ARBORISAÇÃO PELAS MAGNOLIAS

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TEXTO: EUPHRASIO JOSÉ RODRIGUES (1907)

Conta uma lenda oriental, que uma terra aromatica dizia certa feita: “Eu não seria mais, que um barro ordinario, si as rosas não fossem plantadas em mim”.

De facto a terra que se embebe dos principios odoriferos de certas plantas, satura-se destes mesmos principios, torne-se depois de certo tempo odorifera, e é com certo prazer que o homem respira o ar embalsamado, dando em troca sua expiração deleteria, tão necessaria para a planta que nos traz a vida.

A arborisação pelas magnolias pode ser encarada debaixo de dous pontos de vista: o esthetico e poetico, e o medico hygienico.

Tratando do primeiro ponto de vista não quer dizer, que voltemos ao anno de 1830, bem longe disto; todavia o espirito humano, curva-se meditativo ao contemplar as louçanias as mais seductoras do viço da magnolia, e os esplendores mais vividos  de sua pujança admiravel. Como não seria bello, o nosso largo da matriz arborisado pelas magnolias!

Quando pela calada noite, um raio de luar, se filtrasse por entre as franças della e viesse incidir sobre estes espelhos de pedra branca, para depois cahir na terra preguiçoso e dormente.

Que espetaculo soberbo não contemplaria o viajante retardatario ao avistar este bibelot do centro de Minas!

A tardinha, a luz indecisa do crepusculo a virgem seismadora viria completar o seu idylio, a sombra poética de tão beneficas arvores, cujo aroma penetrando todo o seu ser, fala-hia cahir em languido extasi, lembrando-se do eleito de sua alma, do escolhido do seu coração. Não viajemos por mais tempo nos paramos azues da phantasia, na visão mystica do ideal, que pode aborrecer o leitor positivista.

Deante da hygiene são as magnolias anti-febris, o seu aroma subtil purifica a atmosphera, embalsama as auras, mascara fetidos odores emanados da vasa dos pantanos; para mim, não sei se é ser utopista ter ideas taes, parece que nos ambientes perfumados as almas são melhores, os caracteres são mais solidos, parece que ha mais confiança no viver, os cuidados que temos pela esposa e pelos filhos concretisam-se todos em nosso pensamento, em lugar dos vicios, que adquirimos no odor infecto das posilgas, onde o cheiro estonteante do vinho e do charuto, as convivencias com as mulheres de má vida, o tinir do ouro que se escoa nas mezas de jogo em prejuizo das economias da casa nos leva na caudal tumultosa, cujo epilogo é a tarimba do hospital.

Dirigimos aos poderes competentes uma supplica, pois que não temos poderes para mais; dirigimo-nos aquelles que são responsaveis pelo destino desta terra para que, optando pelas magnolias, mandem arborisar as nossas ruas, as nossas praças, para que fique gravado na alma do povo este aroma ebriativo, que reconduz ao carinho da familia, no doce aconchego do lar; para que brisas mais puras expulsemos os miasmas e levem para longe os mosquitos que prenhes de hematosearios produzem as febres, e assim procedendo a patria terá filhos robustos que saibam morrer por ella e a Republica terá cidadãos que ajudem a consolidal-a.

* Fonte: Texto publicado na edição de 28 de abril de 1907 do jornal O Trabalho, do arquivo de Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Primeiro parágrafo do artigo original.

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