MÁRIO GARCIA ROZA ATÉ 1981

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Nascido em 15 de janeiro de 1924 na Fazenda “Chapadão de Ferros”, hoje, município de Guimarânia, onde residem seus parentes, Garcia Roza, Gonçalves da Cunha e Gonçalves dos Anjos. Em outubro do mesmo ano, seu pai João Garcia Roza, com a esposa D. Cherubina Gonçalves da Cunha e seus 14 filhos, transfere-se para Patos, onde em 16/12/30, veio a falecer.

Aos nove anos, inicia sua “Jornada da Vida”, junto à sua velha, energética e exigente mãe e seus irmãos, dos quais é o caçula. Quando em 1932, sediou-se aqui o 20.º Batalhão de Polícia, consequência da Revolução de 1930, juntamente com seus colegas Quinzinho Pintado e seu irmão Oto, Antônio e Wiliam Corrêa e outros, engraxando as botas dos 600 soldados aqui sediados defendia seu dinheiro “para os picolés do Laurindo Borges¹; as figurinhas holandesas; os faroestes do Cine Glória² do Capitão Juca Santana e do Cine Olinta³ do Capitão Artur e os bolos do Tito Silva4“.

Inicia seus estudos no Grupo Escolar “Marcolino de Barros”, onde teve apenas duas professoras, D. Zenith Santos e D. Célia Mourão “ambas, as moças mais lindas de Patos”. Em 1933, faz parte da primeira turma a receber seus diplomas no atual prédio daquele estabelecimento5. Em 1934, matricula-se na Escola Normal Oficial, “o que não era fácil, pois eramos um cinco ‘marmanjos’, entre mais de duzentas mocinhas, mas não havia outra escola e eu queria estudar de qualquer maneira”.

De engraxate, passa a jornaleiro, aos doze anos de idade, representando “O Cruzeiro”, “A Noite”, “Jornal do Brasil”, “O Tico-Tico”, “O Malho” e outras empresas, das quais, possui até hoje, duplicatas em seu nome. “Para mim, era a ‘melhor coisa do mundo’, receber os pacotes, ‘devorar’ tudo primeiro e depois sair a vendê-los”.

Aos 15 anos, passa a exercer uma outra profissão, pois já era jornaleiro e estudante. Inicia a profissão de barbeiro e relembra com saudade os ilustres homens que passaram por suas mãos: Prefeito Camundinho, Major Edmundo Maciel, Cel. Farnese Maciel, Virgílio Borges, Abner Afonso, Cel. Osório Maciel, Aurélio Caixeta de Melo, Abílio Caixeta de Queiroz, Virgílio Queiroz, Ilídio de Melo, José Juca Borges, Severino Rezende, Dr. Itagiba Ferreira, Capitão Hugo José de Souza, Zama Alves Pereira, Dr. Eufrásio Rodrigues, Gastão Mourão, Joaquim José de Souza, Antônio Queiroz de Melo, João Rocha Filho, Olímpio Rocha, Anésio e Patápio Rocha (colega), Cel. Olímpio de Melo, José de Melo Sumbém, Dr. José Olímpio de Melo, Dr. João Borges e inúmeros outros, destacando especialmente o Monsenhor Fleury, “que atendia em sua residência e faço votos filiais que Deus o conserve entre nós por longos anos6“.

Em 1941, foi um dos sessenta integrantes da primeira turma do TG 91 e neste ano, tendo já cursado a Escola Normal, candidatou-se à Escola de Cadetes do Exército e por falta de uma carteira de identidade perdeu a inscrição.

Em 1945, com o mano Genésio, instala a “LOJA DA SEDA”, no Edifício da Recreativa, especializada em calçados e tecidos finos, havendo no ano anterior, sido gerente da Rádio Clube de Patos, sendo seus Diretores, os saudosos fundadores.

Em 1947, ainda com o irmão Genésio, ingressa no comércio cerealista e adquirindo a Fazenda Limoeiro, projetam a atual VILA GARCIA, onde constroem armazéns para 50.000 sacas de cereais, instalando maquinário para milho, feijão, arroz e café. Fazem a doação da área para a Vila Padre Alaor7 e vendem os outros lotes.

