SOVINICE DO SEU DICO, A

Postado por e arquivado em CANTINHO LITERÁRIO DO EITEL.

Contam os veteranos que o conheceram, que o Seu Dico, proprietário da badalada loja A Balalayka dos idos tempos, que na ocasião funcionava à Rua Major Gote (ex-Benedito Valadares) numa loja do prédio da Recreativa, era deverasmente sovina, daqueles que amam seu bolso como a si mesmo e que aprontava o maior barraco quando recebia um troco em balas e ainda colocava água no shampoo para render mais. Também, pudera, é primo do Astolfo, considerado o maior mão de vaca que viveu em Patos de Minas¹.

Certa vez, Seu Dico enviou um seu empregado a uma pequena mercearia localizada lá pertinho, na antiga praça da Rodoviária, hoje Desembargador Frederico. No que o funcionário chegou com as frutas e disse o preço, Seu Dico quase teve um infarto. Imediatamente, lá foi ele pessoalmente devolvê-las. Após mandar o comerciante tomar banho na soda e chamá-lo de espora quebrada, voltando ao seu comércio aconteceu a tragédia. Ao atravessar a rua, desatento, comemorando a economia que fez, não reparou no apressado Plymouth Sedan e… foi atropelado.

Seu Dico foi atendido com a presteza de sempre na Casa de Saúde Imaculada Conceição pelo Dr. Benedito que, depois dos exames de praxe, deu o veredito:

– Há duas possibilidades no seu caso. Podemos fazer um procedimento que não resolverá por completo o problema, pois o senhor ficará manco. Nesse caso, o custo é de 100 mil cruzeiros. A outra possibilidade, a ideal, pois o senhor ficará totalmente curado, sem uma sequela sequer, lhe custará 300 mil cruzeiros. Qual o senhor prefere?

Seu Dico ouviu atentamente as palavras do doutor e não teve dúvidas em optar:

– Doutor, sabe como é, já estou mais pra lá do que pra cá, então, pra que essa necessidade de ficar bãozinho da silva, pra quê? Além do mais, mancar não é pecado, né, e muito menos usar bengala. Então, vou ficar nos 100 mil cruzeiros.

* 1: Leia “A Sovinice do Astolfo”.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 02/02/2013 com o título “Avenida Paracatu na Década de 1920”.

Compartilhe