AGIOTA, O

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Nunca faltou agiota em Patos de Minas, desde priscas eras, com características próprias de cada uma delas. Nos tempos do Sarney, por exemplo, havia um grupo que se aglomerava numa determinada esquina da Rua Major Gote, fazendo daquele ponto uma espécie de financeira ao ar livre. Ali, os pobres coitados desesperados por uma salvação, sempre deixavam um cheque pré-datado ou uma nota promissória como comprovante da dívida. O depois, por causa dos juros altíssimos, era um drama¹.

De lá para cá, com os remendos na economia e principalmente após o Plano Real, quando a inflação se estabilizou, foi o fim daquela turma citada, mas não da agiotagem. Hoje, há várias figurinhas carimbadas em alguns pontos carimbados esperando os fregueses. Dia desses, um amigo se aproximou de um deles iniciando um papo:

– Tenho um primo cego, honestíssimo, que está precisando urgente de 10 mil reais para fazer uma cirurgia no joelho. Dá pra emprestar? Ele paga os juros que precisar.

– Ora, já te falei que não estou mais emprestando dinheiro depois de tanto calote que levei, agora só desconto cheques.

– Fique tranquilo, daqui a 45 ou 60 dias ele vai ter o dinheiro, só que não pode esperar, pois se não fizer a cirurgia agora vai ficar aleijado.

– Depois de tanto calote eu jurei a mim mesmo que não mais emprestaria dinheiro.

– Pode emprestar, é seguro, e ele sabe assinar, é só direcionar a mão dele para o local.

– Tá bom, leva a promissória pra ele assinar, pra 45 dias, se quiser. E por favor, não me decepcione, pois se vier mais um calote vou ter um troço.

E assim foi feito. Exatos 44 dias após, o agiota alertou o amigo:

– Avisa o ceguinho que amanhã é o dia dele me pagar.

Chegado ao outro dia, o cego não pagou. O agiota, já desesperado, imaginando outro calote, ligou pro amigo:

– E aí, cara, cadê meu dinheiro?

– A operação foi um sucesso, ele já está andando normalmente e pediu pra te avisar que o dinheiro já foi liberado e na primeira oportunidade que te ver, vai acertar contigo.

No ato, o agiota desmaiou.

* 1: Leia “O fim da Turma do Injeitei”.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 02/02/2013 com o título “Avenida Paracatu na Década de 1920”.

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