DEIXAREI SAUDADE − 92

Postado por e arquivado em 2019, DÉCADA DE 2010, FOTOS.

Certa vez um carrão parou à minha porta¹. Apeou uma figuraça que eu vou te contar. Todo alinhado, bateu palmas. Meu dono atendeu e foi pegar suas tranqueiras de trabalho. Enquanto isso a peça ficou me olhando com cara de desdém. Devia estar com pena do meu dono por morar em tão humilde casinha. Claro que ele se sentiu o máximo, poderoso, e se perguntando como alguém poderia viver tão simploriamente. Se eu pudesse falar diria na lata: − Dane-se você, seu almofadinha, vai catar lata, sô! Pois é, sãos esses caras abonados que mandam na Cidade e se consideram deuses. Não há humildade em suas almas e nenhum de seus neurônios tem a capacidade de perceber que um dia nada mais serão do que carne podre, assim como serei um monte de entulhos. Nunca tive inveja das construções ricas justamente por isso: todas nós seremos, um dia, um monte de entulhos. E quando hoje, totalmente abandonada como estou, percebo a mudança estrutural que acontece não só ao meu redor, mas em toda a Cidade, é que minha consciência mais e mais se prepara para o fim. Humilde, fui erguida; humilde, serei demolida. Não sou melhor do que nenhuma outra casa, mas só por ser humilde, sou diferente de muitas. E o tal endinheirado não percebe que seu casarão e eu temos a mesmíssima importância para a História de Patos de Minas. E assim, quando eu me transformar em nada para ceder lugar ao progresso, deixarei saudade!

* 1: O imóvel localiza-se à Rua 31 de Março entre suas colegas Deocleciano Mundim e Oscar de Souza, no Bairro São Francisco.

* Texto e foto (25/07/2019): Eitel Teixeira Dannemann.

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