DANÇA DO MILHO

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Em março de 1979, a escritora e folclorista paulista Maria Amália Corrêa Giffoni esteve em Patos de Minas para ministrar um curso sobre “Comunicação e Folclore” a convite da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. O evento aconteceu no salão do Patos Social Clube. Na despedida, houve um almoço em sua homenagem no Patão, promovido pelo então Prefeito Dácio Pereira da Fonseca. O transporte até Uberlândia, onde embarcaria num vôo para São Paulo, foi feito por Oliveira Mello e sua esposa Nilse. Nesta visita à nossa cidade, Maria Amália foi incumbida pelo historiador a uma tarefa importante: elaborar uma dança original para a Festa do Milho que fosse interessante para os dançadores e espectadores.

Maria Amália considerou a criação de uma Dança do Milho muito justificável e oportuna, porque danças a determinados cereais, frutas e flores são freqüentes no cenário universal, tanto quanto outras que envolvem vários desses elementos ao mesmo tempo. Fases da semeadura, do crescimento e da colheita também são focalizadas.

Como inspiração, a folclorista se baseou na Jardineira, ou Dança dos Arcos, folclore de origem portuguesa comum em Santa Catarina que destaca as flores, e na congênere francesa Les Jardiniéres, que destaca flores, frutos, cereais, hortaliças, legumes e derivados do leite. A homenagem ao milho, em especial, ao mundo vegetal e à mãe-terra constitui o fundamento da Dança do Milho, seguindo-se a projeção dos produtos locais.

A Dança do Milho de Patos de Minas foi executada pela primeira vez na Fenamilho de 1981, por alunos da E. E. Prof. Zama Maciel (fotos). Depois disso, mais duas ou três vezes, igualmente nas dependências da escola, e uma única vez, no final da década de 1990, num desfile na Av. Getúlio Vargas. A literatura não registra o motivo pelo qual a dança não foi incorporada às festividades da Fenamilho. Independente da razão, seguem suas características.

ESQUEMA DA DANÇA

1) Participam oito pares ou número múltiplo de quatro e um dirigente (Mestre). Os dançadores usam os habituais trajes de roça. A dama uma blusa em cor lisa ou estampada, rente ao pescoço ou de gola esporte, mangas compridas. Saia ¾, ampla, colorida ou estampada, sob ela calça comprida, lisa ou à vontade. Lenço amarrado na cabeça e, sobre o mesmo, chapéu de palha, de aba média. Sapatos rústicos ou sandálias. O cavalheiro uma camisa esporte em cor lisa, estampada ou xadrez, de mangas compridas. Calça comprida, em cor lisa ou à vontade. Lenço no pescoço, chapéu de palha, de aba média. Sapatos rústicos. Os chapéus não devem ser de aba muito larga, para não prejudicar o uso dos arcos.

2) A música, uma polca, é uma junção de Primavera, do patense Rodolfo Duarte Campos (22/08/1912) e Música dos Pratos, tradicional da Jardineira catarinense. Os instrumentos são variáveis: gaita, viola, rabeca, cavaquinho (de 8 cordas), pandeiro, triângulo, pratos (obrigatórios) e sanfona. O canto que acompanha a dança deve ser executado por 3 a 4 cantores

3) O passo varia entre a polca de calcanhar e ponta (sem o saltitamento e a inclinação do tronco das danças rurais européias) e o passo unido, ambos com o balanceio natural, indicado pelo ritmo.

4) As figuras: Entrada, Meia-Lua, Roda de Pares, Colunas, Ponte, Roda Simples, Avanço e Recuo, Cruzes, 1.ª Oferenda, 2.ª Oferenda.

5) Os homens conduzem arcos ornamentados com folhas e espigas de milho, podendo ser enriquecidos de flores, frutos, hortaliças e outros produtos locais. As damas levam pequenas cestas, contendo pipoca, flores, frutos e produtos de pequeno porte que na oferenda serão lançados ao público. A urna, que simboliza a mãe-terra e acolherá os arcos com os produtos da colheita, pode ser representada por cesto de taquara ou jarro de barro, preparados de modo a poderem receber uma haste dos arcos, com os quais os dançadores se movimentarão em torno do recipiente, no último tributo à terra.

6) Objetos necessários: a) Cestas: Uma para cada dançadora, com alça, contendo flores, frutas, legumes, milho debulhado, pipoca e produtos locais de pequeno porte; b) Arcos abertos: Um para cada dançador, leves, de madeira ou plástico, enfeitados predominantemente com espigas de milho e folhas dos mesmos. Flores, frutas, verduras, legumes e produtos locais podem completar a ornamentação. A maioria das espigas são abertas, deixando ver os grãos e conservando a palha; c) Urna: Simbolizando a mãe-terra. Pode ser representada por cestas de taquara ou vaso de barro, de tamanho grande, adaptados de modo a reterem uma das extremidades dos arcos.

