PAZOLIANA − CAPÍTULO 12: PRIMEIRAS DIRETRIZES DA ERA PAZOLIANA

Postado por e arquivado em CANTINHO LITERÁRIO DO EITEL.

O presente impõe formas. Sair dessa esfera e produzir outras formas constitui a criatividade. (Hugo von Hofmannsthal − 1874-1929)

Após o último encontro da família Mantiqueira com os seus novos Deuses, ficou combinado um novo contato no dia seguinte. Foram-se três dias e o colar não deu sinal de vida. Quando a ansiedade já dominava o lar mantiqueirense, a luzinha azul começou a piscar. Finalmente. Reunidos novamente no espaço com a mesa redonda diferenciada, Sued os cumprimentou efusivamente como sempre, mas dessa vez seu semblante transpareceu algo estranho. Durante uns dois minutos, Sued caminhou em volta da mesa reparando em cada um dos terráqueos, estes envoltos no sombrio silêncio com expressões tensas. Então se sentou, esticou o corpo, pousou as duas mãos sobre a mesa, olhou fixo nos olhos dos quatro escolhidos e iniciou a conversa:

– Preciso expor um assunto que não agradará a vocês. Nossos poderes detectaram um problema grave de saúde em vossa mãe, um câncer no útero em estado avançado. Dona Mabélia, dentro de poucos dia a senhora começará a sentir fortes dores no abdômen. A medicina de vocês vai então detectar o câncer, e alguns meses depois a senhora morrerá.

– Mas… câncer… eu… – lamentou assustada Mabélia.

– Ah, isso não, por favor, perdi o pai e agora vou perder a mãe, este é o preço que tenho que pagar por propagar um novo Deus? – perguntou emocionado Januário.

– Louvado seja Sued, eu tenho um câncer de útero?

– Infelizmente, Dona Mabélia, é verdade, mas não temos nenhuma relação com o aparecimento do câncer em seu útero. Antes de regressarmos, já era iniciada a doença. Quanto a seu pai, Januário, foi um acidente no qual não tivemos como evitar.

– Tudo bem, tudo bem, vocês não tiveram participação nenhuma no aparecimento do câncer, mas vocês têm poder para curá-la, isso eu tenho certeza.

– Sim, sim, por favor Sued, não me deixe morrer agora.

– Nós temos poder para extirpar o câncer e curá-la, mas, infelizmente, não queremos interferir neste processo biológico natural.

– Mas por quê? É revoltante saber que vocês têm como curá-la e não vão curá-la, não aceito esta decisão. Oh Sued, olhe para o semblante de minha mãe, veja como sofre. Olhe para minhas irmãs e veja como lhes vertem lágrimas de revolta. Por que está sendo tão cruel?

– Meu bom rapaz, não há crueldade nesta minha decisão, há apenas o fim de um ciclo biológico. Suas irmãs serão as precursoras da nova raça.

– Peraí, o senhor disse que a humanidade seria substituída aos poucos de acordo com o final dos ciclos biológicos dos humanos. Não imaginaria nunca que um de nós estaria envolvido nisso.

– Mas é óbvio que o ciclo biológico de vocês se encerre algum dia, assim como, naturalmente, os nossos ciclos biológicos se encerrarão algum dia.

– Oh, louvado seja Sued, agora é que a minha cabeça vai explodir. Como, como, mil vezes como eu vou entender que o senhor, Deus, possa morrer algum dia? Não, não, isso é uma loucura. Para mim, para nós, para todos os cristãos, o Deus de Jesus Cristo é imortal, é eterno. Agora o senhor me diz que vai morrer como qualquer ser humano? É… é…

– Meu bom jovem, este assunto de deuses é muito complexo, deveras complexo. Talvez você, sua mãe e suas irmãs não tenham ainda capacidade emocional para perceberam que a realidade é totalmente diferente do que vocês imaginam, ou melhor, acreditam. Humildemente, peço-lhe para não aprofundarmos mais neste assunto neste momento. Teremos oportunidade de conversar sobre este tema adiante, quando as respostas surgirão naturalmente. Pode ser assim?

