MOÇO DA VELA, O

Postado por e arquivado em LENDAS.

Nos idos tempos, lá para as bandas do Campo de Aviação¹, moravam Jandira e sua mãe. O que a filha mais gostava de fazer era ficar na janela que dava para o passeio até altas horas da noite, na esperança de um dia passar por lá um príncipe encantado. A mãe, não concordando com aquela mania, sempre alertava:

– Moça virgem que fica escorada na janela voltada pra rua depois da meia-noite acaba por receber o que não procura.

De dada adiantavam as admoestações, a Jandira não obedecia de modo algum. Assim, todas as noites, lá se postava ela na janela, até de madrugada, indiferente a tudo, esperando o seu príncipe encantado, e essa desfaçatez deixava muito triste a sofrida mãe.

Certa noite, onze e meia, postou-se diante dela um lindo rapaz com uma vela acesa na mão direita. A moça admirou-se com tamanha beleza do moço e ficou extasiada quando ele apagou a vela dizendo:

– Prezada donzela, por favor, repouse essa vela abençoada ao lado direito de seu leito. Dentro de trinta minutos voltarei para pegá-la.

Ditas as palavras, o moço se retirou. Jandira, então, como sempre avoada, após executado o pedido, voltou à janela para esperar o misterioso príncipe encantado.

Exatamente à meia-noite, apareceu o donzelo solicitando a vela. Jandira, emocionada, foi buscá-la. Em lá chegando, quanto pavor sentiu ao não ver a vela e sim um esqueleto deitado em seu leito. O monte de ossos ergueu-se com um sorriso sinistro, passou por ela e saiu pela janela. Chegando lá, Jandira não viu o seu príncipe encantado, mas a caveira lhe dando adeus e logo depois desapareceu.

Dizem as boas línguas que a Jandira, depois da trágica experiência, nunca mais ficou escorada na janela e que, mesmo meio abobalhada, encontrou um príncipe encantado. Durante muitos anos, até mesmo depois que a CEMIG se instalou no antigo Campo de Aviação, muitas moçoilas desobedientes se viram diante do moço da vela, e o resultado foi o mesmo da Jandira, até que ele nunca mais apareceu. Até hoje, algumas mães ligadas à gente daquele tempo, suplicam aos céus que ele volte!

* 1: Leia “A Chapada na Década de 1940”.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann, coletado de antigos moradores do ex-Campo de Aviação.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto de rfitaperuna.com.br.

Compartilhe