DEIXAREI SAUDADE − 101

Postado por e arquivado em 2019, DÉCADA DE 2010, FOTOS.

Ei, cara, apesar do seu comentário, você chegou atrasado. Vi você em frente às minhas ruínas com uma câmera fotográfica conversando com um vizinho que, por sinal, só de vez em quando o vejo por aqui. Legal você ter dito que já fui muito importante para a Cidade, não importando as singelezas de minhas estruturas. Lascou legal, cara, ao dizer que não importa o valor material do imóvel, o que importa é que a minha existência serviu e muito aos meus construtores. Sim, aconcheguei várias almas simplórias em minhas entranhas, umas normais e trabalhadoras e outras nem tanto, vamos deixar isso de lado. Pareço até uma diminuta vila, não é mesmo? Mas, quanto ao chegar atrasado, é que, se fosse antes, você teria me presenciado em melhores condições. Hoje não sou nada, muitos vagabundos adentram em mim para fazer sei lá o que, faço questão de não querer saber. Por aqui onde fui erguida já foi pobre demais da conta, hoje já não existe o demais da conta, mas os sinais de pobreza ainda são marcas fortes¹. Não queira saber, prezado, como era difícil a vida nesse pedaço de chão. Você, óbvio, já percebeu que nenhum fotógrafo dos idos tempos retratou a pobreza da Cidade, só o Centrão, o antro da elite. É sempre assim, e assim sempre será. Deixe estar, o que importa é a realidade atual, e nessa, já me lasquei faz tempo, já sou carta fora do baralho como qualquer um pode perceber. Obrigado pelo registro de minha ruína, prezado, obrigado por afirmar que faço parte da História de Patos de Minas e, sim, quando nada mais restar de mim, deixarei saudade!

* 1: O imóvel localiza-se à Rua Dona Lica pouquinho após a esquina com a Rua 05 de Maio, no alto do Bairro Antônio Caixeta.

* Texto e foto (17/11/2019): Eitel Teixeira Dannemann.

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