FERNANDO ANTÔNIO DE MELO COMENTA SOBRE O GINÁSIO POLIVALENTE

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Prof. Fernando, faça algumas considerações, abordando aspectos gerais da E.E. “Profª. Elza Carneiro Franco”.

A Escola criada pela Lei 5.760 de 14 de Setembro de 1971, iniciou suas atividades naquela data, portanto este ano estará completando 10 anos. Na ocasião contava em seu quadro de pessoal com 28 componentes, entre professores, pessoal técnico administrativo e auxiliar, operando em 2 turnos, com 8 turmas e 320 alunos aproximadamente. Hoje estes números cresceram muito, perfazendo um total de 83 funcionários, sendo 1 diretor, 3 vice-diretores, 1 supervisor, 3 orientadores, 5 auxiliares de secretaria, 3 auxiliares de biblioteca, 11 serventes e contínuos e 56 professores, desenvolvendo seus trabalhos com 1.200 alunos.

Em que, o Polivalente, se diferencia de outras escolas?

Possuímos oficinas, o que nos permite ministrar, além da Educação Geral, excelentes conhecimentos de Práticas Agrícolas, Industriais, Comerciais e de Educação para o Lar. Tal fato, pela experiência que temos, tem revelado ótimos resultados, pois os alunos encontram nessas áreas subsídios para sua iniciação ao trabalho.

Muito se questiona a respeito da localidade onde se situa a Escola. Este fato teria sido talvez um erro da administração da época? Não seria mais lógico construí-la em outro local mais próximo do centro?

Para as duas perguntas a resposta é não. Não foi um erro administrativo, pois a escola se destinava a atender a população carente, portanto nada mais lógico que construí-la próximo dessa população. Construída em outro local, corria-se o risco de se criar uma escola para uma elite, contrariando seus objetivos.

Quanto ao asfaltamento daquele pequeno trecho que dá acesso a escola. Dizem que vocês já se acostumaram com o barro e a poeira. Isso é verdade?

Não. Não é verdade. Ninguém se acostuma com o desconforto. No máximo vive-se contrariado com ele, na esperança de que melhores dias virão. Muita coisa já se falou e se fala a respeito, porém, nada de realmente objetivo e certo. O que sei e tenho documento nos arquivos da escola é um convênio celebrado entre o Programa de Expansão e melhoria do Ensino – PREMEM e a Prefeitura de Patos de Minas com a intervenção da Secretaria do Estado da Educação, e cópia da Lei N.º 1245/72, que aprova o citado convênio, onde se trata do assunto: ASFALTAMENTO ALÉM DE OUTROS. De qualquer maneira, estamos tão esperançosos, como há 10 anos atrás, aguardando que alguém realmente interessado no bem estar comunitário se preocupe e dê a solução que o problema requer, tirando da poeira e do barro concidadãos patenses, pois o trânsito naquelas ruas é grande devido a movimentação de professores, moradores, veículos da Cemig, Tiro de Guerra e principalmente de Prefeitura.

Você acompanha o Polivalente há 10 anos. É verdade que a maioria dos alunos param os estudos na oitava série por não terem condições de estudar em colégios particulares e porque não há vagas nos colégios do Estado?