PASSOS

1) Passo unido (para frente) – Dar um passo à frente, com a perna esquerda (1 tp). Unir o pé direito ao esquerdo (1 tp). Passo à frente com direita (1 tp), e unir o pé esquerdo ao direito (1 tp). Repetir alternado.

2) Para o lado – Deslocar a perna esquerda, lateralmente, à esquerda (1 tp). Unir o pé direito ao esquerdo (1 tp). Repetir de forma idêntica, as vezes indicadas. Para se deslocar à direita, dar o passo lateral à direita e unir o pé esquerdo ao direito. Repetir de maneira idêntica. O ritmo musical leva a um certo balanceio.

3) Passo de Polca – Apoiar o calcanhar esquerdo, obliquamente, à frente (perna estendida – 1 tp). Apoiar a ponta do pé esquerdo (perna flexionada) atrás da perna direita (1 tp). Dar um passo à frente com a perna esquerda (1 tp). Juntar o pé direito ao esquerdo (1 tp). Balancear-se de acordo com o ritmo.

Executar sequência semelhante, iniciando-a com o calcanhar direito, seguindo-se o apoio da ponta direita, passo à frente com a perna direita e unir o pé esquerdo ao direito (total 4 tp). Prosseguir, alternado. Para executar o passo da polca para trás faz-se, da forma vista, o apoio do calcanhar e da ponta do pé. Com a mesma perna dá-se um passo para trás e une-se o outro pé a este. Tanto no passo unido como no de polca, quase sempre as damas transportam a cesta no braço esquerdo, mantendo-o flexionado. O braço direito fica pendido ao longo do corpo ou apóia-se na cintura pelo dorso da mão. Cavalheiros seguram cada extremidade do arco com uma das mãos e mantêm-no sobre a cabeça.

COREOGRAFIA

Disposição Inicial – Duas colunas de dançadores, cavalheiros à direita, damas à esquerda, uma no prolongamento da outra. Cada cavalheiro mantém sobre a cabeça o seu arco, seguro pelas extremidades. As mulheres levam no braço esquerdo a cesta. Dançadores ficam à vontade. Damas mantêm entre si a distância de um metro, mais ou menos, assim como os cavalheiros. A urna é colocada no local da execução da dança e em altura adequada para que os homens, depois de terem posto uma das extremidades do arco em seu interior, possam abrigar sua dama sob ele e progredir ao redor da urna.

Figura 1: Entrada – Cavalheiros volvem-se à direita e damas à esquerda e caminham à frente, formando colunas de pares que se coloca no centro do local, onde se desenvolverá a dança. Passo de polca (16 cp). Entre as duas colunas deve haver um intervalo de dois metros, mais ou menos.

Figura 2: Meia Lua – Cavalheiros descrevem um semicírculo à direita, enquanto as damas fazem o mesmo à esquerda. A seguir, contramarcham por dentro, reconstituindo as colunas iniciais. Executar passo unido à frente no semicírculo e passo de polca nas colunas (32 cp).

Figura 3: Roda de Pares – Cada cavalheiro passa uma extremidade do seu arco para sua dama, de maneira que o mesmo fique sustentado pelo par. O par da frente seguido pelos demais, procura formar um círculo (à esquerda), fechando-o assim que puder. Caminham mais meio círculo, de modo que o primeiro e o último par localizem-se no fundo, para iniciar a formação das colunas da Entrada. Empregar o passo unido, à frente (48 cp). Nesta figura o braço livre do cavalheiro apóia-se na cintura pelo dorso.

Figura 4: Colunas – Como se uma linha perpendicular dividisse o círculo ao meio, os pares de cada metade entram pelo centro, alternadamente, começando pela metade da direita, (portanto pares: 8,1,7,2,6,3,5,4), reconstituindo as colunas da Entrada. Passo de polca. Arcos como a figura anterior (16 cp). Nesta figura, dama e cavalheiro se alternam em cada coluna.

Figura 5: Passagem – Os arcos elevados formam “ponte”, sob a qual os pares vão passar, da seguinte forma: a) O primeiro par (da frente) dá início à passagem sob a ponte. Para isto abaixa o seu arco na frente do corpo. Os demais pares, sucessivamente vão passando; b) À medida que cada par termina a passagem, dama e cavalheiro respectivo voltam ao seu lugar, caminhando por fora (cada um por um lado) e reconstituindo as colunas. Cavalheiros levam seu arco sobre a cabeça, como nas figuras anteriores. Braços livres dos dançadores, apóiam-se na cintura pelo dorso ou ficam pendidos. Executar o passo unido, à frente (32 cp).

