PADRE ANTÔNIO E O JOGO DA COPA DO MUNDO

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Quinta-feira, 13 de junho de 1974, dia de estreia do Brasil na Copa do Mundo da Alemanha Ocidental. E dia de Santo Antônio, o padroeiro de Patos de Minas. Por causa disso, Padre Antônio, alucinado pela seleção brasileira, desde o amanhecer não sabia o que fazer, pois no horário do jogo contra a Iugoslávia tinha que comandar uma procissão em reverência ao Santo. O que fazer? A manhã foi indo embora, os preparativos para a procissão em andamento e nada de solução. Até que ela, a solução, veio num repente.

Assim foi que Padre Antônio conseguiu emprestado de um sacristão um daqueles radinhos de pilha. Então o homem se acalmou e dando início à cerimônia religiosa mostrava-se tremendamente feliz, principalmente ao perceber que o povo estava ligadíssimo no seu compromisso e nem reparava nele, o que lhe permitia, de minuto em minuto, tirar o radinho do bolso da batina, encostá-lo despistadamente ao ouvido e acompanhar o jogo em transmissão da Rádio Itatiaia retransmitida pela Rádio Clube.

E o jogo estava duro de roer, isto é, duro de ouvir, arrastado, o Brasil jogando mal, não fazia gol, o jogo chegando ao final, a procissão já retornando à Catedral de Santo Antônio e Padre Antônio estava a ponto de explodir de raiva. A um quarteirão da igreja, ouviu o narrador anunciar o final do jogo, um melancólico zero a zero. Esquecendo-se de onde estava e o que fazia naquele exato momento, mesmo com a custódia na mão esquerda, bradou aos céus:

– Fedazunhas, disgramados, disgranhentos, malandros, traidores…

E por aí foi gritando palavras nada louváveis que causaram grande estranhamento ao povo. Imediatamente, ao pé do ouvido, um seminarista lhe avisou:

– Padre Antônio, a custódia na mão e o senhor xingando assim…

Mesmo percebendo que havia cometido um sacrilégio, ao pronunciar palavras tão levianas com uma custódia na mão, ainda assim choramingou:

– Ficam falando por aí que Deus é brasileiro, ora bolas, nada disso, porque se fosse teria evitado esse meu sofrimento.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 02/02/2013 com o título “Avenida Paracatu na Década de 1920”.

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