Sabemos que as escolas do Estado existem para os carentes, porém tal situação se torna difícil de acontecer devido a diferença existente entre o número dos que terminam o primeiro grau e as vagas disponíveis no 2.º grau. Ex.: Dos 1151 matriculados na 8.ª série do 1.º grau em 1980, apenas 357 alunos conseguiram vagas em escola estadual em 1981, portanto mais ou menos 30% (dados da 18.ª DRE, que constam do Projeto de Implantação do 2.º grau). Cito como outro exemplo, um fato que ocorre aqui bem perto de nós: um dos três filhos de uma nossa funcionária, servente escolar, trabalha o dia todo para receber mensalmente 2.000,00 (dois mil cruzeiros) e estuda em escola particular onde paga 1.610 (um mil e seiscentos e dez cruzeiros), por mês, restando-lhe 390,00 (trezentos e noventa cruzeiros) para as demais despesas.  Um caso realmente triste que nos revolta e, que acaba por desanimar o menino (16 anos), levando-o a abandonar os estudos em busca de melhores salários. São muitos os casos que conheço de ótimos alunos que aqui terminando a 8.ª série, termina também sua vida escolar para retornar (quando retornam), 2, 3 ou mais anos depois, quando já conseguiram um trabalho que lhes dê condições de matrícula na rede particular. Patos de Minas possui excelentes escolas particulares onde a seriedade e qualidade de seus trabalhos são constantes e nada deixam a desejar. A meu ver o ensino particular não é caro. É necessário considerar as despesas enormes desses educandários. O que acontece é que as famílias da periferia (bairros Brasil, Antena, Vila Operária), são realmente carentes de recursos financeiros, possuindo muitas vezes menos que o mínimo necessário para sua subsistência. Esse tipo de família, não pode ter acesso ao ensino pago. Daí a grande necessidade de se colocar um número maior de vagas em termos de 2.º grau, abrindo assim maiores perspectivas de vida para essas crianças.

Fala-se em ampliação do Polivalente para uma Escola Profissionalizante de 2.º grau. O estabelecimento possui espaço físico suficiente para comportar tal empreendimento?

Dependendo dos cursos, sim. A escola está instalada em um terreno de 25.000 m². Possui duas quadras, 1 campo de futebol de grama, 1 pista para atletismo, 2 hortas e um pomar. Entretanto, ainda há espaço suficiente para ampliações.

Quais os primeiros acontecimentos que iniciaram as conversações a respeito do 2.º grau?

Em abril recebemos um convite para participar de uma reunião, feito por uma comissão de 6 pessoas, composta por elementos da Secretaria da Educação, que nos fizeram uma proposta preliminar de ampliação da escola, fato que foi prontamente aceito pela direção, desde que tal não interferisse no 1.º grau em funcionamento. Em seguida, trabalhando juntamente com a 18.ª DRE, iniciamos a montagem do Projeto de Implantação, que levei em mãos para a S.E.E., no dia 22/04/81.

Quais os objetivos principais do 2.º grau que será instalado?

Esse tipo de escola esá inserido no Projeto Cidades Diques, onde figuram 16 cidades entre elas, Patos de Minas. Tem como objetivo maior, atender a população carente da periferia, no caso, o Bairro Brasil, Antena e Vila Operária, melhorando suas condições sociais de vida e propiciando-lhes condições de continuar seus estudos, o que até então não vem acontecendo.

Quais os cursos escolhidos e quem os escolheu?

Trabalhando juntos Escola, 18.ª DRE, Mobral, Frades Capuchinhos, Pais e Alunos, consultando pesquisas feitas pela Fundação João Pinheiro a respeito de cidades de porte médio em 1980, pessoas com entendimento sobre o assunto, e realizando várias pesquisas na érea de abrangência do estabelecimento (Bairro Brasil, Antena e Vila Operária), constatamos uma forte tendência para os cursos de Agricultura, Pecuária, Edificações, Mecânica, Eletricidade, Eletrônica, Enfermagem, Economia Doméstica, Móveis e Esquadrias, Comercialização e Mercadologia… Não existem cursos escolhidos, foram propostos Edificações, Economia Doméstica, Comercialização e Mercadologia.

Existem comentários no sentido de se desviar esse investimento para outro lugar fora da cidade?

Boatos sempre existem. Não vejo possibilidades desse desvio, uma vez que o uso de tal recurso é destinado à área urbana, no caso a periferia carente desta cidade dique, Patos de Minas. Quanto a mim, acredito que essa idéia jamais passaria por uma consciência normal e lógica. Se esse fato se verificasse estaria acontecendo a historia de Robin Wood, onde aquele personagem roubava dos ricos para dar aos pobres, só que no sentido inverso da coisa. Pretender-se-a roubar os pobres para dar a uma elite privilegiada, o que ao “frigir dos ovos”, é o que muitas vezes acontece. Não poderíamos aceitar coisa semelhante, mas como tal não pode acontecer, desmerece o nosso crédito. Ninguém gostaria de se indispor com aquela populosa região, a qual trarei sempre bem informada dos acontecimentos. O que ocorreu foi uma coincidência de ações que se desenrolaram concomitantemente.