Figura 6: Roda Simples – A coluna da esquerda faz meia volta. Cada coluna descreve um semi-círculo para fora, procurando emendá-los. Os arcos e braços livres continuam como na figura anterior. Passo unido à frente (14 cp).

Figura 7: Avanço, Recuo, Passos Laterais (à esquerda) – Damas e cavalheiros, alternados, volvem-se para o centro do círculo. Os homens seguram apenas uma ponta do arco e dão a outra à mulher ao lado (2 cp). Todos executam: a) Quatro passos de polca em direção ao centro do círculo (8 cp); b) Idem para trás, progredindo de costas (8 cp); c) Oito passos unidos à lateral, em direção à esquerda (8 cp); d) Idem, em direção à direita, voltando ao lugar (8 cp). Total (32 cp).

Figura 8: Movimento Circular com Arcos – Dançadores parados e voltados para o interior da roda, segurando os arcos como acima, descrevem com eles um círculo partindo do alto, para a direita, baixo, esquerda e alto (8 cp). Repetir, de forma idêntica (8 cp).

Figura 9: Avanço, Recuo, Passos Laterais (à direita) – Semelhante à figura 7, apenas deslocando-se inicialmente à direita e voltando aos lugares (32 cp).

Figura 10: Colunas – Reconstruir as colunas da Entrada. Para isso, como se uma linha dividisse perpendicularmente o círculo ao meio, dançadores de cada metade entram pelo centro, alternadamente (começando pelo par do lado direito). É necessário, que os cavalheiros fiquem de um lado e damas do outro (nas colunas), como indica o desenho. Usar o passo de polca (16 cp).

Figura 11: As Cruzes: Dançadores volvem-se para o interior das colunas. Vão trabalhar em grupo de 4 dançadores, isto é, dois pares (par 1 com par 2; par 3 com par 4; par 5 com par 6 e par 7 com par 8). Os arcos mantêm-se elevados. Executarão o seguinte: a) Os cavalheiros de cada grupo trocam de lugar entre si (cavalheiro 1 com 2, etc.) para que os arcos se cruzem; b) Cada grupo de quatro dançadores, com arcos cruzados, se deslocam no sentido dos ponteiros do relógio, dando uma volta completa e retornando aos lugares; c) Todos os cavalheiros que trocaram de lugar, para que os arcos se cruzassem, destrocam para que eles se descruzem. Empregar o passo unido à frente (total 32 cp). A movimentação é feita, ao mesmo tempo, por todos os grupos.

Figura 12: 1.ª Oferenda – a) Cavalheiros carregando o arco com as duas mãos, contornam a sua dama (passando por trás e depois pela frente dela). Damas, enquanto isto, nos lugares, atiram parte do conteúdo de suas cestas para os lados, em sinal de regozijo. Cavalheiros executam o passo de polca e damas se movimentam no lugar, à vontade (16 cp). b) Cavalheiro entrega uma ponta de seu arco à dama e progridem, descrevendo um círculo em torno da urna, contornando-a pela esquerda. Passo unido à frente (32 cp).

Figura 13: 2.ª Oferenda – a) Damas soltam a ponta do arco e os cavalheiros seguram-no com ambas as mãos. Homens e mulheres dirigem-se para junto da urna. Damas põem as cestas junto dela. Cavalheiros colocam uma ponta do arco em seu interior. Passo de polca, para o trajeto (16 ou 24 cp). b) Cavalheiros dispõem-se em torno da urna, segurando a extremidade livre do arco. Damas colocam-se sob o arco dos cavalheiros. Assim dispostos, progridem em sentido contrário aos ponteiros do relógio, em redor da urna, símbolo da mãe terra. Passo unido à frente (32 ou 24 cp).

Final – Dispersam-se à vontade, naturalmente, conversando em grupos.

A marcação de compassos que acompanha a coreografia é feita apenas a título de orientação. Pode ser alterado, se houver conveniência. Aumentando-se o número de pares torna-se indispensável modificá-la.

* Edição do Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Fonte e desenhos das coreografias: Jardineira, Dança do Milho, Pipoca (Contribuição à Festa Nacional do Milho de Patos de Minas), de Maria Amália Corrêa Giffoni, editado em 1983.

* Fotos: Arquivo Oliveira Mello.

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