DEIXAREI SAUDADE − 129

Postado por e arquivado em 2020, DÉCADA DE 2020, FOTOS.

Lá se foi a lanchonete que funcionava dentro de mim por causa desse tal de coronavírus. Ouvi que classificaram os comércios em essenciais e não essenciais. Para evitar ajuntamento de pessoas, os entendidos no assunto decidiram fechar os não essenciais. Enquanto os daqui tremeram nas bases de raiva eu penso com minhas paredes: − Uai, sô, onde junta mais pessoas, aqui nessa humilde lanchonete ou num supermercado? Pois é, então foi fechada a lanchonete e eu, deveras veterana nessa esquina¹, agora estou sozinha. Bem, os humanos que se entendam, pois meu problema é outro. Olhe aí atrás de mim. Esse é meu problema, o meu dilema, a minha crise existencial. É cada canudo de prédio ocupando os lugares de minhas semelhantes, sem dó nem piedade, como se não representássemos nada para a Cidade. Ora, todas nós fazemos parte da História de Patos de Minas, isso é indiscutível. Eu fui construída antes daquele hospital e aconcheguei muitas almas. E agora, esperar a minha vez? Enquanto a lanchonete estava na ativa, eu ia controlando minha ansiedade. Agora, sozinha, ouvindo barulho de casa sendo desmoronada, como não esperar o pior? Este verso da música “Peso dos Anos”, de Walter Rosa e Candeia, que ouvi centenas de vezes, fala por mim: Sinto que o peso dos anos me invade, vejo o tempo entregar à distância minha mocidade. Oportunamente partirei abandonando as coisas naturais, mas deixarei saudade!

* 1: O imóvel localiza-se à Rua Dr. Marcolino esquina com sua colega Pará.

* Texto e foto (12/07/2020): Eitel Teixeira Dannemann.

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