– O que pensar disso tudo!

– Não se exaspere, meu bom Januário. Como dizem vocês por aqui, não queira colocar o carro à frente dos bois. Com o tempo, que é o senhor da razão, todas as perguntas terão a suas devidas respostas prontificadas. Ok?

– Fazer o que? Estou tão desorientado que acho melhor, mesmo, deixar isso pra lá. Então… o que mesmo eu estava dizendo… é… sim, louvado seja Sued, sim, óbvio que o meu ciclo biológico como o de qualquer ser humano vai se encerrar algum dia. Mas, oh Sued, perdoa a minha insolência, mas não fomos os escolhidos? Se somos os escolhidos nossos ciclos não podem se encerrar como qualquer ser humano. Ouça, Sued, o senhor nos escolheu, por isso temos que ter alguns privilégios. É o mais lógico.

– Ó filhos do desejo! Rejeitai a vestidura da vanglória e despi-vos das vestes da arrogância. Ó meu servo! Liberta-te dos grilhões deste mundo e desprende tua alma da prisão do ego. Aproveita tua oportunidade, pois não mais te virá. Ó meu servo! Purifica da malícia o teu coração e, inocente de inveja, entra na corte divina da santidade. Ó quinta essência da paixão! Que te afastes de toda cobiça e procures contentar-se com o que tens; pois o cobiçoso tem sido sempre privado, enquanto aquele que se contenta é sempre objeto de amor e elogios¹.

– Não, não, louvado Sued, não me interprete mal, por favor, não falei por arrogância e sim por temor de perder a minha mãe depois de ter ficado sem pai.

– Todos os ciclos biológicos chegarão a um fim. Para tanto, serão substituídos pela nova raça. Breve suas irmãs estarão gerando os dois primeiros exemplares da nova raça. Serão os dois primeiros pazolianos do planeta Terra.

– Por que mudou de assunto, Sued?

– Eu disse e assim será. Brevemente suas duas irmãs estarão gerando os dois primeiros pazolianos do planeta Terra. Primeiro, a mais velha. Nascerá uma fêmea, e seu nome será Asued. Depois, a mais nova gerará um macho. Seu nome será o meu nome, Sued. Então, seremos Sued pai e Sued filho. Asued e Sued filho formarão o primeiro casal da nova era. Através deste primeiro casal, os pazolianos puros serão espalhados pela terra. Os filhos de suas irmãs não terão parentesco algum entre si. Quanto a você, Januário, será destacada uma fêmea dentre os nossos anjos que lhe servirá de companheira e…

– Oh Sued, oh Sued, mil perdões por mais uma intromissão, mas devagar, devagar, senão a minha cabeça explode. O senhor ainda não resolveu o problema da minha mãe. Oh, minhas irmãs gerarão filhos de vocês e eu…eu… se entendi bem, terei um anjo fêmea como companheira. Mas, antes, eu imploro à sua bondade e ao seu poder, cure minha mãe, cure minha mãe…

– Januário, não se exalte, você será o nosso guia na Terra, o nosso líder que espalhará aos confins deste planeta a nova era. Aceite as coisas como têm que ser.

– Como, como, meu bom Sued? Eu sou um simplório terráqueo e não um Deus. O senhor nos passou os primeiros procedimentos da nova era envoltos na notícia de que a minha mãe vai morrer. Como espera de mim um comportamento adequado?

– Januário, repare bem no meu colar.

