GERALDO COIÓ

Postado por e arquivado em CANTINHO LITERÁRIO DO EITEL.

A Creuza queria e muito que o seu querido filho Geraldo se casasse com a Filomena, a querida filha de sua amiga Margarida. E a Margarida queria e muito, também, que a Filomena se casasse com o Geraldo. Ambas as famílias moravam no recém-inaugurado Bairro Guanabara¹ e se visitavam continuadamente. A moça era desenvolta, falante, enturmada e amava Cinema e Teatro. No outro lado da moeda ficava o moço: tímido, caladão, desenturmado e amava gibis do Tarzan, Mandrake, Fantasma, Flash Gordon e por aí vai.

A Creuza e a Margarida faziam de tudo para aproximar os dois jovens, mas o Geraldo mal conseguia pronunciar algumas palavras perante a Filomena por causa do seu acanhamento. E a Creuza dizia:

– Filho, você precisa tomar coragem para se declarar à Filomena. Na próxima vez, com muito carinho, pega na mão dela e diga bonitas palavras.

E lá estava o Geraldo frente à Filomena. Criou coragem, pegou suavemente uma de suas mãos, encarou seus lindos olhos, pensou bem no que dizer e lascou:

– Vou quebrar seu dedinho!!!

Lógico que a Filomena se mandou. E a Creuza:

– Pelamordedeus, Geraldo, que tolice a sua, você tem que pegar na mão dela e dizer coisas açucaradas que lhe toquem o coração. E o Geraldo com a mão da moça entre as suas:

– Chocolate, pudim, rapadura, bala, quebra-queixo, açúcar, melado…

A Creuza se descabelava tentando consertar a pasmaceira do filho. Então recomendou que ele conversasse com a Margarida sobre coisas da natureza. E o Geraldo encarando novamente a moça mandou ver:

– Árvore, cachoeira, lagoa, cipó, mico, tatu-peba, montanha, carrapato…

E assim, após mais algumas tentativas, e de comum acordo, a Creuza e a Margarida desistiram da empreitada. A vida seguiu, a Filomena participou de um grupo de teatro da Cidade, foi candidata à Rainha do Milho e depois se mudou para Belo Horizonte e por lá formou família. O Geraldo? Pois é, a vida lhe consertou e hoje, casado e com três filhos, é aposentado pelo Banco do Brasil.

* 1: Leia “Bairro Guanabara − 1971”.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 28/02/2013 com o título “Prefeitura em 1916”.

Compartilhe