CHUVEIRO DO TONHO COCÃO, O

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O Tonho Cocão nasceu e foi criado no arraial de Capelinha do Chumbo, hoje distrito de Major Porto. A energia elétrica só chegou por lá em 1973, quando ele já estava com 25 anos de idade. Solteiro inveterado, acostumado que foi a tomar banho de balde com chuveirinho descido e subido com uma cordinha, mesmo com o chuveiro elétrico instalado na casa de seus pais ele jamais quis usá-lo, sempre preferindo o método antigo. Costume mais enraizado que promessa de político.

Na década de 1980 ele foi para a Sede e, como concursado, fez carreira na Prefeitura. Chegando aos 70 anos de idade na solteirice, aposentado, morando numa pequena e confortável residência no Bairro Cristo Redentor, não largou a velha mania de tomar banho de balde à moda antiga. Por causa disso, os amigos não perdiam a oportunidade para cutucá-lo:

– Tem base não, sô, em pleno século 21 você tomando banho de balde, se tivesse uma mulher o negócio não seria assim não.

E o Tonho Cocão nem aí para as reclamações dos amigos:

– Tem dó, Tonho, uma casinha arrumadinha como a sua e sem chuveiro, você numa trabalheira danada de todo dia esquentar água, encher balde, temperar água, abrir e fechar o chuveirinho do balde, descer e subir balde, ora… já tão fazendo chacota de você.

De tanto criticar, os amigos conseguiram convencer o Tonho a aceitar de presente um chuveiro elétrico, não muito sofisticado, mas com o básico necessário, e arrancou dele um juramento eterno: só usar o chuveiro, e diariamente. E foi a partir desse presente que algo estranho começou a acontecer: o Tonho Cocão passou a feder, literalmente. Questionado, ele respondia:

– Eu jurei que só tomaria banho de chuveiro, mas tenho que seguir as recomendações do dito.

O tempo foi passando, o Tonho cada dia fedendo mais, os amigos não entendendo bulhufas e o homem sempre respondendo:

– Estou seguindo as recomendações do chuveiro.

Intrigados, vários amigos foram visitar o Tonho Cocão para tentarem decifrar o enigma do seu fedor corporal.  E o enigma foi decifrado com a explicação do fedorento:

– Ora, pelamordedeus, vocês, pra economizar, me deram de presente um chuveiro que só tem inverno e verão, e se estamos na primavera, óbvio que tenho que seguir as recomendações do aparelho e esperar o verão chegar pra tomar banho.

E assim, com anuência dos amigos, o balde voltou à ativa, para o bem das narinas de todos.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 02/02/2013 com o título “Avenida Paracatu na Década de 1920”.

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