SEPARAÇÃO DOÍDA

Postado por e arquivado em CANTINHO LITERÁRIO DO EITEL.

Tem um boteco-restaurante lá na esquina da Rua Amazonas com a sua colega Dona Luiza, no Bairro Lagoa Grande, conhecido pelo churrasquinho de passeio. E lá é churrasquinho de passeio mesmo, pois o dito passeio da dita esquina é literalmente tomado pela churrasqueira e apetrechos do dito churrasquinho, e o transeunte não consegue transitar pelo local, tem que usar a rua. Mas como o nosso Código de Posturas não serve nem para papel higiênico, deixa estar. O negócio é que depois do trabalho, dois amigos comerciantes se encontravam lá para um bate-papo. Certa vez, um deles, com cara de desânimo, desembuchou:

– Confirmei uns fatos desagradáveis que muito me aborreceram. É, a gente confia demais da conta em certa pessoa, acha que ela é fiel com a gente e quando vê, depois de 10 anos juntos, descobre a deslealdade. Por isso tomei coragem e resolvi acabar com tudo.

Ditas as ingratas palavras, ele mandou goela abaixo uma dose de pinga, sorveu um longo gole de cerveja e abaixou a cabeça. Consternado, o amigo tentou animá-lo:

– Que é isso, cara, te conheço o bastante para afirmar que você vai tirar essa de letra, vai dar a volta por cima com muita moral.

– É, essa separação está sendo muito dolorida para mim, pois jamais e em tempo algum eu esperava que um dia isso fosse acontecer comigo. É, não me resta alternativa, não há outra coisa a fazer a não ser dividir os bens e, como você disse, de cabeça erguida reorganizar a minha vida.

Ditas as machucadas palavras, ele novamente mandou goela abaixo uma dose de pinga, sorveu outro longo gole de cerveja e outra vez abaixou a cabeça. O amigo o encarou por uns longos sessenta segundos, deu uma respirada funda e disse energicamente:

– Ora, cara, quer saber de uma coisa, demorou, você já devia ter feito isso há muito tempo, pelo menos há uns cinco anos, desde quando ela começou a te trair.

Imediatamente o outro levantou a cabeça, arregalou os dois olhos, e entre surpreso e mais decepcionado ainda, choramingou:

– Peraí, não estou me referindo à minha esposa, e sim ao rompimento com o meu sócio na sapataria.

E assim os dois amigos nunca mais foram vistos no tal boteco-restaurante e nem em lugar algum de Patos de Minas.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 02/02/2013 com o título “Avenida Paracatu na Década de 1920”.

Compartilhe