CASAMENTO PREMONITÓRIO

Postado por e arquivado em CANTINHO LITERÁRIO DO EITEL.

Nos idos tempos era muito comum o casamento arranjado, isto é, o pai, endinheirado, costumava arranjar um noivo igualmente endinheirado para a filha. Numa certa ocasião, um rico fazendeiro viúvo, já setentão, caiu de amores por uma donzela de 16 anos, filha de seu melhor amigo, também fazendeiro graúdo, ambos moradores à Avenida Getúlio Vargas. O pai da moça, já pensando na dinheirama do amigo pretendente, topou sem pestanejar. Mas, óbvio, a filha entrou em desespero. Mas o pai bateu o martelo:

– Minha filha, meu amigo tem muito dinheiro, não está bem de saúde e, então, pense bem, quando ele morrer você terá toda a vida pela frente e terá o rapaz que quiser. Portanto, vai se casar com ele, sim!

A coitadinha amuou, chorava sem parar pelos cantos da casa. A mãe, outra coitada que foi casada também por interesse, nada podia fazer por ela.

Eis que o rico pretendente da donzela tinha um filho que estudava no Rio de Janeiro e chegou recentemente à Patos sem ainda o “de Minas” com o título de Doutor. Quando ficou sabendo do que se sucedia, bronqueou com o pai:

– Que é isso, pai, está pirando, você com 73 anos vai se casar com uma moçoila de 16?

O velho não deu ouvidos ao filho, que resolveu conversar com a garota:

– Eu sei que você não quer em hipótese alguma se casar com meu idoso pai, faltam ainda três meses e sabe-se lá o que pode acontecer até lá.

Aconteceu, então, que todos os dias o jovem doutor ia visitar a moça para consolá-la. Não deu outra: se apaixonaram. Essa providencial paixão deu-lhe coragem para ir até a cada do velho. Com muita firmeza, disse a ele tudo o que precisava ser dito e que se jogaria no Rio Paranaíba porque preferia morrer a casar com ele. A decepção foi tão grande para o pretendente que o homem adoeceu, foi internado no Hospital Regional e três dias depois faleceu.

Foi uma enorme tristeza para o filho, que se sentiu culpado pela morte do pai por ter se apaixonado pela jovem que ele ia desposar. O jovem ficou de luto durante seis meses e sem falar com a moça. Findo o luto, decidiu que era o momento de arrumar uma esposa. Ele então arrumou uma esposa, nada mais e nada menos, que ela, a pretendida pelo finado pai. E tudo ficou em família. Tinha que ser!

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 28/02/2013 com o título “Prefeitura em 1916”.

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