SOBRE A IMPLANTAÇÃO DA ESCOLA AGRÍCOLA – 4

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TEXTO: DIRCEU DEOCLECIANO PACHECO (1981)

No número anterior, rememorei os passos dados pela criação da Escola Técnica de Agropecuária, até o ponto em que a Câmara dos Vereadores se propôs a manter um contato com o Secretário da Agricultura¹, o que foi feito, no último dia 15, através de uma comissão muito bem composta por Vereadores e membros do Conselho Patense de Defesa da Comunidade.

Devo aqui, abrir um parêntesis para cumprimentar o nosso Legislativo, que por unanimidade, aprovou dia 22 deste, o Projeto de Lei n.º 29/81, que autoriza o Prefeito a instituir a Fundação Municipal de Ensino de Patos de Minas, que será a mantenedora daquela escola.

Mas voltemos ao encontro da comissão com o senhor Secretário da Agricultura, que acabou resultando em uma surpresa e uma dúvida, para mim.

Todos já estão cansados de saber do compromisso de ceder a Fazenda Sertãozinho, assumido pelo Secretário, em reunião do Conselho Patense de Defesa da Comunidade, dia primeiro de fevereiro.

Aliás, já desde o início da década de 70, quando o patense, então Deputado Federal Lysâneas Maciel, apresentou à Câmara Federal, projeto de lei criando a sonhada escola, o local fora definido “com o aproveitamento das instalações da Fazenda Sertãozinho” e jamais alguém daqui, pensou na escola a não ser pelo aproveitamento de uma pequena parte daquela fazenda, que tem a área de 786 hectares.

Pois bem, na reunião do dia 15, não posso, não consigo entender, porque, de repente surgiu o nome da Fazenda Cascata, de propriedade do Estado, para nela se instalar a escola. Ora, a Cascata! A Cascata é um pedaço de terra, de excelente qualidade, porém onde não existe nada construído, cujo acesso de aproximadamente 18 Km é feito por estrada de terra, que não se sabe nem mesno se será pavimentada um dia; onde não existe energia elétrica, nem telefone. Está certo, que se não existisse outro local, melhor seria aceitar aquele, que deixar de se criar a escola.

Mas, se o povo patense está lutando há mais de dez anos pela Fazenda Sertãozinho, é exatamente porque ela é a melhor estação experimental do Estado, onde existem várias edificações, algumas que poderiam até ser aproveitadas; onde existem excelentes laboratórios instalados, que poderiam ser utilizados; onde existe energia elétrica e telefone e onde atualmente, se vai por aproximadamente 12 Km de belíssima rodovia asfaltada.

Quero porém justificar a minha surpresa. Na célebre reunião de primeiro de fevereiro, o Secretário lembrou que a Fazenda Sertãozinho pertencia ao governo federal e que fora cedida por contrato de comodato à EPAMIG (Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais). E o referido contrato, cujo teor é do conhecimento dos membros da comissão para criação da escola, permite o sub-comodato.

No dia 25 de junho do corrente ano, uma comissão liderada pelo Prefeito Dr. Dácio Pereira da Fonseca, esteve com o Secretário, na vizinha cidade do Patrocínio, quando ele reafirmou o seu propósito de assinar o convênio e inclusive, marcou o dia 29 daquele mês, “no expediente da tarde”, para fazê-lo. Se isto não bastasse nosso Redator² que acompanhava a comissão, em fita gravada que mantemos em nossos arquivos, lhe formulou a seguinte pergunta:

“Senhor Secretário, quer dizer que nada pode demovê-lo deste seu propósito de assinar o convênio para que se instale na Fazenda Sertãozinho, a nossa tão almejada escola agrícola?”

E o senhor Secretário, até com certo desagrado respondeu:

“Eu até estranho a pergunta e não há razões para se perguntar a respeito de algo que possa nos demover. Pelo contrário eu estou na posição é de aguardar agora, as providências. Estamos totalmente à disposição”.

Depois de um período de quase cinco meses, desde o primeiro compromisso, se houvesse “impedimentos”, por certo o Secretário já deveria conhecê-los.

Agora, na reunião, ele se lembra da EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) que concedera o comodato e diz que vai consultar o seu Presidente através de ofício, cuja cópia seria remetida à comissão.

Antecipando-me, quando recebi a notícia, telefonei ao meu mano Dr. Edson Bolivar Pacheco, que é um dos Diretores da EMBRAPA em Sete Lagoas e que já nos tem auxiliado neste assunto, solicitando-lhe que se informasse do Dr. Eliseu Roberto de Andrade Alves, Presidente daquela Empresa e seu amigo particular, o que havia sobre o assunto. E a resposta veio de pronto: “a EMBRAPA nada tem a ver com isto; o assunto é da inteira competência da EPAMIG”.

Então, eu fico a imaginar, que está tudo muito fácil, pois a EPAMIG é subordinada ao Secretário da Agricultura de Minas Gerais e aguardaremos para breve, uma boa solução, para que ninguém se julgue no direito de dizer, na gíria de nossos dias, que tudo o que se disse até aqui, não passou de uma “cascata”.

* 1: Leia “Sobre a Implantação da Escola Agrícola – 3”. O Secretário da Agricultura da ocasião era Geraldo Renaut.

* 2: João Marcos Pacheco.

* Fonte: Texto publicado com o título “Sertãozinho ou Cascata” no n.º 33 de 30 de setembro de 1981 da revista A Debulha, do arquivo de Eitel Teixeira Dannemann, doação de João Marcos Pacheco.

* Foto: Igrejauniversal.pt.

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