GIVANILDO E SEU TÉTRICO PORTUGLÊS

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O Givanildo trabalha há muitos anos numa loja de calçados da Rua Major Gote. E como a maioria da população brasileira, adora injetar palavras inglesas em suas falas. Não há fala do Givanildo que não tenha pelo menos uma palavra em inglês. Foi ele um dos primeiros a convencer o patrão a escrever off nos cartazes ao invés de desconto, mas não conseguiu colocar um store na fachada da loja e nem sale na vitrina. Fã de pizza saboreada no conforto do lar, ele só pede a guloseima em comércios que tenham delivery, pois quem faz entrega em domicílio é pizzaria de fundo de quintal.

Para o Givanildo, que, por exemplo, costuma escrever e pronunciar berruga, largatixa, talba, bicabornato e bassoura, a língua portuguesa não tem charme, é chinfrim frente à língua inglesa. Por isso diz a todos os clientes e amigos que seus produtos são fashion, têm glamour, e não têm estilo, têm designer. E ainda faz questão de afirmar que a loja é uma startup, por ser inovadora nos modelos de sapatos. Em qualquer evento musical no Parque de Exposições, ele só vai se tiver open bar e open food. E se alguém lhe pergunta se comida e bebida estão incluídos no ingresso ele se enfurece dizendo que isso é em festa de roça. Amigo para ele sempre foi e sempre será brother, óbvio. Não se sabe se Givanildo é o maior defensor do portuglês na Cidade de Patos de Minas, pois a quantidade de adeptos é muito grande, todos sofredores do fatídico complexo de vira-lata do Nélson Rodrigues.

Certa tardezinha, chegando em casa, Givanildo presenciou o filho de seis anos brincando com um amiguinho com aquelas saudosas bolinhas de vidro que era mania entre a gurizada de antigamente. No outro dia, no intervalo de almoço, tratou de comprar um monte delas para presentear seu rebento. E foi nessa oportunidade que o homem se superou no portuglês. Chegando a uma tradicional mercearia lá no Mercado Municipal, para aparentar conhecimento, pegou um pedaço de papel, escreveu e entregou ao Nelito. Estava escrito:

– Quero duas dúzias de bolinhas the good!

Se o Nelito entendeu, não se sabe. O que se sabe, é que toda vez que o Givanildo se refere às bolinhas de gude, ele faz questão de escrever the good para transparecer à patuleia a sua sapiência.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 02/02/2013 com o título “Avenida Paracatu na Década de 1920”.

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