Qual a clientela que seria mais beneficiada com esta escola?

A periferia carente do Bairro Brasil, Bairro da Antena e Vila Operária.

Que benefícios a escola pode trazer para esta comunidade?

Os benefícios são vários. Além, da Educação Geral em termos de 2.º grau, a certeza de uma profissão (técnica) ao final do curso. Já imaginaram que um rapaz ao término desse curso pode coordenar, controlar projetos de reforma, demolição ou construção de obras de até 126m². Cito outro exemplo na área de assistência social: sabemos que uma quantidade enorme de mulheres trabalham como domésticas, lavadeiras, passadeiras, etc… Ganham pouco, é certo. No entanto esse pouco é uma ajuda relativamente grande para o seu marido que também ganha pouquíssimo. Ora, quando essa mulher tem filhos, forçosamente por falta de compreensão e espírito humanitário dos patrões, seu trabalho é prejudicado e na totalidade dos casos tem de deixá-lo, caindo ainda mais, a renda familiar. Essa escola poderia ter uma creche que não resolveria esse grave problema, mas que pelo menos, atenderia às mães da vizinhança, que poderiam deixar nela suas crianças, onde alunas muito bem orientadas (Economia Doméstica), tomariam conta ao mesmo tempo que também se preparariam para a difícil tarefa de ser mãe, o que certamente virão a ser. Portanto, esse exemplo de como esse projeto pretende atender à periferia, melhorando as condições de vida da família carente. Outro exemplo: que tal um curso para técnico em calçados? Outro dia viajando, passei por Nova Serrana, pequena cidade próxima de Belo Horizonte. Fiquei encantado, Ao contrário do que acontece em muitas outras cidades, onde se sucedem uma quantidade enorme de botequins na referida cidade observa-se nas próprias casas, pequenas indústrias de calçados. São dezenas de pequenas fábricas. Os passeios estão sempre cheios de sapatos que serão todos absorvidos pelo comércio de Belo Horizonte. Fico imaginando: quantas dessas fabriquetas já se tornaram em grandes firmas… Isso poderia acontecer aqui no Bairro Brasil.

Quando se iniciariam as aulas?

Se tudo correr positivamente e o fato se concretizar, a escola já funcionaria em 1982, provavelmente com uma turma para cada curso escolhido.

Até esse momento, o que já foi feito a respeito desse 2.º grau?

Após a primeira reunião, da qual já tratamos, vários outros contatos foram feitos entre a coordenação do projeto, 18.ª DRE e direção da escola. No princípio de maio estiveram em Patos, representantes da Secretaria de Educação e do Planejamento, acompanhando o Sr. Manoel Vera, representante do BID, banco que financiará o projeto, que aqui veio sentir de perto a real necessidade do investimento e o interesse da comunidade para com o mesmo.

Como a comunidade tem reagido a respeito desse 2.º grau?

Com muita esperança. Principalmente por parte dos pais que anseiam melhores dias para seus filhos. Os professores desta escola, sempre dispostos a cooperar, também aguardam respostas positivas. A 18.ª DRE, principalmente através da sinceridade e sobriedade de sua Delegada Da. Eusa Pereira Borges da Fonseca, da disponibilidade e desprendimento de Maria Caixeta de Queiroz, Nilsa Baptista Neves, Irmã Joaquina Araújo, que muito interesse têm tido e muito têm trabalhado para a concretização desse projeto.

Finalizando, como a comunidade deve agir para auxiliar no sentido da conclusão positiva do projeto?

Interessando-se por ele, procurando conhecê-lo melhor e envolvendo pessoas mais influentes no sentido de assegurá-lo e apressá-lo. “Não cabe àqueles que dirigem deixar andar, mas sim, como têm nas mãos as rédeas, cabe a eles acelerar as iniciativas viáveis e não maneirar ou frear bons propósitos”.

* Fonte e fotos: Entrevista de Dirceu Deocleciano Pacheco e João Marcos Pacheco publicada na edição n.º 25 de 31 de maio de 1981 da revista A Debulha, do arquivo de Eitel Teixeira Dannemann, doação de João Marcos Pacheco.

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