TEM DÓ, ANTÔNIO!

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Lá vinha o Antônio caminhando pela Rua Ponto Chic, no Bairro Vila Garcia, quando avistou-a. Ela, naquele exato momento, a mais bela mulher que seus olhos já avistaram até aquele data, véspera do Carnaval de 1988, que seria mais uma vez animado nas ruas pelo Clubinho Carnavalesco do Povo¹. Ele, magnetizado com a beldade, não passou despercebido, pois que a moçoila caprichou nos trejeitos. Depois de caminharem até a esquina com a Rua Ilídio Pereira da Fonseca, já no Bairro Nova Floresta, ele, com os olhos vidrados nela, e ela sempre com olhadelas de soslaio, eis que se viram frente a frente: Antônio e Ana. O papo foi tão aproveitável que marcaram encontro no início da festa do Rei Momo.

Era o tempo em que o Caiçaras, o Social e o PTC promoviam quatro noites de delírios. E também os blocos e os desfiles das Escolas de Samba, a Muda Brasil e a Acadêmicos do Samba, arrasavam nas ruas E depois dos desfiles vinha a alegria do povão, o Clubinho com a voz animadíssima do Tonhão Andrade com suas músicas que marcaram para sempre². E foi aí que o Antônio se encontrou com a sua musa. Foi delirante para ambos, com rebentos de paixões à flor da pele. Gamaram-se. Namoraram-se apaixonadamente e o trem varou o ano.

Mas eis que, ora Antônio, porque você fez isso? Enquanto a Ana sonhava com o corredor entre os bancos da Catedral de Santo Antônio, o Antônio não aguentou um olhar erótico da Matilda. E pimba. Com remorsos, jurou que nunca mais, que o amor de sua vida era a Ana. E a Ana, sabe-se lá como − mulher sabe de tudo −, descobriu a traição de seu amor. Incontinenti, terminou o namoro, e fim de papo.

Antônio sofreu muito, procurou Ana, mas não teve jeito: fim mesmo. Passado um ano, lá ia o Antônio caminhando pela Rua Ponto Chic quando avistou-a. Mesmo lugar quando a conheceu, quanta emoção. Ele correu até ela e, ajoelhado, pediu 480 mil perdões. Ela, resoluta, afirmou:

– Se você não tivesse me traído, hoje estaríamos casados e, quem sabe, com o nosso primeiro herdeiro.

O Antônio, santa paciência, se saiu com essa:

– É, e se você não tivesse descoberto, hoje estaríamos casados e, quem sabe, com o nosso primeiro herdeiro.

Com essa santa simplicidade, decretou-se eternamente o fim de um amor!

* 1: Leia “CCP − Clubinho Carnavalesco do Povo”.

* 2: Leia: “Carnaval de 1988: Do Tempo do Clubinho, dos Blocos e das Escolas de Samba”.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 02/02/2013 com o título “Avenida Paracatu na Década de 1920”.

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