DEIXAREI SAUDADE − 97

Postado por e arquivado em 2019, DÉCADA DE 2010, FOTOS.

Quando colocaram o nome Deiró Borges nessa rua¹, só não pulei de alegria porque literalmente sou fincada no chão. Foi bão demais da conta, pois tive o prazer de recebê-lo em minhas entranhas. Caboclo arrumado, inteligente, lutou muito pela construção da nova Matriz, opositor ferrenho aos Maciéis, mas de uma ética memorável. E o trem naquele tempo era brabo mesmo, presenciei inúmeras reuniões sobre os destinos de Patos de Minas e o pau comia até de madrugada. E por falar em tempo, já ouvi dizer que a saudade o mata. Sei não, pra mim isso é conversa pra vaca dormir. Esse negócio de tempo, na verdade, maltrata a gente. Pelo menos a mim, um imóvel que surgiu numa miríade de pensamentos e ações totalmente diferentes de hoje. Já fui hospitaleira, unicamente lar de pessoas que labutaram nesse torrão do Cerrado. O Cerrado escafedeu-se, o pé de Cagaita já se transformou em cinzas há muito tempo. A jabuticabeira, ora, foi fazer companhia à cagaiteira e outras mais. Quem fez isso? O tempo. O dia amanhece e de repente, tchum, já é noite. Lá se foram os meus construtores. Será que foram para junto da jabuticabeira e da cagaieteira? Pouco importa agora para mim. Estou ainda de pé, apreciando minhas irmãs sendo demolidas, uma a uma. Hoje, sou comércio. Amanhã… o tempo determinará. Deixar de reconhecer a sua vivência é tempo perdido. Tempo ganho é saber que eu sou digna representante da História de Patos de Minas, assim, igualmente, como todo imóvel que foi erguido no Município. E como todos eles, quando eu for, deixarei saudade!

* 1: O imóvel localiza-se à Rua Deiró Borges esquina com Praça Dona Genoveva, no Centro.

* Texto e foto (12/10/2019): Eitel Teixeira Dannemann.

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