PATOS, PROGRESSO E IRONIA

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TEXTO: JORNAL FOLHA DE PATOS (1941)

A ferocidade das terras patenses tem atraído de maneira estupenda a atenção de muita gente culta.

O “Campo Experimental de Sementes” e outras empresas propulsoras do progresso da pátria, na marcha célere para os pincaros da gloria, teem dado á minha terra natal posição de relevo entre as demais urbes regionais, e os olhos dos brasileiros convergem indagadores para esta cidade, engastada quase no Triângulo, espelho mágico, onde reflete a economia nacional.

Embora não tenhamos as graças de uma via férrea, o surto alígero do desenvolvimento de Patos, revela o dinamismo edificante, o espirito altruistico de que nos achamos imbuídos, o anelo inefavel de sermos uteis à pátria, de darmos ao Brasil desenvolvimento intelectual e economico, capaz de o tornar respeitado aos olhos gananciosos das grandes potências.

O acesso de forasteiros ilustres, idoneos e cultos, vem nos trazer o germen das ciências e o interesse espontâneo de crescermos na mente. Por isso, devemos acolhe-los hospitaleiramente.

Ultimamente, Lavras tem mandado grande numero de representantes.

Temos o grato e imenso prazer de receber o grande cultor da ciencia de Pitágoras, o eminente professor Fernando Camargos, figura bem distinta nos meios civilizados, cuja capacidade, se bem que rodeada de forte ninho de modéstia e de um caracteristico todo seu, todo particular − e bom humor que extende a todas as pessoas, o sorriso inapagavel nos lábios, fisionomia atraente, particularidade que cativa todos quantos com ele convivem − é, incontestavelmente, uma das maiores desse país.

Além dele, vieram, posteriormente, mais dois estudantes da Escola de Agronomia, esalianos¹ no nosso termo, empreender seus trabalhos nos campos de experimentação.

Vou traçar em linhas gerais a fisionomia de cada um.

O primeiro, Antonio Domingos Alves, rapaz de média estatura, “grâ-fino”, modernissimo, pode ser reconhecido facilmente por uma unica particularidade − usa um corte de cabelo bem semelhante às moças do escol social: usa topete, somente uma coroinha no alto da cabeça. Sendo carioca arrasta muito no s. Não lhe faltaram apelidos. Hoje ninguem o conhece por Antonio Alves, é o “Papa Goiaba”, o “Papinha”.

Não há de ser nada, eis o outro amigo.

Este é sério, nortista. Graças à ação causticante dos raios solares do nordeste, ficou bastante pigmentado − queimado do sol, na expressão comum. Não gosta de apodos nem alcunhas. Mas onde há amizade, há também liberdade. Manoel B. de Vasconcelos tem um apelido de que não gosta muito. Aliás, é uma multidão deles. Vou apenas mencionar a inicial de um dos seus pseudonimos. Todos o conhecemos em Lavras por… Manoel… Escuridão…

Bom, não quero dizer mais nada a respeito dos visitantes. O “Papa” tem uma porção de segredos que não se pode contar…

O “Escuridão” quer ver se arranja noiva aqui, mas exige uma porção de condições: que seja feia, rica e faladeira.

O meu maior desejo é que todos sáiam satisfeitos daqui, porque, vou ser franco, estou gostando deveras de todos eles.

Pena é que Ele não possa satisfazer seu intuito, pois aqui não há moças feias…

* 1: Ex-alunos da Escola Superior de Agricultura de Lavras (ESAL). Fundada em 1908 sob o lema do Instituto Gammon (“Dedicado à glória de Deus e ao Progresso Humano”), a Escola Agrícola de Lavras passou a ser chamada Escola Superior de Agricultura de Lavras (ESAL) em 1938. A federalização ocorreu em 1963. Foi em 1994 que a instituição tornou-se universidade, hoje conhecida como Universidade Federal de Lavras (UFLA).

* Fonte: Texto publicado com o título “Patos e seu Progresso” na coluna A Pedidos (assinada por Chico Mondrongo) na edição de 21 de dezembro de 1941 do jornal Folha de Patos, do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho, via Marialda Coury.

* Foto: Parte do texto original.

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