TORTA DA NETA, A

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Todo ano uma tradicional família que residia numa tradicional residência da Avenida Getúlio Vargas promovia uma baita Ceia de Natal que só terminava quando o Zé do Crachá, ainda jovem, começava com as suas andanças pela Cidade. Certa vez, a matriarca comunicou a uma das netas de 15 anos:

– Minha neta, como você reclama que nunca te deixam preparar nenhum prato, eis então que é você que vai preparar uma torta de nozes ao rum. Aqui está a receita, tudo muito bem explicadinho. Capricha!

Óbvio que a neta caprichou, pois a oportunidade de mostrar à família a sua perícia na arte culinária adocicada chegara, enfim. Com todo capricho, seguindo à risca as recomendações prescritas pela avó, apenas com um pequeno ajuste, ela preparou a receita.

Na hora H, a maioria considerou que o cheiro de rum estava muito forte, mas nada comentaram para não chatearem a garota. Foi então que, de repente, a garotada e algumas mulheres que se lambuzaram com a guloseima, ficaram alegres demais da conta, riam à beça, falavam pelos cotovelos, corriam para tudo quanto era lado da casa. A matriarca considerou aquilo muito esquisito e um pressentimento lhe veio. Chamou a neta a um canto e perguntou:

– Quantos copos de rum você colocou na receita?

A neta explicou:

– Tá escrito um copo americano de rum. Tô acostumada a usar xícara como medida, eu não sabia o que era copo americano, ai me lembrei de que num filme americano que eu assisti recentemente no Cine Riviera, toda hora aparecia gente tomando cerveja num copo enorme. Aí me lembrei que o meu pai tem um igualzinho. Aí usei ele. Engraçado que foi mais da metade da garrafa de rum, ficou meio aguado, e eu tive que compensar com mais farinha de trigo. O importante é que deu certo.

Custou muito para a gurizada e as mulheres voltarem ao seu estado normal. Evidente, nunca mais a neta foi solicitada para preparar guloseimas para a Ceia de Natal.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 02/02/2013 com o título “Avenida Paracatu na Década de 1920”.

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