “por serem responsáveis demais”.

Presidiu um movimento de jovens (Movimento de Ação Católica), que tinha a participação do Padre Josias e do Padre Almir, “que estendiam bastante a juventude e com quem conviviam ‘numa boa’, com a proteção do Bispo D. José Coimbra, com quem se desafogava muitas vezes, quando as coisas lhe pesavam muito, lá fora”. Chegou a ser convidada, por Dom Helder Câmara, por carta, para presidir o movimento no Rio de Janeiro e não aceitou, “por ter consciência de sua pouca experiência”.

Concluído o curso normal começou a lecionar e naquela época, “sentia-se admirada por todos, passando a ser mais popular do que mesmo o prefeito”.

Foi presidente do Centro Catequético Santa Terezinha e do Bairro da Lagoa, “onde sentia cada vez mais, o carinho das crianças, que lhe faziam festas, ofereciam flores e faziam discursos, o que lhe causava grande felicidade e a tornava um pouco vaidosa”.

Julga “haver contraído para com Patos, uma dívida que nunca poderá pagar, por não ter com que: aprender a amar as pessoas, pois sentia-se amada demais. Aprendeu a sentir saudades, o que é uma coisa muito boa. Era conhecida de todos, amava a todos e sentia-se amada por todos”.

Quando em 1958 se realizou a I Festa do Milho¹ foi apresentada como candidata a Rainha do Milho e ela se lembra: “eram os fazendeiros contra os comerciantes (eu e Gelsa Carvalho); a cidade inteira se movimentou. O sistema da eleição, foi pela venda de votos durante a campanha. Havia uma deliberação de que não se aceitariam cheques no momento do baile − ponto culminante da eleição − mas somente dinheiro e Eurípedes Pacheco e Mozar Afonso, fizeram um “banquinho dentro do baile, onde os cheques eram descontados”.

Veio então, a grande consagração e Maria Olívia, foi feita PRIMEIRA RAINHA DO MILHO².

Logo depois, resolveu ir para Belo Horizonte, para entrar em uma faculdade, mas não sabia o que iria fazer. Fez testes vocacionais, que lhe indicavam sempre, a área de matemática, “coisa que ela nunca curtiu muito” e acabou decidindo-se pelo vestibular de Direito, pois muitas pessoas de sua família haviam sido bem sucedidas no setor. Na última hora e casualmente, chegou-lhe às mãos um prospecto de vestibular para Teatro. “Achei interessante. Estava na porta da Escola e subi, para saber de que se tratava e por incrível que pareça, fui pressionada e quase obrigada a fazer minha inscrição”.

Apesar das preocupações que lhe sobrevieram, por não conhecer nada de teatro, recebeu o apoio e o incentivo de muitas pessoas e animou-se a prestar o vestibular “já que estava inscrita” e apesar do grande medo, acabou sendo classificada em 1.º lugar.

Resolveu então, dedicar-se ao curso com grande empenho. O primeiro espetáculo público da Escola, foi “Três Irmãs”, que concorria com outros espetáculos da cidade, mesmo os profissionais e ela foi premiada pelo jornal Estado de Minas, com o título de “Atriz Revelação do Ano”.

Com o mesmo espetáculo, foi ao Rio de Janeiro no Festival de Estudantes, onde havia 700 candidatos e mais uma vez, foi vencedora, com o título de “Melhor Atriz”.

Como profissional, sua primeira peça foi “A Noite dos Assassinos”, com a qual ganhou o prêmio de “Melhor Atriz”, no Festival Internacional, realizado em Pelotas (RS).

Mais tarde, recebeu também, do Governador, uma “Comenda de Honra ao Mérito Artístico de Minas Gerais”, medalha bastante significativa para sua carreira artística, uma vez que é extremamente caseira e participa de teatro apenas no palco e nos ensaios.

Tem sido muito bem sucedida na carreira, pois, como frisa muito bem, teve uma sorte enorme de ser muito querida e protegida de todas as pessoas, as quais têm colaborado muito para o seu sucesso.

Na carreira artística a disputa é muito grande e além disto, ela sabe que na vida, conforme a fábula “O velho, o menino e o burro”, nada agrada a ninguém, mas apesar disto, tem vivido em harmonia com todos e está feliz, na carreira que abraçou.

Fez vários espetáculos, muitos deles muito importantes e que qualquer atriz gostaria de fazer. Percorreu várias capitais brasileiras com espetáculos: São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Salvador, Recife e Fortaleza.

No interior, já levou teatro apenas a Patos de Minas, por quatro vezes e gostou muito da experiência, apesar das dificuldades. Recebeu uma colaboração extraordinária de todos e não pode reclamar nada, segundo ela, a não ser o fato “de não termos uma casa de espetáculos, o que é uma pena, pois há aqui um bom nível de ensino e um número enorme de estudantes que apreciam a arte”.

São inúmeras as peças que já fez: “Bodas de Sangue”, “Três Irmãs”, “Véspera de Reis”, “Os Inimigos Não Mandam Flores”, “A Noite dos Assassinos”, “O Contratador de Diamantes”, “O Beijo no Asfalto”, “O Interrogatório”, “A Casa de Bernarda Alba”, “Pelos Caminhos de Minas”, “Grande Sertão − Veredas”, “Onde tem bruxa tem fada”, “Álbum de Família” e outras.

Está agora ensaiando “Bodas de Papel”, com estréia marcada para o dia 24 deste.

É também funcionária pública, carreira que começou muito cedo e não quiz abandonar. Trabalha na Imprensa Oficial, onde faz a revisão do “Minas Gerais”, “o que realiza com muita tranquilidade e muita paz e onde encontra uma convivência muito agradável com os colegas de trabalho”.

Conclui dizendo: “fico muito feliz por ter a Revista se lembrado de mim e agradeço por isso; faço uma torcida enorme, para que a Revista de vocês tenha sucesso”.

* 1: A 1.ª Festa do Milho ocorreu em 1959, de acordo com o livro “A Festa do Milho Através dos Tempos”, de Marialda Coury.

* 2: Maria Olívia Álvares da Silva Campos foi, em 1960, a 2.ª Rainha do Milho, e o título de 1.ª Rainha do Milho (1959) cabe a Helena Alves da Silva, de acordo com o livro “A Festa do Milho Através dos Tempos”, de Marialda Coury. Leia “Coroação da 1.ª Rainha do Milho”.

* Fonte: Texto publicado na coluna Conterrâneo Ausente com o título “Maria Olívia Álvares da Silva Campos” e subtítulo “Atriz consagrada do Teatro Mineiro, Funcionária da Imprensa Oficial, primeira Rainha do Milho²” na edição n.º 23 de 30 de abril de 1981 da revista A Debulha, do arquivo de Eitel Teixeira Dannemann, doação de João Marcos Pacheco.

* Foto: Arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho.

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