Em 1952, partem para loteamentos, realizando os bairros “Senhora das Graças” (onde doam um quarteirão para o grupo o Grupo Escolar “Abner Afonso”), “São José da Lagoinha”, “Paranaíba”, “Santa Terezinha” e “Boa Vista” (onde doam área para a Casa das Meninas e APAE). “Vendemos na época, cerca de 5.000 lotes e hoje, 28 anos depois, ainda estamos dando escrituras, aos relapsos ou aproveitadores, nem sabemos”.

Em 1954, acontece uma verdadeira transformação na vida dos dois irmãos − “embarcamos na política”, diz ele “e aconteceu em Patos, naquele ano, uma verdadeira revolução política. A oposição quase cinquentenária dos Borges (PSD sempre vivo e atuante) conseguiu a maior vitória da história política patense: dos 12.316 votos apurados, o mano Genésio obteve 7.216, com uma vantagem 2.116 votos. Foram eleitos Vereadores pelo PDS: Dr. Joseph Borges de Queiroz, Randolfo Borges Mundim, José Anicésio Vieira, Otacílio Peluzzo de Almeida, Gerson Gomes Carneiro, Hilário André de Oliveira, Olegário Pereira Caixeta, José Porto de Morais, Alexandre José da Silva e Dr. João Borges. O dia daquelas eleições, 03/10/54, marcou uma nova época na política patense, pois a duas facções de então, passaram a conhecer derrotas e vitórias”.

“Fui convocado para seu Chefe de Gabinete e passamos todos nós, componentes do Executivo e Legislativo Municipal (PSD) a enfrentar uma oposição acirrada e quase de inimizades violentas. Não conformada com a derrota nas urnas, a oposição (UDN), tornou-se imensamente ofensiva, sob o comando de um dos maiores líderes de nossa política, o Dr. Zama Maciel, culto, imbatível na tribuna, de grandiosa verve e ironia, honesto e condutor de uma bandeira (Dias Maciéis) até então jamais vencida na história política patense. A esse valoroso patense, de saudosa memória, prestamos a nossa homenagem, pois em grande parte, graças à sua atuação oposicionista na Egrégia Câmara dos Vereadores, o nosso Governo Executivo, auxiliado por uma plêiade de abnegados funcionários, muito realizou a bem da comunidade patense, contando com o imprescindível apoio de nossa bancada de Vereadores pessedistas”.

“Edificamos na cidade os atuais Grupos Escolares ‘Santa Teresinha’, ‘Prof. Modesto’ e ‘Monsenhor Fleury’ e no município, os Grupos Escolares do Areado, dos Afonsos, do Ponto Chic, das Alagoas, da Limeira, do Horizonte Alegre, do Limão e do Campo Alegre. Edificamos o Mercado Municipal, inaugurado em janeiro de 1959, com 95 lojas; a Sede do Tiro de Guerra (atual Hospital Vera Cruz), a atual sede do aeroporto, com prolongamento da pista8; a Usina das Lages, com 1.000 Hp, maquinário alemão, atualmente servindo a Lagamar e Vazante9; projetamos e distribuímos 350 lotes da Vila Operária, embora difamados pela oposição como perseguidores dos pobres, em virtude de enchentes que atingem a área a cada vinte anos, embora havendo projetado uma proteção da margem do Paranaíba10. Hoje estamos sabendo que aquela vila está sendo asfaltada, para alegria de mais de mil moradores11. Parabéns do Dr. Dácio”.

“Conseguimos com o Governo Federal, a construção do prédio dos Correios e doamos a área necessária, junto ao Forum12. Construímos 50.000 metros quadrados de calçamento poliédrico com reajuntamento asfáltico, inclusive no trecho da Rua Major Gote, até então, alagadiço e intransitável (Mamoré). Duplicamos a área do cemitério e construímos junto dele, 60 casas populares. Entretanto, o que considero de maior valor em nosso governo, foi a MANUTENÇÃO DE 108 ESCOLAS RURAIS no município, conseguindo então, o primeiro lugar do Estado”.