Januário se viu envolto num globo enorme. Apesar da tênue luz, pôde perceber que estava confortavelmente sentado numa poltrona. Nada havia à sua volta. Só percebia que estava dentro de um globo enorme. O entorno era de metal todo perfurado por minúsculos poros. De cada poro fluía a luz tênue, azulada. Sentia-se em paz, sereno. De repente, tudo ficou escuro e imediatamente imagens surgiram à sua volta como se transpostas numa imensa tela. Estarrecido, se viu no funeral de sua mãe. Uma multidão acompanhava o sepultamento. As pessoas gritavam que uma nova era estava prestes a se iniciar. Viu uma imensidão de galáxias e seres desconhecidos. Do meio de uma delas surgiu o rosto de suas duas irmãs. Logo depois elas estavam deitadas numa sala em postura de parto. Várias seres de seis dedos estavam ao seu lado. Nada indicava que fosse num hospital convencional. Ele viu nascerem os dois primeiros pazolianos do planeta Terra. Luzes espocavam por todos os lados. Um ser garboso segurou uma criança em cada mão e ergueu ao céu. Viu as duas crianças planando no espaço misturadas a uma infinidade de planetas e sóis, se transformando, crescendo, tornando-se adultos. Os dois adultos eram um casal. De mãos dadas desceram até o planeta Terra. Viu-os flutuando na atmosfera entre a poluição reinante. Com uma velocidade espantosa, rodou por todo o planeta. Em cada lugar que passava notou uma transformação impressionante. A terra, a cada giro do casal, mudava a sua “pele”, a sua constituição física e moral. Até que tudo era limpo, sem mácula e uma paz imensurável reinava entre todos os seres, todos de seis dedos. Não havia mais os humanos tradicionais de cinco dedos. Antes das imagens desaparecerem de seus olhos, viu seu pai e sua mãe de mãos dadas, de olhos fixos nele, cada um com um sorriso cativante. Então se viu novamente em frente a Sued. Este pousou a mão em seu ombro direito. Sentiu uma paz tamanha como nunca havia sentido na vida. Queria sair dali correndo em disparada e contar a todo o mundo a felicidade que lhe dominava. Mas se conteve, acalmando-se. Ficou sereno, olhando para a face de Sued. Algumas lágrimas desceram morosamente. Emocionado, perguntou:

– Por que não poupas a minha mãe?

– Amamos a todos vocês, sem exceção, com a mesma intensidade. O problema da sua mãe é hereditário. Ela contribuiria para a povoação da nova Terra, mas foi descartada pelo motivo apresentado. Por isso não devemos mais interferir em seu ciclo biológico. Como você e suas irmãs, também sentimos muito.

– Oh, louvado seja Sued, tudo bem que ela não pode mais contribuir com a geração de novos seres, mas o senhor ainda não conseguiu perceber a força psicológica que minha mãe possui. Vai ser um baque enorme para nós. Por causa da morte de meu pai ela está mais agarrada a nós e lutará como uma leoa para nos proteger. E, o mais importante, sem ela talvez eu e as irmãs não tenhamos estrutura para suportar.

– Sem risco, vocês três foram muito bem estudados, são fortes.

– Nossa força tem um limite. Perder o pai nos dirimiu um pouco dessa força. Nossa mãe é que nos amparou. Muito pior será perder a mulher que nos amparou sabendo que vocês podem evitar. Sem ela, talvez não tenhamos a força suficiente para continuar.

– Neste caso, seremos obrigados a abandoná-los e considerar como outro acidente de percurso.

– Neste caso, o que aconteceria conosco?

– Sofreriam uma lavagem cerebral, nada mais, e nada mais se lembrariam.

– Em compensação, teriam um grande atraso no projeto.

– Tempo é o que não nos falta. Atente bem para a real situação, Januário, vocês têm nas mãos a chance de serem os precursores de uma nova raça. Vocês…

– É um preço muito alto, meu bom Sued.  Dói no coração saber que podem curar a minha mãe, mas não vão fazê-lo porque ela não vai poder contribuir na geração da nova raça. Ela é forte, muito forte, e mesmo não gerando seria um escudo poderoso para nós. Desculpe Sued, perdoa a minha insolência, mas ela perdeu o marido por causa de vocês. Será que Deus, pai de Jesus Cristo, agiria de maneira idêntica? Deus era justo. Enquanto Ele deixou o próprio filho ser crucificado e morto por nossa causa, vocês querem que minha mãe morra por causa de vocês. Bem diferente, sim?

