DEIXAREI SAUDADE − 106

Postado por e arquivado em 2020, DÉCADA DE 2020, FOTOS.

Não foi nada agradável, mas engoli em seco, fui obrigada, não havia alternativa. É que um carro enguiçou bem à minha frente. Aí o motorista ligou para o guincho e o que ele falou, ao explicar onde era o local, arrepiou minhas sofridas paredes. Ele não precisava dizer aquilo. Bastava citar que é numa casinha simples, cor de rosa, na Rua Ana de Oliveira, entre as Ruas Deocleciano Mundim e Bernardo de Assis. Pronto, questão de educação. Mas ele falou mais ou menos assim: É na Ana de Oliveira, depois do Mercado Municipal, após a primeira rua, um barraco cor de rosa feio pra caramba, com um ridículo basculante dando pro passeio! Precisava me humilhar tanto assim? Tem gente que não tem escrúpulos, que não reconhece que, mesmo humilde desde que fui construída, aconcheguei várias almas, dentro do que pude oferecer dei um teto a essas almas. Por que me construíram assim tão simples? Não sei, não tenho a mínima ideia. Por aqui tudo era mais ou menos assim, era a periferia. Depois que veio o Mercado Municipal, aos poucos foi melhorando e hoje estou no Centro. E no Centro, eu sei muito bem, que todas como nós vamos ser derrubadas para ceder lugar ao progresso. Vai chegar o meu dia, mas, pelo menos, que respeitem o meu pobre restinho de vida. Deixem o destino me levar, pelo menos nunca mais vou ouvir deselegâncias como essa. Digam o que quiserem, pobre como sempre fui, faço parte da História de Patos de Minas. E quando me desmoronarem, deixarei saudade!

* Texto e foto (29/01/2020): Eitel Teixeira Dannemann.

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