“Considero-me hoje, em completo ostracismo político. Aqui na capital, ignoro por completo o que aí se passa; fiquei imensamente ‘marcado’ como político, sem o ser, pois não consegui nem mesmo, tomar parte do Diretório Municipal de nosso partido. Em minhas constantes idas a Patos, às vezes, algum amigo, não da cúpula, fala sobre minha futura candidatura a Prefeito de Patos, mas logo penso: estou fora e não tenho nenhum direito de tomar o lugar de diversos militantes ativos e capazes. Entretanto, modéstia à parte, para bem administrar um município, não vejo segredos ou dificuldades, pois bastam honestidade, planejamento conjuntamente com o povo e eficiência executiva. Vamos aguardar, pois quem sabe, o nosso amigo João Batista Dias, terá a honra de suceder o nosso prezado amigo Dr. Dácio e como sei que foi e ainda é um bom ciclista e grande realizador, não deixando ‘a bicicleta cair’, haverá de continuar as grandes realizações de nosso atual Prefeito”. (“Desculpem-me os senhores políticos, pois estou por fora”).

Em 1957, juntamente com o Padre Josias Tolentino e os Professores Waldir Nascimento, Penha Olivieri e Nito, organiza a Fundação Pio XII, mantenedora da Escola de Comércio e (diz ele) “apesar das acusações da oposição de que a doação pleiteada, era uma verdadeira desonestidade”, a Fundação consegue do Prefeito Genésio através da Lei 309/57 a doação de um quarteirão, com vinte lotes e “enfrentando campanha acirrada, consegui vender para 90 amigos, 900 contos de ações, para início da Escola”.

Iniciados os trabalhos na residência da Diretora-Secretária Penha Olivieri, são construídas duas alas em dois pavimentos, com doze salas, secretaria e salão nobre. “O custo final da obra foi de 2.900 contos”.

Sempre sonhando em concluir seus estudos, desde 1938, quando deixara a Escola Normal, vê a sua grande possibilidade. Como não possuía o curso ginasial completo aos 33 anos, começa a se preparar para enfrentar os “Exames de Madureza”, com o auxílio principalmente, do Padre Josias Tolentino e de Dom José Coimbra, que lhe ministram lições de latim. No momento dos exames, diz ele: “fiquei apavorado ao ver o Dr. Zama Maciel, como examinador de Matemática. Eramos 42 candidatos e fui o único aprovado; fiz 90 pontos em 100, em Matemática e pela primeira vez, fui cumprimentado pelo Dr. Zama”.

Matricula-se então na Escola de Comércio Pio XII e vê seu sonho tornado realidade.

Em 1958 iniciou a construção do Edifício Garcia (Rosa Hotel e Cine Garza), inaugurado em 1960. Com área de 4.321 metros quadrados, em três pavimentos, a obra custou “todo dinheiro dos 5.000 lotes mencionados e mais 54.000 contos”. Apesar de ter oferta de lotes em Brasília, a preços simbólicos, preferiu construí-lo aqui e justifica “pois o dinheiro era de Patos”.

Atualmente, juntamente com os filhos, movimenta os Cines Riviera e Garza, que sofrem como os demais cinemas, com a grande concorrência da televisão e ele explica: “não dá lucro, mas diverte o povo e está bem”.

Após dois anos de funcionamento, as finanças da Escola de Comércio não iam bem; as mensalidades pagas pelos alunos não davam nem para cobrir o pagamento do professorado. “Havia 2.000 contos de dívidas, sob minha inteira responsabilidade, com juros altos e credores impacientes e resolvi vendê-lo à Prefeitura, agora (1959) já entregue ao saudoso Prefeito Sebastião Alves do Nascimento (Binga) e consegui convencê-lo a transformá-la em Ginasial Municipal. Vendi-a para pagamento em quatro parcelas anuais de 1.000 contos, sem juros e sem avais”.

A Escola transformada em Ginásio Municipal, veio ser mais tarde, o hoje tradicional Colégio Estadual “Prof. Zama Maciel” do qual ele comenta: “o colégio é hoje, um orgulho de todos patenses e motivo de glória de nossos jovens, nunca recebi sequer, um convite de formatura daquele importante educandário”.