– Meu rapaz, não é…

– Deus era bondoso e justo, tinha amor pelo homem. Isso é sentimento. Os senhores estão deixando transparecer que não têm sentimentos, preocupados unicamente com quem lhes possa ser útil na geração da nova raça.

– Januário, o seu antigo Deus não era tão bondoso e justo como você afirma. Num gesto de ira destruiu a sua criação por vingança a seu oponente. Você só conhece Deus através de palavras que ouviu de terceiros. Mas eu sou Deus tão poderoso quanto aquele Deus que você não conheceu. Eis aqui você diante de meu semblante, do semblante de Sued, aquele que fará surgir na face da Terra uma nova era. Este você conhece. Temos muito poder, imensos poderes, mas não somos oniscientes e muito menos onipresentes, tanto quanto não era também o pai de Jesus Cristo. Vocês afirmam categoricamente que a morte do filho foi decidida pelo Pai em prol da humanidade. Alguém escreveu, e todos concordaram. Mas não foi bem assim. Na realidade, o Pai não teve forças para salvar o filho, tanto que na cruz ele preguntou porque foi abandonado. Vocês têm uma arte denominada Cinema. Nesta arte, um grande comandante de nome John Ford dirigiu uma história chamada “O homem que matou o facínora”. Nesta arte, há uma grande verdade que se aplica à morte de Jesus Cristo: “Quando a lenda torna-se maior do que a realidade, imprime-se a lenda”. Foi isso que aconteceu. Deus foi cantado em prosa e verso como infalível, entretanto não deixou de evitar sangrentos combates, matou inconteste um rapaz porque ejaculou fora da mulher. Quantos massacres permitiu pelas mãos de seus protegidos? Quantas vezes precisou estar presente num determinado local para verificar a realidade dos fatos, como bem descreve o livro sagrado de vocês nos casos da torre de Babel e de momentos antes da destruição de Sodoma e Gomorra. Como Deus onisciente e onipresente não haveria a necessidade de sua presença no local. Portanto, Deus não era tão onisciente e onipresente quanto afirma a crença de vocês. Um outro exemplar daquela arte chamada Cinema nos mostra uma luz. No exemplo de nome “Cadáveres Ilustres”, comandado por Francesco Rosi, está a mensagem: “A verdade nem sempre é revolucionária”. Posso garantir que esta é a grande mensagem do livro sagrado de vocês. Januário, por que lhe caiu o semblante?

– É tudo muito confuso. Por que tudo relacionado a um Deus é sempre envolvido por uma redoma de mistérios e parábolas? Por que não a transparência de fatos e ações?

– Realidade, eis a chave da questão. Você nos considera rodeados por uma redoma de mistérios e parábolas? Quer transparência melhor do que o colar e seus poderes? Quer transparência melhor do que o aparelho que cicatriza feridas? Quer transparência melhor do que a nossa presença aqui? Venha, nos toque. Veja como somos reais, de carne e osso como você. No que somos diferentes? Somos Deuses, temos poderes que vocês não possuem. Se eu disser “suma daqui” com certeza você sumirá. Se você me disser “suma daqui” nada ocorrerá. Eis a diferença: poder. Nós, os Deuses, temos poder. Vocês, humanos, nada. Sem nós, vocês humanos são absolutamente nada. Somente aqueles que se unirem a nós se verão transformados como nós. Aqueles que realizarem os nossos desejos serão Deuses como nós perante os humanos. Todos os pazolianos terão poderes idênticos. Serão uma casta de seres superiores com igualdade de direitos e deveres. Vá, Januário, erga a cabeça e encare o seu desafio.

– Mil vezes desculpas pela minha insolência, Sued, mas eu e minhas irmãs não podemos ficar sem a nossa mãe nesse momento. Ela é jovem, tem muitos e muitos anos ainda pela frente. Ela é a nossa segurança, a nossa escora. Sem ela, talvez não tenhamos a força suficiente para continuarmos.

