PRIMEIRO VOO A GENTE NUNCA ESQUECE, O

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Quando o aeroporto localizava-se na baixada onde hoje está instalado o CEASA¹, lá ficava estacionado um avião Cessna 210 de propriedade de um endinheirado patense, que o usava para suas viagens de negócios, que de negócios mesmo eram poucas. Isso na transposição da década de 1970 para a década de 1980. De vez em quando, talvez de dois em dois anos, ele convidava a esposa para lhe acompanhar. Irremediavelmente ela choramingava:

– De jeito nenhum, você sabe muito bem que eu morro de medo de avião. Naquele seu pequenininho, o avião, tá, então, nem pensar.

Até que um dia uma comadre da medrosa, que nunca havia colocado uma unha na porta de uma aeronave, recomendou:

– Dêxa disso mulher, medo bobo, sem motivos, eu já li a respeito e quem entende afirma que morrer em um carro, bicicleta ou atropelado é bem mais provável que morrer em um voo, mesmo sendo no teco-teco do seu marido. Vai, comadre, toma coragem e ó, olho vivo nessas viagens dele, hêim!

A primeira dama do lar do endinheirado ruminou demais da conta sobre o olho vivo nessas viagens dele, hêim! Procurou a ajuda de um psicólogo e depois de seis meses de divãs semanais, sentiu-se pronta para, pela primeira vez, aceitar o convite do marido para uma viagem de avião.

Chegado o dia, o maridão taxiou o seu Cessna 210 e se colocou no ponto para a decolagem. Nesse tempo, a esposa de olhos fechados. Quando a hélice roncou forte, a mulher criou coragem e abriu os olhos. Ao olhar com atenção pela janela, assustada, disse ao marido:

– Nossa, minha Nossa Senhora da Abadia, estamos nas alturas, olha lá no chão, as pessoas estão do tamanho de formigas.

O esposo, desanimado, já decretando que nunca mais embarcaria a esposa em seu Cessna 210, vociferou:

– Tem dó, mulher, ainda não levantamos voo, aquilo lá são formigas mesmo!

* 1: Leia “Nosso 2.º Aeroporto” e “Avenida Maria Clara da Fonseca: Aqui Era o Nosso Aeroporto”.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 02/02/2013 com o título “Avenida Paracatu na Década de 1920”.

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