Em 1963, com a esposa Maria Anunciata Queiroz e sete filhos, “com muita coragem e os corações nas mãos”, parte para Belo Horizonte, onde lhes nascem mais dois filhos, completando a prole: Marcos, Maria Ynez, Mauro, Mário, Maria Andréa, Marcelo, Maurílio, Marlon e Marla e entre eles, há hoje Médico, com especialização nos EEUU, Psicóloga, Engenheiro Civil, Administradores de Empresas e ainda quatro que se preparam para os vestibulares.

Na capital mineira, ingressa no ramo da construção civil e em 11/12/64, “com as bênçãos de Monsenhor Fleury e Dom Jorge”, inaugura o Mercado Mauá e a Galeria do Comércio, com 381 lojas e hoje, aquela obra está demolida, para dar lugar à estação de passageiros do metrô de superfície da capital.

Em 18 anos no ramo, construiu em Belo Horizonte, 12 edifícios, com um total de 31.900 metros quadrados de área construída, destacando-se entre eles, o “Palácio das Indústrias”, à Rua Goitacazes 71 com 14 andares, 296 salas e lojas e 15.200 metros quadrados.

Atualmente, dedica-se a loteamentos, tendo realizado o Rosaneves, com 1.932 lotes e adquiriu a tradicional Empresa Kátia Imobiliária Ltda., com 22 anos de tradição e 14.600 lotes vendidos e a vender.

Um dos fatores mais marcantes de sua transferência para Belo Horizonte, foi o seu ingresso em 1969, na Faculdade de Direito da Universidade Católica, onde em 1973, recebeu o diploma de Bacharel em Direito. É portador da carteira n.º 23.118 da Ordem dos Advogados do Brasil (MG).

Eis a sua mensagem: “agradeço ‘A DEBULHA’ pela oportunidade tão agradável e peço aos meus conterrâneos que não me queiram mal e os cumprimentos, avisando que nas próximas eleições (quando houver!!!) estarei aí firme, para cumprir o patriótico dever, embora saiba que não irei encontrar as ‘pelotas’ e os doces de leite do Cel. Altino Caixeta (PDS) e de D. Maria Rosa Maciel (UDN), banquete oferecido a todos − eleitores e crianças. Tudo isso é uma saudade e sempre haverá de ser uma saudade.

Aos meus conterrâneos e aos senhores de ‘A DEBULHA’, o meu saudoso e cordial abraço”.

* 1: Leia “Um Bar Chamado Recreativo”.
* 2: Leia “Cine Glória”.
* 3: Leia “Cine Olinta: Reforma e Cinemascope − 1956” e “Cadeiras do Cine Olinta”.
* 4: Leia “Padaria Santa Terezinha” e “O Assassinato de Tito Silva”.
* 5: Leia “1.º Ano Letivo no Novo Grupo Escolar Marcolino de Barros”.
* 6: Monsenhor Fleury faleceu poucos dias depois, às 9 horas do dia 02 de julho de 1981, no quarto n.º 2 do Hospital Regional Antônio Dias e foi sepultado, no dia seguinte, às 15 horas, após solenes exéquias, na cripta da Igreja Catedral de Santo Antônio.
* 7: Na verdade, a área não foi “totalmente” doada. Leia “Vila Padre Alaor: A Origem”.
* 8: Leia “Nosso 2.º Aeroporto”
* 9: Leia “Ampliação da Usina das Lages Está Concluída”.
* 10: Leia “Mutirão da Solidariedade de 1984”, “Mutirão em Prol dos Desabrigados da Chuva − 1984”, “Ocupação Imprópria no Bairro São José Operário” e “E o Oswaldo Tinha Razão…”.
* 11: Leia “Calçamento da Rua Brito Moreira”.
* 12: Leia “Inaugurada a Nova Sede dos Correios”.

* Fonte e foto 1: Texto publicado na coluna Conterrâneo Ausente com o título “Dr. Mário Garcia Roza” e subtítulo “Ex-engraxate, ex-jornaleiro, ex-Chefe de Gabinete da Prefeitura. Advogado e bem sucedido Empresário em Belo Horizonte” na edição de 15 de maio de 1981 da revista A Debulha, do arquivo de Eitel Teixeira Dannemann, doação de João Marcos Pacheco.

* Foto 2: Arquivo de Lucio Almeida Netto, publicada em 31/01/2014 com o título “Rua Major Gote no Final da Década de 1960 − 1”.

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