– Você faz tanta questão assim?

– Tenho certeza de que sem ela ao nosso lado nós três não conseguiremos executar o projeto.

– Intolerância não fará parte do dicionário da nova raça. Já que você faz tanta questão, que seja, curaremos a sua mãe e que ela seja parte do projeto. Será, então, o cajado de vocês três. Há ainda alguma dúvida?

– Não tenho como descrever a satisfação que nos proporcionou. Veja, minha mãe está tão emocionada que não consegue pronunciar uma única palavra. Veja, louvado seja Sued, veja como estão felizes as minhas irmãs. Olhe bem para mim, sinta a força que brota em meu coração. Estamos prontos para abandonar todos os nossos antigos dogmas e iniciar imediatamente a nova era.

– Ó filho de minha serva! A orientação sempre tem sido dada através de palavras, mas agora é dada por ações. Cada um deve manifestar ações que sejam puras e santas, pois palavras pertencem a todos, igualmente, mas ações como estas são próprias só de Nossos bem-amados. Esforçai-vos, então, de coração e alma, a fim de que vos distinguirdes pelos vossos atos. Assim Nós vos aconselhamos nesta Epístola santa e resplandecente¹. Estamos agora totalmente preparados. Nenhuma tecnologia deste planeta detectará as nossas bases, isto é, a nossa morada celestial. Este colar é diferente daquele outro. Também não será detectado. Eis aqui também um novo Osorgalim, que igualmente não será detectado. Dos céus, estaremos monitorando todos os seus passos, pronto para entrar em ação quando qualquer risco se lhes apresentar. Terá constantemente um contato em terra. Se lhe apresentar com nossas características vestes prateadas, não será observado por nenhum ser humano. Se lhe apresentar como um cidadão qualquer, ele usará a senha “adivavon”. Memorize esta senha.

– Louvado seja Sued por tudo o que nos apresentou, louvado seja Sued por salvar a minha mãe. Por favor, sane algumas dúvidas que tenho na mente. As minhas irmãs não poderão ter parceiros terráqueos? Após o nascimento do primeiro pazoliano, que você determinou que se chamará Asued, o que acontecerá?

– Em hipótese alguma Mara e Sofia poderão se relacionar sexualmente com humanos, gerarão filhos por exclusiva obra de Sued. Quando chegar o momento determinado, serão devidamente informados.

– O senhor disse que eu terei um anjo fêmea como companheira. Isso significa, de acordo com a metodologia usada com as irmãs, que não poderei ter uma mulher terráquea por esposa?

– Sabemos que você está prestes a iniciar um namoro com uma terráquea. Não prossiga. Brevemente um anjo fêmea descerá à Terra para ser a sua companheira. Não se preocupe, pois nossos exemplares são constituídos de muita beleza, você não se arrependerá. Ela, inclusive, já lhe conhece por imagens. E adianto-lhe: gostou de teu semblante e de sua postura.

– Mas… mas… e quanto aos…aos…

– Aos seis dedos? Ora, quanto à beleza de um todo não será um reles detalhe que te preocupará, certo?

– O senhor apagou da mente do povo da Vila as lembranças sobre tudo o que aconteceu. Como devemos proceder de agora em diante?

– Aos poucos, use o colar para converter quem lhe interesse. Dentre a população, separe aqueles possuidores de caráter e que não tenham nenhuma disfunção orgânica ou genética. Estes serão o seu braço direito, aqueles mais próximos, mas jamais irão participar de cruzamentos. Bem, todo aquele que você julgar compatível com o projeto, use o colar para convertê-lo. Espero que encontre o maior número possível. Quanto mais gente, melhor. Se considerar que toda a Vila deva ser convertida, fica a seu critério. E repetindo, lá de cima estaremos atentos no monitoramento, para que nenhum incauto possa nos causar algum tipo de empecilho.

– Lembrei-me agora do Padre Alaor.

– Sim, esperávamos que falasse dele. Como já foi comentado, ele estava ausente da Vila na noite em que trabalhamos as mentes da população. Por opção nossa, deixamos assim. Estávamos estudando os seus movimentos, principalmente em seus encontros com o Bispo Ednando. Já ficamos sabendo do necessário. Nada que nos ofereça risco. Se você considerar conveniente, poderá convertê-lo.

– Sim, vale muito a pena, pois é um homem muito inteligente.

– Além do mais, se não for convertido, por ser representante do Vaticano poderá se converter num inimigo poderoso. Quando os primeiros sinais da nova era se apresentarem, com certeza ele se rebelará contra vocês.

– Seria agora o momento propício para a sua conversão?

– Acredito que sim. Como você mesmo disse e como também verificamos em nossos monitoramentos, é um ser humano muito inteligente e perspicaz. Pensando bem, nos será muito proveitoso, por causa de seu poder de convencimento. Então, converta o Padre. Repare bem nas pessoas mais próximas, pois queremos apenas aqueles que tenham os fenótipos adequados. Da genética, cuidamos nós.

– Neste caso, vou usar o colar para convertê-lo imediatamente. Poderá, realmente, nos ser muito útil.

– Faça-o.

– No geral, há preferência por raças?

– Não. Fora vocês, os escolhidos, nenhum ser humano terá participação sexual na nova raça. Portanto, não importa se é branco, negro, amarelo, pardo ou o que for, pois serão meros colaboradores. É evidente, porém, e não podemos fugir disso, que a nossa raça é branca, quase albina. Portanto, a raça pazoliana será caracterizada pela mesma cor que apresentamos hoje, não havendo nisso nenhuma atitude racista. Mas, quanto aos colaboradores, escolha-os pelo caráter. Entre os brancos humanos, há os bons e os ruins. Entre os negros humanos, há os bons e os ruins, assim como em todas as raças. Só nos interessa a sua integridade moral para servir de parâmetro aos outros. O colar vai lhe ser de grande valia para identificar quem é bom ou ruim, independente da raça. Não se preocupe com dúvidas. Todas elas serão sanadas por nós através do colar. Na verdade não precisas de tanto cuidado, pois o colar, ao converter o humano, o transforma radicalmente. Mesmo assim, você é quem decide. Mais alguma dúvida?

– Quando vocês curarão a minha mãe?

– Bem lembrado, meu bom Januário. Amanhã Etnaduja descerá até a sua casa para, com o seu poder, livrar Dona Mabélia do câncer. Agora, levantem-se e cheguem a Sued. Ó filho do homem! Minha eternidade é Minha criação; a ti a destinei. Faze-a a vestimenta de teu templo. Minha unidade é obra de Minhas mãos: elaborei-a para teu bem. Adorna-te com ela, a fim de que sejas, por toda a eternidade, a revelação de Meu Ser. Ó filho da beleza! Por Meu Espírito e Meu favor! Por minha misericórdia e Minha beleza! Tudo o que tenho revelado a ti com a língua do poder e escrito com a pena da grandeza, estava de acordo com a tua capacidade e compreensão, e não com Meu estado ou a melodia de Minha voz. Ó vós, filhos do espírito! Sois meu tesouro, pois em vós entesourei as pérolas de Meus mistérios e as joias de Meu conhecimento. Guardai-as dos estranhos entre Meus servos e dos ímpios em meio a Meu povo¹.

Após estas palavras, Sued se despediu e saiu da sala. Etnaduja orientou a família, que estava demasiadamente emocionada, a se agrupar no meio do cômodo. Também se despediu e se afastou deles. Os Mantiqueira foram, então, teletransportados para casa. Era o pontapé inicial da Era Pazoliana. Como o combinado, no outro dia o anjo de Sued, com o seu poder, obviamente usando a tecnologia do aparelho Osorgalim, debeleu o câncer uterino de Mabélia, para imensa satisfação de todos.

* 1: Do livro “As Palavras Ocultas de Bahá’U’Lláh”.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Desenho e montagem de Eitel Teixeira Dannemann.

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